sábado, 23 de junho de 2012

A mensagem


Inicio de noite, Marcus aproveita que está no comercial do jogo e vai a cozinha, pegar um copo de café com leite, quando aparece na janela um homem de saia branca, cachinhos e com uma corneta em mãos. Ele tenta sem sucesso fazer um solo com. Marcus fica olhando sem entender. O homem de saia vê que seu solo não está agradando então desisti.

- Que porra é essa?
- Marcus?
- Sim.
- Eu sou o Arcanjo Hanna.
- Hanna?
- É.
- Hanna não é nome de mulher?
- Mais ou menos.
- Não, Hanna é inteiro feminino.
- Ta, é. Mas fazer o que? E outra eu sou Arcanjo, não tenho sexo.
- Eu também não tenho faz tempo e nem por isso me chamam de Priscila!
Hanna fica olhando para Marcus com cara de quem não entendeu a piada.
- Você sabe que você pode mudar se quiser né?
- Sim, eu sei. Mas eu não quero. Gosto do meu nome.
- Então tá!
Ele vira as costas e vai saindo.
- Pera aí, onde você vai?
- Pra sala.
- Não, calma, eu tenho que te passar uma mensagem. Toca a corneta mais uma vez sem sucesso. Marcus só observa.
- O negócio é o seguinte...
- Não, eu não quero comprar nada não.
- Comprar?
- É, não to precisando.
- Não ta precisando do que?
- O que você está vendendo?
- Nada.
- A não?
- Não!
- Então o que você quer?
- Vim te trazer uma mensagem.
Toca a corneta. Mais desafinado do que das outras vezes.
- Mensagem tipo essas de aniversário. Não querendo desapontar quem enviou mas meu aniversário já passou.
- Não é de aniversário.
- Dia dos pais?
- Não!
- Ganhei algum prêmio.
- Não!
- Então o que é?
- É uma mensagem de Dele. – Fala e da uma olhada pra cima.
Marcus olha também pra ver o que ele está olhando.
- Dele quem?
- Deus.
- Rá-Rá-Rá... Ta bom então.
- É verdade.
- Ele poderia ter mandado uma mensagem de texto.
- Poderia, mas geralmente não acreditam que é ele quando recebem pelo celular.
- Ah ta. E quando é você acreditam?!
- Éééé...
- Ta bom amigão. – Fala e vai fechando a janela. – Meu café ta esfriando e o jogo já deve ter recomeçado.
- Ei peraí eu não dei a mensagem ainda.
Vai tocar a corneta, Marcus coloca a mão na frente.
- Nem precisa se dar ao trabalho, deve ser engano, eu sou ateu.
- Sim, eu sei que é.
- A sabe?
- Sei.
- Como?
- Ta escrito aqui. Marcus Ateu.
Mostra o papel para Marcus. Ele lê. Fica um silencio constrangedor. O Arcanjo fica sem jeito.
- E aí qual é a mensagem?
- Ah...
Tenta mais uma vez fazer um solo na corneta. Marcus observa e toma o café. Finalmente ele termina.
- Ele mandou avisar que não precisa se preocupar por que vai no fim vai dar tudo certo.
- Fim do que?
- Não sei.
- Como assim não sabe?
- Não sei. Só ta escrito isso: “não precisa se preocupar por que vai no fim vai dar tudo certo.”.
Mostra o papel de novo.
Silencio. Marcus fica de cabeça baixa tentando entender a mensagem.
Hanna tenta mais um solo de corneta. E sai.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Me bate


Os dois estão no quarto, se amassando.
- Isso vai, me agarra forte.
- Assim?
- É, isso... isso...
- Você gosta né?!
- Gosto... Puxa meu cabelo.
Ele puxa de leve.
- Isso... Agora bate na minha cara!
- Oi? – Ele para.
- Me bate. – Ela vai pra cima dele.
- Não, eu vou bater na sua cara.
- Bate.
- Então nas costas, me bate nas costas.
- Eu não vou bater em lugar nenhum.
- Nem na bunda?
- Não, eu sou contra a violência com as mulheres.
- Mas eu sou a favor, bate.
- Não, quantas mulheres não lutaram pra conseguir criar essa lei?
- Me joga na parede e me chama de Maria da Penha!
- Não, vai contra os meus princípios.
- Eu quero apanhar no principio, meio e no fim.
- Que isso...
Ela tira o cinto da calça dele.
- Toma, me bate de cinto.
- Nossa tira esse cinto daqui, eu tenho trauma de cinto, quando eu era criança meu pai me batia muito de cinto.
- Então finge que é seu pai e me bate.
- Quer parar de brincar com isso?!
Silencio. Voltam a se beijar. Ela puxa o cabelo dele.
- Aí meu cabelo.
- Você gosta é?
- Não!
- Ah não gosta?
- Não.
- Então desconta em mim. Me da um tapa, eu mereço por ter puxado seu cabelo.
- Eu não vou te bater.
- Bate vai. Uma porrada.
- Que porrada, você ta louca. Vai marcar seu rosto lindo.
- Então bate aqui nas costas ninguém vai ver a marca.
- Não, você ta louca, eu nunca dei porrada em ninguém.
- Então da em mim. Vai, finge que você é o Anderson Silva e eu sou o Sonnen e me da um murro.
- Eu não gosto de UFC é muito violento.
Ele fica quieto. Ela vem pra cima dele batendo no próprio rosto.
- Para, eu não vou te bater.
- A não vai?
- Não.
- Sua mãe é uma vaca.
- O que?
- É, é uma velha mal amada.
- Não fala assim da minha mãe.
- Não gostou? Me bate!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todos os Santos


Ela está numa igreja, sozinha, ajoelhada, de mãos juntas, de frente pra uma imagem.
- Santo Antonio eu quero muito arranjar um marido. Me ajuda...
- Por que?
Ela da uma olhada em volta. Não vê ninguém. Fecha os olhos.
- Me da uma força.
- Porque você quer um marido?
- Quem ta falando?
- Com que você está falando?
- Santo Antonio!
- Então cacete!
Silencio.
- É o senhor mesmo?
- Não é o São Jorge!
Ela da risada, ele fica em silencio.
- Por que você quer que eu te arranje um marido.
- Por que eu quero me casar!
- A vá?!
- Não, é que eu quero muito, meu sonho desde criança era arrumar um marido.
- Isso não é sonho é pesadelo.
- Peraí o senhor não é o Santo Casamenteiro.
- Sim.
- Então por que está falando assim?
- To sendo realista. Casar da muita dor de cabeça. O homem não ajuda em casa, não quer saber de nada.
- Não mais...
- Pensa bem, no começo é legal, mas uma hora cai na rotina.
- Sim, eu sei. Mas estou preparada.
- Não, não está preparada. Ninguém ta preparado para o casamento.
- Que isso, não fala assim!
- Falo sim, falo sim porque o que vem de gente me pedir pra ajudar a arranjar marido alegando que está pronto, que é o que quer, e depois na hora da pós-venda vem reclamar que não era bem isso o que queria não é pouco.
Silencio.
- E aí o senhor vai me ajudar?
Silencio.
- Eu pago promessa, subo as escadas de joelhos...
- O que é que eu ganho com você subindo escadas de joelhos? Não faz sentido nenhum fazer isso.
- Sei lá, foi o que me veio à cabeça.
- Caramba.
- Ta bom, faço outra coisa... Mas me arruma um bom marido.
- Opa, era só um marido, agora já é um bom marido.
- Sim, quero um bom marido, atencioso, trabalhador, engraçado, que me ame do jeito que eu sou...
- É acho que você deveria procurar o Santo Expedito.

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- São Longuinho, São Longuinho, se você me ajudar a encontrar as minhas chaves eu dou três pulinhos.
- Porra só três pulinhos?
Olha em volta.
- Pelo amor de Deus, você é muito mão de vaca. Economiza até nos pulinhos.
- Amor.
- Que amor o que, não tem ninguém em casa.
Silencio.
- E aí, não vai ir procurar suas chaves?
Silencio.
- Se você acha que eu vou procurar elas por três pulinhos está muito enganado.
- Cinco?
- Poxa é só pulinho. Eu faço um trabalhão só por pulinho, que até agora eu não sei o por que, qual foi o momento que alguém estipulou isso. Eu não tenho a mínima idéia de onde eu possa trocar isso. Eu vou comprar cigarro o atendente não aceita em pulinho. Alias ninguém aceita. Vai você fazer compras e tenta pagar em pulinhos, eles quebram suas pernas.
- Eu preciso sair.
- Então vai procurar a suas chaves.
- Me ajuda aí. Eu já procurei.
- Já procurou sim, nem deve ter procurado direito. Vocês tem a mania de fazer isso, só procura onde os olhos alcançam, aí já vem apelar pra mim. Não tenho um minuto de sossego. É celular, chave, roupas.
- Desculpa.
- Não desculpo, não desculpo. To cansado disso. Toda hora me chamam. E em troca eu ganho o que? Três pulinhos.
- Ta bom, deixa que eu procuro.
- Isso mesmo. Procura. Porque eu não vou levantar a bunda daqui. Não por três pulinhos. Alias se você achar, eu dou três pulinhos. Eu to cheio deles mesmo.

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São Jorge, Santo Expedito, Santo Antonio, São Longuinho e São Pedro, estão numa mesa de bar, chega a conta.

- E aí, a conta de hoje é de quem?
- Eu paguei a ultima.
- Ih lá vem o Jorge com história.
- É verdade, eu paguei.
- Aham e também foi pra lua.
Todos dão risada menos São Jorge.
- Deixa que o Longuinho paga com pulinhos.
- Ah não ninguém aceita isso.
- É a vez do Expedito pagar.
- Minha vez?
- Ih isso aí é impossível de se conseguir do Expedito.
- Esse daí tinha que ser o Santo dos Pão Duro.
Todos na mesa dão risada.
- Nego devia rezar de mão fechada pra ele.
- Por que eu tenho que pagar?
- Por que é assim, cada um paga uma semana.
- Mas é a primeira vez que a gente vem aqui.
- Então, vai ser assim. Cada um paga uma semana. Começa por você.
- Porque o Antônio não paga?
- Por que eu to duro. Você sabe como é essa época do carnaval, ninguém ta nem aí pra casamento.
- É, carnaval é foda. Ninguém ta nem aí pra nada.
- Não pra vocês, pra mim o que chega de oração pedindo pra não chover. É difícil segurar o rojão, por isso quarta de cinzas sempre chove to com serviço acumulado.
- Pra você não é ruim também, né Jorge?!
- Por quê?
- Porque o tanto de nego que tem se atracando com dragão é brincadeira, tudo seus devotos.
Todos na mesa riem. Dessa vez, menos São Jorge.
- Muito engraçado.
- Pra mim também não é tranquilo não. O que tem de gente me azucrinando pra achar as coisas antes de ir viajar, fantasia, chaves, pior é a camisinha, bem na hora do vamos ver.
Todos riem.
- Cade Paulo?
- Foi pular carnaval.
- Aquele lá não perde um carnaval também né!
- É do bloco das nuvens, participa com os anjos que se vestem de gay.
- Depois não sabe o porquê da fama.
- E aí, como vai ser? Quem vai pagar.
- Vamos rachar.
- Eu to sem minha carteira.
- Ih o velho golpe da carteira.
- Ficou na outra calça?
- Esse é velho hein!
- É sério, não ta comigo mesmo.
- Se não for dividir igual pra todo mundo eu também não vou pagar.
- Palavras de um pão duro!
- Amém.
Todos na mesa repetem o ‘amém’. Depois riem.
- Vamos colocar na conta do patrão.
- Isso vamos colocar na conta dele.
- Olha só o olhinho do Expedito, brilhou!
- Nada a ver.
- Beleza, vamos colocar na conta do patrão.
Todos levantam da mesa. Vão se direcionando para a porta. o garçom corre atrás deles.
- Espera aí, e a conta?
- Deus lhe pague.
Falam e vão embora.

sábado, 16 de junho de 2012

O banho


É um dia frio daqueles que dá-se um boi pra não entrar no banho e uma boiada pra não sair. Ele já está a dois dias sem tomar banho, então hoje tem que tomar. O jeito é aproveitar que não tem ninguém em casa e tomar um banho daqueles bem demorado, que pra é compensar os dias que deixou de tomar. Arruma as roupas que vão ser usadas depois do banho de uma maneira que não pegue nem um pouco de friagem. Enquanto isso o chuveiro já está ligado. Sabe como é chuveiro de pobre, tem que deixar pré-aquecer. A vapor que sai já cobre o banheiro de fumaça, ele tem que abrir uma porta na fumaça, igual nos desenhos animado pra poder entrar no box. Coloca a mão embaixo da agua pra ver se já está quente o suficiente pra que ele possa tirar a roupa. É a sua deixa. Tira a roupa com uma velocidade já mais vista e entra embaixo do chuveiro. Chega alguém em casa. É a mamãe.

Batem na porta do banheiro.
- Quem ta tomando banho?
- Oi?
- Quem é que ta no banho?
- Não entendi.

Cai a resistência.

- Anda logo!
- Eu acabei de entrar.

Liga o chuveiro e vai desligando aos poucos. O chuveiro dele é daqueles que tem que ir desligando aos poucos. Daqueles em que você tem que convencer ele que merece tomar banho. Essas desligadas aos poucos, é uma espécie de preliminar pra que a agua fique quente.
Aos pouco ele vai conseguindo arrancar agua quente da GorDucha.

Batem na porta.
- Cara você viu meu celular?
- Oi?
- Meu celular que tava ali em cima.
- Piscina.
- Meu celular.
- Nosso lar? Oi?

Ele se distrai com a conversa e desliga muito rápido, o chuveiro não perdoa e a luz cai novamente.

Batem na porta
- Anda logo.
- Eu acabei de entrar, nem me lavei.
- Sei.

Ele recomeça o jogo da conquista. Desligando aos poucos. Pulando pra se esquentar. A fumaça que sai da agua não condiz com a sua real temperatura. Aos poucos ela vai voltando a entrar no clima. Ele começa a se ensaboar.

Batem na porta, de novo.
- Abre a porta pra eu ir no banheiro.
- Oi.
- Eu preciso ir no banheiro.
- Dinheiro?
- Banheiro.
- O que é que tem?
- Eu preciso ir.
- Vai.
- Então abre.
- O que?
- Anda logo. – grita a mãe.
- Eu to me enxaguando.
- Já ta a uma hora debaixo desse chuveiro. Não é você quem paga a luz.
- Eu acabei de entrar.
- É a terceira vez que você fala isso.
- Eu preciso usar o banheiro.

Cai a resistência, de novo. Como protesto a discussão.
- Pensei que não ia sair mais desse chuveiro.
- Mas eu ainda não terminei, to todo ensaboado.
- Eu preciso usar o banheiro.
- Espera eu terminar.

Liga de novo. Recomeça o exercício de paciência. Vai ser sua ultima tentativa. Devagar a agua requenta. Parece que agora vai. O sabão do corpo já foi todo tirado. Agora só falta o cabelo. Ele arrisca e da mais uma desligada de leve. O chuveiro cede. Aproveita o bom humor da gorDucha e começa a lavar os cabelos.

Batem na porta.
- Cacete!
- Onde ta o carregador?
- Já falei que eu acabei de entrar.
- Entrar?
- Oi?
- Carregador.
- Abre que eu preciso usar.
- Não ta aqui!
- Anda logo.
- Eu só to enxaguando meu cabelo.
- De novo.
- Abre.
- Cadê?
- Vou desligar a força.

O chuveiro não aguenta a tanta pressão e desliga de novo. Ele desiste de lutar pela agua quente. Desliga o chuveiro. Se enrola na toalha. Abre a porta e sai em meio a fumaça como um magico com o cabelo cheio de espuma. Os três ficam parados na porta assustados.
- Eu não tomo mais banho nesta casa, enquanto não trocarem o chuveiro e quando vocês estiverem em casa.

domingo, 10 de junho de 2012

Revelação ao contrario


- Pai, eu tenho uma coisa pra dizer pra você.
- Nossa, que sério.
Ele hesita.
- Pode fala filho, você está com algum problema. É dinheiro? Pode pedir, não precisa ficar com vergonha.
- Não, não é dinheiro.
- Então, o que foi?
- Não sei bem como falar.
- Fala logo, estou ficando preocupado.
- Ta bom, vou direto ao assunto: eu sou hetero.
- Oi?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Não acredito.
- Sou heterossexual, gosto de mulher.
- Não acredito, não acredito...
- Acredite pai, eu gosto de mulher. Peitos, bunda.
- Como pode dizer uma coisa dessas?
- É a verdade pai. Eu não consigo mais esconder.
- Você está doente.
- Não pai, não estou.
- Está sim. Deve ser alguma alucinação.
- Não pai, não estou, eu apenas não aguentava mais ficar preso no armário.
- Vou levar você num psicólogo.
- Eu não quero ir num psicólogo, quero ir numa psicóloga. Uma bem gostosa. Que aí eu me abro pra ele. E ela se abre...
- Olha essa boca. Veja bem o que vai falar antes de abrir a boca.
- O que? É a verdade.
- É a verdade nada. Você está sendo influenciado demais. O que eu falei sobre ficar vendo futebol, filmes de ação...
Silencio.
- Isso ia te heterorizar.
- Pai eu nasci assim.
- Não nasceu. Eu sei como você nasceu, eu tava lá, eu que te tive. Você saiu dessa barriga. – aponta a barriga. – você nem mamou nos meus peitos, quer prova maior que não gosta de mulher?
- Mas pai isso não tem nada a ver.
Pela porta entra a mãe, vinda da rua, com algumas sacolas.
- O que está acontecendo?
- Sua filha...
- Filho!
- Sua filha tem uma novidade.
- Mãe, eu sou hetero.
- Olha aí.
- Aí meu Deus. – coloca as coisas na mesa e cai mole na cadeira.
- Eu gosto de mulher.
- O que eu te disse sobre deixar ele ficar andando com aquelas mulheres. Falei que seriam uma má influencia. Mas não, ninguém me da ouvidos.
- Pai, elas não tem nada a ver com isso.
- Ah não? Então porque você começou com essa ideia da noite pro dia?
- Não foi da noite pro dia. Eu sempre fui hetero.
- Não repete isso de novo. Não repete isso de novo que eu te bato até você virar homo.
- Parem com isso. – interrompe a mãe, aos prantos.
- Pai, eu sou assim.
- Eu não quero saber. Enquanto estiver morando na minha casa, comendo da minha comida e eu pagar as contas não vou aturar filho hetero.
- Então eu vou ser obrigado a ir embora.
- Isso vai embora, vai embora. Mas pense bem, que se você acha que vai sair por aí pegar a mulherada e depois voltar pra casa, o senhor está muito enganado.
- Não, pode ficar tranquilo que eu não vou voltar. Já tenho umas mina que eu to pegando que vou me ajudar lá fora.
Sai e bate a porta. O pai fica no sofá revoltado e a mãe na mesa aos prantos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Os Ex's


De madrugada, num desses mercados vinte quatro horas. No corredor de bebidas ele tromba com o carrinho no dela, porque está empurrando de cabeça baixa e como ela está abaixada lendo um rotulo na vê. Nenhum dos dois está no seus melhores dias.
- Ei olha por onde... Milton!
- Cintia!
Ela levanta, lembrasse como está vestida e se arrepende de ter levantado.
- Tudo bem. Quanto tempo hein...
Cumprimentam-se sem jeito, é a primeira vez que se veem desde quando terminaram o noivado de 3 anos, que terminou com a louça ganhada no casamento, inteira quebrada.
- Quanto tempo.
- Caramba você ta bem.
- Você também ta ótimo.
Agora quem se lembra como está vestido é ele. Mas não passou na cabeça de nenhum dos dois que ele poderiam se encontrar. Não no mercado. Não no corredor de bebidas.
- E aí, o que você anda fazendo?
- Ah nada demais. Só trabalhando mesmo.
- Ta trabalhando lá na fabrica ainda?
- Ainda.
- Ah que legal.
- Quando estávamos juntos você não achava né.
- Oi?
- Nada não, e você o que anda fazendo.
- Só estudando.
- Ah ta se dedicando para os concursos ainda.
- Sim.
- Achei que já tinha passado em algum.
- Não.
- Logo você passa.
Silencio.
- E a sua mãe como tá?
- Morreu.
- Aí... Sinto muito.
- Sente mesmo? Achei que você não gostasse dela.
- Não, eu gostava, sempre gostei.
- Não foi isso que você me disse antes de terminarmos.
Silencio.
- Comprando bebidas é?
- É.
- Achei que você não bebesse. Começou a beber depois que terminamos?
- Não eu não bebo ainda não. Vou dar uma festinha.
- Ah eu também.
- Achei que você não gostasse de festa.
- Pois é, as pessoas mudam.
- É mudam.
Silencio.
- Então é isso né.
- É.
- Vou indo porque ainda tenho que comprar mais algumas coisas pra festa.
- É eu também.
Ela da um beijo no rosto dele, vira as costas e vai saindo.
- Cintia.
Ela vira com um sorriso no rosto.
- Seu carrinho.
- Ah.
Ela volta, pega o carrinho e sai. Ele vai na outra direção. Ambos arrependidos de não ter ficado mais.

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- Ei me da uma moeda pra eu comer.
O homem passa reto.
- Uma moedinha por favor?
Mais um passa sem nem mesmo se dar o trabalho de olhar. Uma mulher falando ao celular também passa. Ele a acompanha com o olhar.
- Madame, qualquer trocado. Então tomara que você seja atropelada!
Por trás vem uma mulher com algumas moedas, joga na lata.
- Muito obrigada. – vira pra agradecer.
- Pablo.
- Miriam? – ele levanta.
- É você mesmo?
- Sim. – ele abraça ela, todos na rua olham espantados, ele lembra que é mendigo, e que são ex, então desfaz o abraço.
- Nossa como você está bonita. Caramba.
- Você também, ta mais magro.
- Pois é, to fazendo dieta, forçada. – ri sem graça, ela também.
- Quanto tempo hein!
- Pois é. Desde que terminamos.
- 3 anos.
- 3 anos. Parece que foi ontem.
- Parece...
- E aí, o que você anda fazendo de bom?
- A terminei minha pós, fui promovida a gerente regional, comecei a fazer um mestrado, essas coisas.
- Ah você sempre foi estudiosa, esforçada. Merece.
- Brigado e você?
- Eu to bem.
Silencio.
- Quer dizer, depois que a gente terminou eu comecei a beber, larguei a faculdade, fui mandado embora de serviço, despejado do apartamento... Mas agora eu to me recuperando.
Ela da uma olhada pra ele.
- Ah, que bom.
- Pena que não demos certo né. Tínhamos tantas coisas em comum.
- Pois é, mas a vida é assim mesmo.
- Você ta saindo com alguém?
- Não, não to não... To em outro momento da minha vida...
- Nossa eu também não to. Será que o destino não está querendo nos dizer alguma coisa?
- Ih eu estou atrasada. – olha para o pulso que nem tem um relógio. – tenho que ir.
- Vamos marcar alguma coisa.
Ela vai saindo.
- Passa aqui quando quiser, to sempre aqui. Alias você ta pisando na minha sala. – fala e da risada.
Ela fica assustada e continua sorrindo pra não perder a postura.
- Me liga naquele orelhão ali que eu que sempre atendo.

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Numa boate de strip-tease
- Agora vai entrar no palco ela, a dama da noite, a loba, Mélani.
Entra uma musica de fundo. Ela vem desfilando na passarela. Sobre a fumaça e as luzes vermelhas ela desliza no cano.
- Mélani que é nova na casa, mas experiente na vida.
Começa a tirar as peças de roupa, uma a uma. Os gatos pingados presentes, estão um em uma mesa com uma mulher com a bunda na cara. Outro bebendo no balcão. E outro parado de frente para o palco. Gritando e assoviando.
- Tira... Tira... Tira!
Ela vai desamarrando o sutiã e se aproximando dele. Então joga o sutiã na cara dele.
- Cleuza?
- Efraim?
Ela cobre os seios.
- Sensacional Mélani, esta levando os homens a loucura.
- O que você está fazendo aqui?
- Estou trabalhando! – volta a dançar.
- Essa Mélani sabe como seduzir um homem. – continua o locutor.
- Eu não sabia que você era...
- Mas eu não era. – interrompe, antes que ele fale.
- Ufa.
Ela continua dançando.
- Rebola mais para o seu publico Mélani.
- Então você virou depois que terminamos.
- Sim! – rebola.
- Não acredito. Quando estávamos juntos você era tão certinha.
- Pois é...
- Nunca quis nem realizar minhas fantasias.
- É...
- Agora está aí...
- Veja bem o que vai falar, isso é meu trabalho. – tira a calcinha e joga nele.
- Não acredito. – fica inconformado.
Ela volta para o poste e fica se esfregando desengonçadamente sobre ele. Termina a musica.
- Essa Mélani é fogo e paixão. Aplausos para ela.
O homem que estava cochilando no balcão durante a dança, acorda só para aplaudir. Mélani vai até o Efraim buscar a calcinha e o sutiã.
- Quanto você cobra pra realizar meus desejos, de quando ainda eramos namorados?

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Já se aproxima das quatro da tarde, as portas do banco estão quase fechando quando entra dois homens encapuzados e sacam armas, um rende o segurança e o outro desce em direção aos caixas.
- Atenção todo mundo para o chão.
As poucas pessoas no banco nem dão bola e continuam parada na fila, cada uma mexendo no seus celulares, desligadas do mundo.
- Pega fila igual todo mundo. – resmunga alguém que está no meio.
- Isso é um ASSALTO!
Finalmente dão atenção pra ele.
- Todo mundo pro chão. – chacoalha a arma enérgica e desengonçadamente.
As pessoas vão descendo. – Se alguém tentar chamar a policia eu mato. Joguem os celulares pra cá.
Vai recolhendo os celulares.
- Só não tentarem bancar o herói que não vai acontecer nada.
Entrega um saco plástico para os atendentes do caixa e faz sinal pra que eles coloquem o dinheiro lá dentro.
- Não quero cheque, só dinheiro.
- Mas acabamos de colocar no cofre.
- Não colocaram ainda. Eu sei que não.
- Colocamos.
- Não mente pra mim. Coloca logo o dinheiro aí. Não é de vocês. Não vai sair do seu bolso.
Uma mulher que estava no banheiro chega no meio da bagunça. Tenta voltar, mas o bandido a vê antes que ela possa dar ré.
- Parada aí! – aponta a arma pra mulher. Ela está de costas pra ele. – Onde você pensa que vai.
Ela vira lentamente. Ele a reconhece é sua ex. Ele se engasga. O senhor que esta ao lado, da um tapa nas costas fazendo o voltar ao normal.
- Muito obrigado. – diz com as mãos nos joelhos, respirando lentamente.
Todos na fila olham com cara de bravo para o senhor.
- O que? Ele estava engasgado.
Balançam a cabeça negativamente em sinal de desaprovação.
- Vai lá pro canto com todo mundo. – engrossa a voz pra não ser reconhecido.
- Oi?
- Vai lá pro canto. – aponta o caminho com a arma.
Ela passa olhando para ele. Os caixas pararam de colocar o dinheiro.
- Porque vocês pararam?
Eles voltam a encher os sacos. A mulher fica olhando fixamente para o bandido. Ele desvia o olhar. Assovia. Um rapaz ergue a mão.
- O que foi?
- Você vai nos roubar também?
- Não, só o banco.
- Por que?
Todos olham torto para o rapaz, como olharam para o velho.
- Por que eu só quero roubar o banco!
- Mas eu posso falar para o meu patrão que você me roubou?
- Não sei. Pode.
Fica um silencio constrangedor.
- Vamos logo com isso. – faz sinal para os caixas.
- Claudio? – pergunta a mulher
Ninguém responde.
- Claudio, é você?
- Anda...
- É você!
- Daqui, ta bom só isso. – pega a sacola e vai saindo.
Ele vai sair ela entra na frente dele.
- Não acredito que é você.
- Não sou eu!
- É sim.
Começa um murmúrio entre os reféns.
- Calem a boca vocês aí!
- Não acredito que você chegou a esse ponto.
- Não sei do que você está falando. – tenta passar ela não deixa.
- Você está fazendo isso porque eu terminei com você né!
- Você está louca, eu faço isso desde criança. Você esta viajando!
- Ah é você mesmo. Só você fala: você está viajando.
Ele balança a cabeça.
- Tudo isso por que eu terminei com você.
- Isso não tem nada a ver com você.
- Tem sim que eu sei. Ainda bem que eu terminei com você.
Todos ficam olhando pra ele.
- Não foi você quem terminou. Não foi ela. – se explica para os reféns.
- Foi sim. – retruca.
- Nós entramos num acordo.
- Sim, o acordo era você ficar longe de mim.
O murmúrio retoma.
- Calem a boca. – aponta a arma para os reféns.
- Claudio se você está fazendo isso pra chamar minha atenção você conseguiu.
- Como assim chamar sua atenção? Eu nem sabia que você ia estar aqui!
- Ah Claudio, eu não sou boba.
- Você está louca. Vou pegar meu dinheiro e dar o fora.
- Isso, vai mesmo por que eu não vou voltar com você. Ainda mais depois disso. O que meus pais diriam.
- Nada muito pior do que já diziam.
- Nossa como você é ingrato. Meus pais te tratavam como um filho.
- da puta!
Os reféns riem.
- Agora deixa eu indo, que a minha mulher ta me esperando pra jantar. – pega a bolsa dela e sai.