domingo, 20 de novembro de 2011

Falando sozinho

Os dois estão sentados no sofá assistindo televisão.
- Aí... Tava aqui pensando...
- O que?
- Ah... Nada não, esquece.
- Começou a falar, agora fala.
- Mas eu não comecei a falar, só disse que tava pensando.
- Mas o que você tava pensando?
- É besteira.
- Fala!
- Esquece continua assistindo.
- Não quero mais assistir. – fala e desliga a TV – Quero saber o que você estava pensando!
- Não era nada demais. – Liga a TV – assiste lá!
- Não tem problema. Quero saber o que é. – Desliga a TV.
- Eu já esqueci. – Liga a TV.
- Fala... Eu quero saber. – Desliga a TV e tira as pilhas do controle – Se não depois você fica falando que eu não ligo pra sua opinião.
- Mas não é minha opinião, era só um pensamento. Da as pilhas.
- Só depois que você me contar o que tava pensando.
- Não era nada demais. Da as pilhas aí amor.
- O que você tava pensando.
- Aí Cleiton que chato.
- Só falar.
Silencio.
- Fala!
- Aí... Tava pensando: to com uma vontade de comer um doce, bem que você poderia ir comprar um sorvete pra gente.
Mais um silêncio.
- O que, era isso?
- Sim. – pega as pilhas da mão dele, coloca no controle e liga a TV.
- Não acredito.
- Era isso, eu disse que era besteira.
- Eu pensei que você tava falando que era besteira pra não precisar falar.
- Não era besteira mesmo.
Silencio.
- E aí o que você acha?
- Do que?
- De ir lá comprar um sorvetinho pra gente.
- Ah eu to assistindo, né! – fala sem tirar os olhos da TV.
Ela pega o controle, desliga a TV e tira as pilhas.
- Pra saber o que eu tava pensando você não tava assistindo, né.

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O pai para na porta do quarto do filho, que está jogando vídeo game e nem da atenção.
- Filho vem cá. – assente com a cabeça.
- Agora pai? – pergunta sem nem mesmo olhar para o pai.
- Não semana que vem.
Silencio.
- Filho.
- Ãhm?
- Vem!
- Onde? – sem tirar os olhos da tela.
- Cá!?
- Mas eu to jogando.
- Não quero saber o que você ta fazendo, quero que você venha.
- Espera aí.
- Espera o que?
- Espera só eu salvar.
- Salvar o que? Você virou herói e ninguém me avisou.
- Salvar o jogo.
- Acho melhor vir agora se não você vai ter que arrumar alguém pra TI salvar.
- Ta bom, to indo...
Silencio.
- Pedro.
- O que?
- Vou ter que falar de novo?
- Falar de novo o que? – apertando os botões cada vez com mais força, e ainda sem olha para o pai.
- Que é pra você vir aqui.
- Mas eu já to indo.
- É pra vir já!
- É a ultima fase.
- É meu ultimo aviso.
- Se eu desligar agora perco todo jogo.
- Se você não vir agora você vai perder o vídeo-game.
- Ta bom. – vai em direção ao vídeo game mas ainda jogando.
- E aí.
- Espera aí... Espera aí... Espera aí...
- Eu já to esperando a tempo demais.
- Só mais um pouquinho, mais um pouquinho, mais um pouquiii...
O pai entra no quarto e desliga vídeo game.
- Pai! – grita o filho.
- Filho.
- Porque você fez isso? Era o ultimo chefão.
- Não, não. Eu sou o chefão aqui. Agora vem! – sai do quarto com ar de superior.

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O marido escuta a mulher conversando com alguém ao entrar na cozinha.
- Com quem você estava falando?
- Oi?
- Você, estava falando com quem?
- No celular, com a Meire.
- Ué, mas seu celular ta la na sala.
Silencio.
- Você estava falando sozinha, de novo?
- Não. Eu tava falando com a gata.
A gata entra na cozinha se espreguiçando como se tivesse acordado de um sono de mil anos.
- Com ela?
- Porque você quer saber com quem eu tava falando?
- Porque eu quero saber se a minha mulher ta ficando louca.
- Desde quando falar sozinho é sinal de loucura?
- Não sei, desde sempre!
- Aí nada a ver. Eu não tenho culpa se meu marido não conversa comigo.
- Ei, não vem jogar a culpa da sua loucura em mim.
- Que loucura? Eu só tava pensando alto. E outra se eu tiver ficando louca pode ter certeza que você vai ser o primeiro a saber.
- Ta bom desculpa. – Sai da cozinha resmungando. – E o primeiro a fugir!
- O que você disse aí?
- Nada, tava pensando alto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Bola fora

No mercado
- Opa e aí Paulo...
- Pedro...
- Não eu sou o Junior, não lembra de mim, colégio e tals...
- Sim lembro, to falando eu sou Pedro não Paulo...
- Pedro, Paulo tudo apóstolos... Quanto tempo hein...
- Pois é faz um tempo...
- Quanto mais ou menos?
- Ah, um tempão.
- Pois é faz tempo!
Silencio
- E aí o que anda aprontando?
- Ah nada demais, só correndo.
- É, a correria não para!
- E você?
- Correndo também.
- É não é fácil.
- Não é pra ninguém...
- Pra ninguém.
- Ninguém...
Mais um silencio.
- E a mulherada? Ãhm? Você era garanhão, todo mundo dizia que você não ia casar nunca.
- Casei!
- Meus parabéns...
- Valeu!
- E você e a Jennifer estão juntos ainda? Eram um casal inseparável, todo mundo tinha inveja...
- Nos divorciamos...
- Hum, acontece né, a vida é assim mesmo, bola pra frente.
- É!
Silencio
- E o futebolzinho? Você era bom hein... Foi o melhor lateral que eu já conheci!
- Eu jogava de gol.
- Isso melhor goleiro, melhor goleiro!
- Não jogo mais...
Silencio, novamente.
- E aí já teve filhos? Tem cara de quem já tem pelo menos uns 3...
- Descobri recentemente que sou estéril.
- Ah filho pra que né só enchem o saco... Não ta perdendo nada, só dão trabalho!
- To querendo adotar um!
- Eu ia te dar essa dica, adotar, pai é o que cria não o que esquece na escola, ou alguma coisa assim.
- Atenção senhor Leandro, senhor Leandro, a senhora Flavia te espera no caixa três.
- Ih não da mais pra se esconder te descobriram! É a policia... Mulher no mercado é assim mesmo... Não da nem pra se esconder...
- É a minha sogra!
- Pior ainda... se quiser te dou cobertura – fala e cai na gargalhada.
- Ela é deficiente...
- Hum... – todo sem graça.
- Melhor eu ir indo. – já saindo fora.
- Ah eu tenho que ir também...
- Abraço... Da um abraço na sogra!
- Abraço. – sai.
Chega uma mulher.
- Com quem você tava conversando?
- Ah era um amigo meu do tempo do colégio.
- Ah é... Teu chegado?
- Um dos meus melhores amigo.
- Ah então vamos lá convidar ele pra ir lá em casa jantar com a gente.
- Ih não dá?
- Por quê? É conhecido seu, você tem tão poucos amigos amor.
- Porque, por que... Ei eu não tenho poucos amigos!
- Ah não? Cita três pra mim. – para com a mão na cintura, e batendo o pé como toda mulher faz ao desafiar o marido.
- Tem o Kleber.
- Ele não é teu amigo, é teu colega.
- E qual é a diferença?
- Amigo é chegado, colega não.
- Ta bom, tem o Peter.
- Colega.
- Jeff.
- Colega de futebol.
- Ta bom ele não era meu amigo, era só um conhecido da época de colégio que eu queria ver se conseguia reatar alguma coisa pra ter um amigo.
- Mas você não tem jeito mesmo, fica mentindo me enchendo de esperança achando que você tinha encontrado alguém. Vou te contar. – pega o carrinho de compra e vai embora.

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No meio da noite ele é pego com a boca na butija atacando a geladeira.
- A-Rá! Muito bonito.
- O que, o que foi? – jogando as comidas pra cima.
- O que você pensa que está fazendo?
- O que eu estava fazendo?
- Eu perguntei primeiro.
- Eu não sei...
- Não se faça de bobo Roberto.
- Não estou me fazendo de bobo, juro que eu não sei o que eu to fazendo aqui.
- A você não sabe?
- Não!
- Não?
- Não!
- Então deixa eu explicar. Você estava assaltando a geladeira, de novo.
- Sério?
- Ah, toma vergonha nessa cara.
- Juro que eu não sei como eu vim parar aqui.
- De novo essa do sonâmbulo?
- Dessa vez não é mentira.
- Das outras três vezes também não era.
- Aquelas eram, mas agora não é.
- Roberto...
- Juro! Deitei e dormi como sempre. Não sei como vim parar aqui.
- Como eu vou acreditar em você?
- Porque eu mentiria sobre uma mesma coisa, de novo?
- Porque você é um cara de pau.
- Tirando isso?
- Porque você não tem um pingo de vergonha na cara!
- Ta bom, não tenho credibilidade, mas juro que dessa vez é verdade.
- Roberto.
- Juro. A ultima coisa que eu lembro é de estar deitado na cama.
- É eu também, você estava deitado lá quando eu peguei no sono, então acordei pra vir tomar uma água e dei de cara com você!
- Pera aí porque veio até a cozinha tomar água se temos do lado da cama.
- Oi?
- Você veio aqui assaltar a geladeira também?
- Quem eu...
- Não eu...
- Eu vim te procurar...
- Procurar? Acabou de falar que tinha vindo buscar água!
- Não muda de assunto, você é quem está errado, não fui eu quem foi pego dentro da geladeira.
- Não foi porque eu vim antes.
- Então você não estava sonâmbulo coisa nenhuma.
- Quem ta mudando de assunto agora é você.
- Não acredito que eu quase cai nesse papo de sonambulismo de novo. Mas faz isso, continua assaltando a geladeira a noite que você vai muito longe, você ouviu o que o médico Roberto, você ouviu. Agora da licença que eu vou pegar o pudim porque eu estou estressada. – tira ele de dentro da geladeira e o empurra para o sofá.
- Boa desculpa. – resmunga.
- O que você disse?
- Nada.
- Olha eu só não mando você dormir na sala porque é mais perto da cozinha. – fala, vira as costas e vai em direção ao quarto. – Vem pro quarto.
- To indo vou tomar um copo de água.
- Tem água aqui no quarto. – Grita da cama.