As fotos antigamente eram tiradas em datas comemorativos, momentos especiais, festas, etc. para depois serem reveladas, guardadas em caixas de sapato velha, colocada em cima de um guarda roupa e normalmente mexem nelas nas faxinas de fim do ano. Um dos raros momentos que se ve uma família reunida hoje em dia.
- Pai, quem é esse daqui?
- Sou eu!
- Não, sério pai...
- To falando sério filha. O papai também já foi novo.
- Foi, mas nem tanto assim.
- Sem graça.
- Mas o que aconteceu com o senhor pai?
- Como assim, o que aconteceu comigo?
- Por que ficou desse jeito.
- Desse jeito?
- Eu vou ficar assim também pai? – fala e começa a chorar.
- Que jeito?
- Desse jeito. – soluça – igual o senhor tá!
- Como eu to?
- Mal pai... Ma – chora como se alguém tivesse batido nela. – Mal pai!
- Mal pai... Ma – chora como se alguém tivesse batido nela. – Mal pai!
A mãe entra na sala.
- Aroldo, o que ta acontecendo. Por que você bateu na menina?
- Eu não bati. Eu tava procurando um boleto em cima do guarda roupas, ela começou a mexer nas fotos e começou a chorar.
A mulher olha desconfiada. Então vai acudir a filha.
- O que aconteceu filha, fala pra mamãe, o papai te bateu?
- Eu não bati nela!
- Deixa ela falar!
- Nã-nã-não. – fala entre as lagrimas.
- Então o que aconteceu?
- Eu não... Não... não quero ficar igual ao papai. – cai no choro encostada no ombro da mãe.
- Como assim filha?
- É que o pa-pa-pai... era bonito quando era criança, agora ta mal!
- É. – concorda a mãe.
- Como assim to mal. Por que eu to mal? – o pai se apalpa.
- Aroldo, vai pra lá, você está assustando a menina.
Aroldo sai da sala batendo o pé. Aos poucos a filha se acalma. Aroldo está sozinho na cozinha quando ouve um choro vindo do quarto. Corre pra ver o que é.
- O que aconteceu?
- Ela viu uma foto minha.
E a criança desaba a chorar.
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- Nossa, olha como era seu cabelo amor.
- Putz, nem me fale.
- Quem imaginava que você ia ficar careca.
- É...
- Olha essa, parece garoto propaganda de comercial de shampoo.
- Saudades!
- Olha essa...
- Hum...
- Sabia que eu me apaixonei pelo seu cabelo?!
- Ãhm?
- Eu, só fiquei com você a primeira vez por causa do seu cabelo, queria ver se ele era real.
Da risadas.
- É sério. Eu e as minhas amigas comentávamos. ‘Não pode ser real’. ‘É muito perfeito’.
- Sério?
- Sim. Fiquei com você uma vez, aí outra e outra, quando vi não conseguia mais sair de perto do seu cabelo.
- Sinto muito amor!
- Não, eu sabia que um dia isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
- Pena que foi tão cedo.
- Pena. Olha essa, eu tentando comer seu cabelo.
- Eram bons tempos, que eu ainda tinha cabelos e a sua bunda não era caída.
- Oi?
- Nada... Nada...
“Bons tempos... Bons tempos”. - pensa ela, triste.
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Dudalina está mexendo nas fotos, empoeiradas que estava numa caixa no fundo de um guarda-roupas. Então se deparou com a foto de alguém que ela não sabia quem era.
- Donava.
Silencio.
- Donava!
- Oi?
- Vem cá.
- Oi? – diz Donava, entrando no quarto com o controle de TV na mão.
- Quem é esse?
Donava olha pra foto.
- Não é o tio Antonio?
- Não, o tio Antonio é mais velho. Olha ele aqui. – mostra outra foto.
- Não, esse é o tio Astolfo.
- Que tio Astolfo?
- Esse tio Astolfo. – tira uma foto de dentro da caixa e mostra.
- Não esse é o tio Tião.
- Claro que não. Esse é o tio tião. Esse é o tio Astolfo.
A mãe entra na sala secando as mãos nas pernas.
- O que ta acontecendo?
- Quem é esse?
- Esse é o seu tio Tião.
- Não, esse é o Tio Antonio.
- Não, esse é o Astolfo. Esse é o tio tião.
- Claro que não. Esse é o tio Astolfo, esse é o tio tião e esse é o tio antonio!
- Negativo. Esse é o tio Astolfo, esse é o tio antonio e esse é o tio tião.
O pai chega em casa do serviço e vai direto para o quarto.
- Opa reunião de família?
- Pai né que esse é o tio Astolfo, esse é o tio antonio e esse é o tio tião?
- Né que não pai! Né que esse é o tio Antonio, esse é o tio tião e esse é o tio Astolfo.
- Meu deus vocês querem saber mais do que a sua mãe. Esse é o tio tião, esse é o tio Astolfo e esse é o tio antonio.
Silencio.
- E aí. Qual é pai?
- Nenhum, esse álbum de fotos não é nosso. É do Carlinhos. Ta comigo a muito tempo, peguei por causa de uma foto.
Todos ficam decepcionados.
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Depois de tirar uma foto com o celular ele, exclama ou melhor reclama.
- Sabe de uma coisa...
- Oi? – pergunta ela, olhando para a câmera.
- Eu gostava mais da época que as fotos vinham contadas.
- Ãhm?
- Antigamente era mais emocionante tirar foto.
- Por que?
- Por que você ficava na expectativa de como ia sair a foto, tinha um numero limitado de fotos.
- Aí que chato.
- Sério, não tinha esse negócio de ficar voltando toda hora.
- Ah eu prefiro agora.
- Hoje em dia ninguém mais fala xis. O xis tá em extinção.
- É, isso é verdade.
- As fotos saiam muito melhores por causa do xis. O xis era o diferencial.
- Que exagero.
- As fotos eram divididas em as que falaram xis e as que não falaram xis.
Ela da risadas.
- Valorizávamos mais as fotos. Não tirávamos tantas. Piscou piscou meu amigo. Vai ser zoado lá na frente.
- é né!
- é!
- Então vamos tirar outra por que eu pisquei.
- É disso que eu to falando! – fala indignado.
- Diga xis!