sábado, 7 de setembro de 2013

Independência ou Morte?

E então, as margens do rio Ipiranga, em frente aos milhares de manifestantes, Dom Pedro gritou:
- Independência ou morte.
- Morte.
- Oi?
- você pediu para eu escolher, eu escolhi. Morte.
- Pera aí, mas foi uma pergunta retorica, não era pra responder. Alias nem foi uma pergunta.
- Olha, pra mim pareceu uma pergunta: independência ou morte?
- Não, foi uma afirmação.
- Pior ainda, você está afirmando que é uma ou outra.
- Ta, mas eu falei meio aleatório aqui. Calor do momento, varias pessoas em volta. Nem pensei.
- Mas agora já falou.
- Ta bom, falei, falei. Eu admito. Mas da pra voltar atrás?
- da até dá. Mas vai ter que rolar um fortalece.
- Oi?
- Um cafezinho, aquela ajuda de custo.
- O senhor ta pedindo para eu pagar propina.
- Não, eu não. você que pediu outra opção. Eu estou dando. Se não quiser, podemos ficar com a morte.
- Não. Não. Não precisa.
- Ok.
- Quanto você estava pensando que sairia esse café ai?
- Não sei, ai vai de você. Eu não estou pedindo nada, você que vai me dar.
- Tenho 50 conto.
- Oi?
- 100?
- O senhor está de brincadeira comigo.
- Ta, desculpa, to brincando, escreve aqui quanto você quer.
Entrega uma pena e um pedaço de papel.
- 2 milhões. 2 milhões de libras? Ai você me quebra. Puta cafezinho caro.
- Pois é, no Brasil ta tudo caro.
- Não da pra negociar.
- Se o senhor acha que da pra negociar a independência.
- Ok, ok, vamos fechar nisso antes que você aumente. Só um pouco vou falar com uns amigos ingleses meu.
E assim o Brasil conseguiu a sua independência.

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- Dom Pedro onde o senhor pensa que vai?
- Declarar a independência do Brasil.
- Com quem?
- Vai uma galera.
- Mas precisa ir todo arrumado assim.
- É que vão tirar fotos.
- Pra que fotos?
- Para colocar nos livros de história.

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- Independência ou morte.
- O que ele disse?
- Acho que foi: Independência ou norte.
- Independência ou norte?
- Mas não faz sentido.
- Pergunta para o cara ai da frente.
Cutuca o homem da frente.
- O que foi que ele disse mesmo?
- Independência ou morte.
- Morte?
- Morte?
- Sim.

- Ih cacete. Vamos embora que isso não vai prestar.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Como termina

Ela olha no fundo dos olhos dele, não diz nada, parece já ter dito tudo.
- Então é isso. Você quer mesmo terminar?
Silencio.
- Não.
- Não?
- Não, você que quer.
- Eu?
- É.
- Eu não. Foi você que disse que não dava mais.
- Sim, eu disse. E não da mesmo. Do jeito que ta não dá.
- Então, é você quem quer terminar. Não eu.
- Não, eu não quero. Mas eu também quero que você não queira.
- Oi?
- Você não faz nada para mudar e não fez nada para me impedir, então quer dizer que você quer.
- Não, eu não quero, não joga a responsabilidade pra mim. Eu não quero, quer dizer eu quero. Cacete. Calma. Eu quero continuar e não quero terminar. Você quer, você veio com isso do nada.
- Não foi do nada, eu estava pensando.
- Você não estava pensando, tava falando. Pensamento a gente não ouve. Pensamento é mudo, silencioso. Você falou: acho melhor a gente terminar.
- Tava pensando alto.
- Falando.
- Ok. Falando, pensando alto, tudo a mesma coisa.
Silencio.
- E então?
Ele fica olhando para ela.
- Você quer terminar ou não?
- Não.
Ele respira aliviado, da um beijo nela, levanta da mesa.
- Eu quero que você faça alguma coisa pra eu não terminar. Reaja.
- Mas você acabou de dizer que não quer terminar.
- E não quero mesmo.
- Então?
- Então faça alguma coisa antes que eu mude de idéia e resolva querer terminar mesmo.
- Mas e se você achar que está querendo terminar, mas na verdade for só mais um surto?
- Ai nós só vamos descobrir quando já tivermos terminado.
- E quando você descobrir nós voltamos?
- Pode ser que sim.
Ele sorri e vai saindo.
- Mas eu posso demorar a descobrir.
Ele grita lá do outro comodo.
- Não tem problema, eu espero.

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Depois de 26 anos morando com os pais, ele vai sair de casa pela primeira vez, para morar com a atual namorada. Os dois, ele e ela, estão juntando os últimos pertences dele na casa nova casa antiga, ela acha uma caixa de papelão com alguns pertences.
- O que é isso?
Ele está entretido com os brinquedos, viajando no passado.
- Isso o quê?
- Essas coisas nessa caixa.
Ele olha rapidamente e volta a viajar.
- Não é nada.
- O que é?
- São coisas de ex namoradas.
- Ex-namoradas?
- É, pertences.
- Nossa, mas tem bastante coisa aqui.
- Pois é.
- Quantas namoradas você teve.
- Amor, não importa, o que importa é que eu tenho você.
- Ta, mas porque você guarda as coisas das ex’s numa caixa, que espécie de fetiche é esse.
- Não foi por querer, iam esquecendo eu ia jogando ai dentro.
- De qual delas era esse blusinha?
- Não lembro.
Ele continua a mexer na caixa de brinquedos, mas agora por medo de olhar para a fera.
- De quem?
- Amor.
- E esses DVD’s?
- Clarisse.
- Livros, brincos, pulseiras, lenços. Caramba quantas namoradas você teve?
- Não eram namoradas, eram passageiras.
- Passageiras... então pelo jeito aqui é o achados e perdidos.
Ele ri para tentar amenizar o clima. Ela fica séria.
- De quem é esse sutiã.
- Eu não me lembro de quem são essas coisas, eu só ia deixando ai, vamos jogar fora.
- De quem é esse sutiã.
Ele se volta lentamente para ela.
- Esse sutiã é seu.
- Meu?
- É, devo ter jogado ai sem querer.
- Não foi sem querer, foi por querer, foi seu inconsciente dizendo que você quer terminar comigo.
- Oi?
- Ok, eu entendi o recado.
Larga a caixa e vai saindo.
- Vou sair da sua vida.
Volta e coloca o sutiã na caixa.
- Ah agora o sutiã está no lugar certo, nos pertences das ex’s.

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Ele chega em casa, ela está com as malas prontas na sala.
- O que é isso amor, vamos viajar?
- Não.
- Então porque essas malas?
Deixa a pasta no sofá e vai dar um beijo na mulher, ela vira o rosto. Ao fundo da pra se ouvir a torcida gritando “OOOOLÉ”.
- Daniel eu vou embora.
- Embora?
- É. Eu vou te deixar.
- Me deixar?
- Sim. Eu te avisei.
- Me avisou?
- Sim.
- Amor, eu falei pra você parar de me pedir as coisas ou falar quando eu estou dormindo, concordo com tudo. To dormindo.
- Não falei quando você estava dormindo, falei quando estava acordado, bem acordado, varias vezes.
- Eu não me lembro.
Ela saca o celular e mostra varias gravações dela dizendo que qualquer hora iria embora.
“Daniel, é melhor você se espertar”. “Daniel, acorda, um dia você vai chegar em casa eu não vou estar mais aqui”. “Daniel, um dia você vai chegar vou estar com as minhas malas prontas”. “Daniel, Daniel...”.
- Mas eu achei que fosse TPM
- TPM de cinco anos?
Ele fica olhando para ela.
Ela pega as malas.
Se encaminha para a porta, sai. Ele só observa.
- Amor, chega.
Chama o elevador.
- Amor.
O elevador chega.
- Desculpa amor.
Ela entra no elevador.
- Amor chega de brincadeira, já conseguiu me assustar.
A porta do elevador fecha.
- Amor?
As horas e nada. Ele ainda está parado na porta.
Abre a porta do elevador. Ele se anima.
- Amor?
São os vizinhos.

Passam-se dias. Semanas. Meses. Anos. E ele ainda está na porta. Triste. Só se vê um esboço de sorriso no rosto dele quando alguém abre a porta do elevador.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Sem Vagas

Na estrada indo viajar. O pai está dirigindo, a mãe de copiloto, dormindo, e o filho atrás, entediado, já que o vídeo game portátil ficou sem bateria. Ele lê todas as placas as quais passa.

- Pai.
- Reinaldo, já está chegando.
- Que bom. Mas eu não ia perguntar isso.
- Ah não?
- Não.
- O que era então?
- Qual é a diferença de hotel e motel.
Por alguns segundos perde o controle e atropela umas tartarugas. Acorda a mulher.
- Já, chegamos, já chegamos?
- Ainda não. – responde o filho lá de trás.
A mulher olha para o marido e volta a dormir.
Silencio.
- E ai pai?
- O quê?
- Qual é a diferença?
- Qual é a diferença entre hotel e motel?
Silencio. Olha pelo retrovisor, o filho está esperando uma resposta.
- A diferença é uma letra. Um se escreve com H e o outro com M.
- Só?
- Só.
Silencio.
- Mas por que o um se escreve com H e o outro com M?
Mais algumas tartarugas.
- Eu to acordada. – a copiloto pula no banco.
Pai e filho olham para a mãe. Ela volta a dormir.
Silencio.
- Já sei.
- O quê?
- Porque um se escreve com H e o outro com M.
O pai pergunta com medo.
- Por quê?
- Por que Motel é pra menina. E hotel é para menino.
O pai respira aliviado.
Silencio.
- Pai!
- Oi?
Silencio.
- Falta muito?

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Passa das duas da manhã. Os dois param no hotel, no meio do nada, praticamente juntos. Ele no carro dele, ela no dela. Ela está indo visitar um amigo, ele está indo ver um cliente. A chuva forte mais a neblina faz com que os dois se encontrem ali lado a lado esperando para ser atendido.
Ele toca a sineta, daquelas antigas, mesmo o hotel não sendo tão antigo, toca pela décima vez, ela olha para ele com ar de reprovação. O recepcionista, que pela cara estava dormindo, vem lentamente.

- No que posso ajudar o casal.
- Não somos um casal.
- É não somos.
- Ok, no que posso ajudar, individualmente?
- Isso daqui é um hotel? – pergunta num tom irônico.
- Sim. – responde sem captar a ironia, ainda está no ritmo do sono.
- O que a gente iria querer as duas e meia da manhã.
- Ah!!!
Entra no sistema.
- Só tenho um quarto.
- Um?
- Um?
- Um. O hotel está lotado.
- Lotado? Esse hotel?
- Sim.
- Quem é que se hospeda no meio do nada.
- Congresso.
- Aqui que congresso?
- Sim, aqui. É secreto. O senhor veio para o congresso?
- Não.
- Então não posso falar.
Silencio.
- Ok, eu vou ficar com o quarto. – Ela fala interrompendo o silencio dos dois.
- Eu cheguei primeiro.
- Não, nós chegamos juntos.
- Ta, mas eu apertei a sineta primeiro.
- Eu teria apertado se você tivesse parado um segundo de apertar.
- Eu ouvi na primeira. – interrompe o recepcionista.
- E por que não veio?
- Achei que fosse um sonho.
Silencio.
- Deixa eu ficar, estou cansada.
- Eu também estou.
- Nossa, onde está o cavalheirismo?
- Eu nem te conheço.
- Desde quando para ser cavalheiro precisa conhecer?
- Ela está certa. – vem o recepcionista em defesa.
- Tem algum hotel aqui perto?
- Tem, vou dar uma ligada.
Vai para a salinha. Os dois ficam em silencio, o clima é mais pesado dentro do hotel do que fora. Alguns minutos depois o recepcionista retorna.
- É, todos lotados. Congresso.
- Mas que congresso é esse?
- A senhora veio para o congresso?
- Não.
- Então não posso falar.
Silencio.
- E agora?
- vocês podem dividir o quarto.
- Mas eu não conheço ele. Vai saber se ele não é um assassino.
- Ei, nem eu te conheço, vai saber se você não é uma assassina.
- A, devo ser mesmo.
O recepcionista já está irritado, e louco para voltar a dormir, interrompe.
- É, pelo jeito não vai poder ficar com nenhum dos dois.
- Como não, eu cheguei primeiro.
- Nós chegamos juntos.
- Ah, é que eu tinha visto errado, não tem mais nenhum quarto, eu achei que tinha mais estava enganado, sinto muito.
Fala e volta para a salinha, deixando os dois sozinhos na recepção.

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O hotel é um mundo deles, eles criaram aquilo, eles podem cobrar 9 reais numa agua. Os hotéis se mantem com o que é vendido no frigobar. Assim como o Bobs é sustentado pelo milk shake e os aeroportos pelos pães de queijo e cafezinho.
Eles não estão te obrigando a pegar, apenas deixando ao seu alcance.

O casal está sentado de frente para o frigobar.
- e se a gente abrisse só para ver o que tem dentro.
- Não. não.
- Mas amor.
- Mas amor é uma óva. Lembra da ultima vez que abrimos o frigobar quanto deu a conta.
- Mas é só pra ver...
- Não existe só pra ver. Se vermos vamos saber o que tem dentro, sabendo o que tem dentro ficaremos com vontade, não vamos dormir e acabar assaltando a geladeira a noite.
- Nossa amor, é só um frigobar.
- Não é só um frigobar. Não diga isso. Isso não é um frigobar. É a personificação do diabo em forma de uma mini-geladeira. Nós somos Jesus no deserto e o frigobar é o diabo nos oferecendo pão.
- Mas e se...
- Não tem mas, já falei!
Ele se revolta, vai até o telefone.
- O que você esta fazendo?
- Vou dar um jeito nisso agora.
Alguém atende do outro lado.
- Alo, gostaria de mudar de quarto... não, não, não aconteceu nada... é porque eu quero um quarto sem frigobar... não tem... nenhum? (silencio) Então faz o seguinte, fecha a conta para mim.
A mulher fica sem entender nada.
- Por que você fez isso.
- Não vou deixar ser tentado de novo. Vamos para outro lugar.
- Mas você vai gastar dinheiro pagando uma nova diária.

- Não tem problema, pelo menos vou vencer o frigobar... e outra a diária vai ser mais barata do que um refrigerante de frigobar.