segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mendigando

- Sabia que já somos em mais de 7 bilhões de pessoas no mundo...
- Ah é?
- É... E você aí sozinha!
- Eu to esperando meu namorado...
- Ah!

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Na rua
- Ei... Oh... Você aí de terno...
- O que foi?
- Me da uma ajuda?
- Uma ajuda, uma moeda, cartão de crédito...
- Pra que?
- Ué porque você quer saber?
- Ué eu tenho direito eu vou te dar o dinheiro, quero saber...
- Assuntos pessoais...
- Então fica com os seus assuntos... Mas sem dinheiro. – fala e vira as costas.
- Calma, calma, eu te conto...
- Ta!
- Mas primeiro me da o dinheiro.
- Só depois que você falar.
- Ta... É pra eu ir beber...
- Isso não é assunto pessoa.
- Claro que é, todo mundo acha que pra eu comer, mas não é. É pra cachaça mesmo.
- Você não tem vergonha.
- Tenho, por isso não queria falar.
- Eu não devia te dar esse dinheiro.
- E eu não devia ter contado.
- Só vou dar por que eu sou um homem de palavra. – entregando as moedas.
- E eu só vou beber porque eu também sou um homem de palavra. – pegando e contando as moedas.
- Que deselegante, espera eu sair pra contar as moedas.
- Deselegante é você com toda essa panca dar só essa merreca. Poh, abri o coração com você.
- Ah faça-me o favor.
- Se for pra você dar só essa migalha, não. Muito obrigado.
- Você é um ingrato, por isso que é mendigo.
- Não, sou mendigo porque quando eu tinha dinheiro não tinha dó de dar esmola, tinha vergonha de dar um tanto desse. Agora da licença que você está pisando na minha sala. – vira pra o lado e se cobre com o jornal.

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- 7 Bilhões hein...
- Oi?
- 7 Bilhões de pessoas no mundo...
- Hum...
- 7 Bilhões... E eu vim conversar justo com você...
- Pois é!
- Será que é o destino?
- Não, eu não acredito em destino...
- Ah não acredita?
- Não acredito nessas coisas...
- É então por que você acha que em meio a tantas pessoas eu vim conversar justo com você?
- Porque eu sou azarada... – fala e da as costas pra ele.

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Um senhor está sentado num bar tomando um café, entra um mendigo.
- Ei me da uma ajuda...
- Não vou te dar dinheiro, se quiser senta aí e toma um café comigo.
- Mais é que eu...
- É pegar ou largar...
- Ta bom, não queria estragar o apetite, mas já que insiste. – sentado a mesa junto com o senhor.
- Esse mendigo fedido está te incomodando? – pergunta o garçom.
- Ei...
- Não, não, eu que falei pra ele sentar.
- Se quiser chamo o segurança o tira rapidinho. – olhando o mendigo com nojo.
- Ei eu to aqui.
- Não, pode deixar.
- É pode deixar e traz um café com leite pra mim, mais café que leite. Leite desnatado, integral faz mal.
Os dois olham com cara de assustado.
- O que? Tenho o intestino sensível. A coxinha é de agora?
- Não. – responde o garçom já sem paciência.
- Então me vê um misto quente. E rápido que eu to com uma fome, parece que eu não como a uns dois dias. Pior que faz mesmo. – da risada. – entenderam?
Silencio
- Nossa to quebrado!
- É se você não tivesse não era mendigo.
- Não to falando disso, to falando que to quebrado de cansado.
- Ah... Cansado do que? Você não faz nada, é mendigo.
- Ei só porque eu sou mendigo, quer dizer que eu não faça nada?
- Sim.
- Não você ta confundindo mendigo com vagabundo.
- Ué e não é a mesma coisa?
- Não, o vagabundo não gosta de trabalhar, só quer ficar em casa, vive as custas dos outros...
- E o mendigo?
- O mendigo não tem casa.
- Grande diferença!
- Pra você não.
Silencio
- Porque você virou mendigo?
- Porque me expulsaram de casa.
- Porque te expulsaram?
- Porque meu pai não admitia que eu fosse um vagabundo.
- Seu café e seu misto. - entrega o garçom ainda não acreditando no que está vendo.
- Leite desnatado?
- Sim.
- Obrigado.
O garçom vai saindo.
- Oi?
- Trás maionese e catchup.
- Ta...
Vira as costas e vai saindo
- Garçom.
- O que? – gritando.
- Vocês vão jogar fora aquelas coxinhas?
- Sim.
- Tem como colocar num saquinho pra eu levar para o meu cachorro.

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- Ei gata...
- O que foi? – fazendo pouco caso.
- Ta sabendo da novidade?
- Não.
- Já somos em 7 bilhões no mundo.
- E o que é que tem? – pergunta e da uma golada na cerveja com desdém.
- O que é que tem é que é um numero par, então provavelmente você seja a minha dupla.
- Sinto muito mais minha numeróloga disse que é pra eu tomar cuidado com números pares. – fala, mata o ultimo gole de cerveja e sai.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pegadinha

De manhã. Na cozinha.
- Aí minha cabeça, fala baixo, fala baixo.
- Ué mais eu não falei nada.
- Então pensa baixo!
- Alguém aqui bebeu demais ontem. – liga o liquidificador.
- Aí! – grita e faz aquela cara que só quem está com ressaca sabe fazer. – É e pelo jeito ele me levou junto.
- Engraçadinho.
- O que aconteceu ontem?
- Deixa eu entrar no youtube que eu já te respondo.
- Você tem que parar de beber.
- Só se você parar de falar.
Silencio. Liga o liquidificador de novo.
- Aí! Desliga isso.
- Não entendi.
- Desliga isso, por favor.
- Porque?
- Porque minha cabeça vai explodir...
- Eu não vejo problema nenhum, não bebi ontem.
- Desliga, por favor, eu aprendi minha lição.
- Oi?
- EU APRENDI MINHA LIÇÃO. – gritando bem na hora que o liquidificador é desligado.
- Porque você está gritando.
- Engraçadão. É acho que dessa vez eu passei dos limites. Mas daqui pra frente eu não vou beber mais.
- Nem mais nem menos, só o mesmo tanto. Alias se você beber mais do que você bebeu dessa vez, você não vai ter problemas com barulho, afinal de contas vai acordar num cemitério.
- É né, eu não vou beber mais. Prometo pra mim mesmo.

De madrugada, ouve-se um barulho na sala. Liga a luz. Vê alguém abraçando o abajur.
- O que você está fazendo?
- Acabei de salvar a vida dessa criatura.
- Isso é um abajur.
- Não sei, não cheguei a perguntar o nome dele.
- Me da isso aqui. – toma da mão dele. – Você está bêbado.
Silencio.
- Não tem vergonha de estar bêbado dia de semana?
Silencio.
- Não vai me responder?
- Ah você ta falando comigo. Achei que estava falando com o abajur.
- Você não prometeu pra você mesmo que não ia beber mais?
- É, eu não sou confiável! – deita no sofá.
Enquanto o outro fica bravo, desliga a luz e vai embora.
- Eu sou um herói! – Dormindo, mais bêbado do que nunca.

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Dois amigos que a muito tempo não se viam, se encontram num bar, trocam cumprimentos e decidem tomar uma juntos
Aparece o garçom.
- Mais uma rodada?
- Acho que...
- Mais uma! – interrompendo.
- Não cara eu tenho que ir embora, minha mulher já deve ta espumando de raiva.
- Poxa, mas você não avisou a ela que tinha encontrado o seu amigão aqui, e ia ficar, tomar uma, bater um papo?
- Avisei...
- Então... Quanto tempo fazia que não nos víamos?
- Ah fazia tempo...
- Então! Desce mais uma...
- Será?
- Não tem será, vamos beber e botar o assunto em dia. Que se dane! Mais uma rodada.
- Beleza.
Cinco minutos depois, o silencio reina no ambiente. Aparece o garçom, novamente.
- Tudo em ordem por aqui? Mais alguma coisa?
- Desce mais uma.
- Não, essa era a ultima, e nem acabou ainda.
- Que ultima, vamos beber mais, conversar, jogar papo fora...
- Não posso me enrolar mais...
- Que isso, nem me contou o que anda aprontando...
- Não ando aprontando nada, e é melhor eu ir porque senão minha mulher vai acabar achando que eu estou aprontando.
- Fica, seja macho cara, sua mulher não liga de você ficar num bar conversando com um amigo das antigas.
- Você não chegou a conhecer minha mulher, né?
- Não!
- Ta explicado o porque pensa assim.
- Viu nem conheci sua mulher, faz muito tempo que não nos vemos mesmo!
- Fazia mesmo... Então pega meu telefone e marcamos outro dia.
- Então bebe mais uma!
- Será?
- Pelos velhos tempos.
- Ta bom, mas é a ultima!
- Ultima!
- Pelos velhos tempos...
Cinco minutos depois.
- Garçom traz a conta!
- Por quê?
- Falei que era a ultima.
- Você tava falando sério?
- Sim...
- A pensei que era mais uma das suas pegadinhas igual nos velhos tempos.
- Eu nunca fui de fazer pegadinhas, quem fazia pegadinha era você!
- Ah é! Bons tempos.
- É bons tempos, mas agora eu tenho que ir mesmo.
- Posso ir com você?
- Oi?
- Minha mulher me expulsou de casa!
- Sério isso cara, sinto muito...
- Sério. Não esperava...
- Mas o que aconteceu?
- É uma longa história... É melhor você ir se não sua mulher vai ficar brava...
- Minha mulher não manda em mim... Eu to aqui com um amigo que não via a um tempão ela não tem porque ficar brava...
- Tem certeza?
Silencio. Toca o celular, é a mulher.
- Alo... – atende o celular. – Oi... Não to aqui ano bar ainda... É com aquele amigo... Fazia tempo que eu não via ele... Não vou ir já... Eu não to aprontando... Eu vou ficar... Vou sim... Deixa eu conversar em paz, você acha que manda em mim... Não... Não tem problema eu durmo na rua... Tchau... – desligando o celular na cara dela.
Silencio. O garçom ainda está parado na frente deles esperando um parecer.
- Cara eu não queria causar briga entre vocês...
- Não foi você quem causou. Eu precisava me posicionar, já tava cansado...
- Então não foi culpa minha...
- Não!
- Você vai ficar mais um pouco.
- Um pouco não, muito.
- Ufa...
- Agora pode me contar o que aconteceu...
- Garçom desce mais uma rodada. Aconteceu o que?
- Com você e sua mulher.
- Minha mulher?
- É sua mulher te expulsou de casa...
- Ah... Então era uma pegadinha, não tenho mulher só fiz isso pra você ficar com dó, e ficar mais. Te peguei hein... Igual nos velhos tempos.
O garçom chega com os Chopes, ele levanta em silencio.
- Ué, onde você vai?
- Se eu correr ainda da tempo de eu pedir desculpa. – Fala e sai.

domingo, 16 de outubro de 2011

A Batida

Depois de uma batida. Desce um de cada carro, ele achando que quem está errado é ela, e ela achando que quem está errado é ele.
- O senhor ta cego?
- O que? Eu? Eu o que?
- É e pelo jeito também ta surdo!
- Espera aí minha senhora quem tem idade pra ta surdo ou cego aqui não sou eu não!
- O que o senhor ta insinuando?
- Não estou insinuando nada, ainda!
- Você não viu meu carro não?
- Vi infelizmente eu vi. Você não sabe o que eu não daria para não ter visto.
- Se o senhor viu então porque não freio?
- Não sei, vai ver eu achei que tava brincando de carrinho de bate-bate! É lógico que eu freei, foi você quem não freou minha senhora!
- Minha senhora é o cambau, sua senhora ta na puta que te pariu. Se eu fosse sua senhora eu não deixaria você ter comprado carro.
- Ah você bate em mim e a culpa é minha?
- Eu bato em você? Eu. Bato. Em você?
- E depois eu é que quem estou surdo...
- Eu queria muito bater em você, mas não com o carro, sim com uma marreta!
Chega a policia para esfriar a discussão.
- O que está acontecendo aqui? – pergunta calmamente o policia.
- Daí eu concordava em arcar com as conseqüências. – disse ela.
- O que está acontecendo? – novamente pergunta o oficial.
- É pelo menos pra usar a marreta não precisa ter carteira!
- O que aconteceu aqui, cacete. – finalmente fazendo-os o ouvir.
Silencio. O guarda olha para os dois.
- É que alguém aqui tem dificuldades de diferenciar o freio do acelerador.
- Tem mesmo, mas não se preocupe que depois desse acidente ele vai se esforçar pra decorar.
- Não vão começar porque se não vou levar os dois em cana. – disse com aquela autoridade que só uma autoridade tem.
Silencio.
- Agora me digam o que houve.
- Eu ta vindo lá de baixo, dei o sinal pra pegar a direita...
- Nossa ele sabe diferenciar direita e esquerda. – interrompendo-o.
- Minha senhora deixa ele terminar a história dele.
- Desculpa, desculpa.
- Eu dei o sinal, e como eu vi que ela tava vindo muito rápido...
- Muito rapido? Muito rápido pra quem? Para o Rubinho?
- Minha senhora eu vou ter que pedir de novo?
- Hoje eu acordei senhora de todo mundo. – resmungou.
- O que a senhora disse? – virou segurando o cassetete para intimidá-la.
- Disse que não vai precisar pedir de novo!
- Então eu freei pra evitar o pior.
- E pelo jeito não adiantou... – ironizou o policia.
- É... Teria adiantado se ela soubesse que o freio é o do meio.
Silencio.
- Posso contar a minha versão agora?
- Sua versão?
- Pode.
- Eu vinha descendo a rua na velocidade permitida, mas como era uma decida a tartaruga Touché aí teve a impressão que eu estava rápida.
- Tartaruga Touché? Você é mais velha do que eu imaginava.
- O senhor vai deixar ele me insultar assim?
- Fica pelo tartaruga Touché. Agora prossiga a história.
- Velha... Hum... Então eu tava descendo, dei o pisca para a esquerda, e como ele já tava devagar e reduziu, e a preferencial não é de nenhum dos dois, então achei que ele estava sendo cavalheiro e me dando a vez.
- Como assim cavalheiro? Não existe cavalheiro desde o tempo da tartaruga Touché
- É ainda bem que você não é um cavalheiro assim eu não vou precisar ficar com dó na hora de cobrar o estrago.
- Você cobrar o estrago? Eu to certo e ainda vou ter que pagar. Acho que você está enganada.
- Estou enganada em estar discutindo com você, só vou pegar o numero da sua placa e ir embora.
- Não precisa pegar só o numero não, pega a placa inteira você já arrancou ela do meu carro mesmo.
- Ei, Ei. – gritou o policial.
Silencio.
- Vocês esqueceram que eu to aqui?
- Não, desculpa seu guarda. – disse ela.
- Se você não é a “minha senhora”, eu também não sou o “seu guarda”.
- Viu, deixa a lei falar.
- E você também fica quieto aí.
- Desculpa.
- Só quero dizer que cada um vai pagar o seu estrago.
- Pera aí policial eu não tenho dinheiro pra pagar isso agora, to apertado.
- Não acredito nisso meu marido vai ficar louco.
- Ficar louco? Ele é louco de ser casada com você.
- O que você disse aí. – partindo pra cima dele.
- Eita mais esqueceram de novo que eu to aqui? Quer ver eu levar os dois em cana.
- Desculpa.
- Desculpa.
- Vamos terminar logo com isso, cada um vai arcar com o seu estrago.
- Ta bom né, fazer o que... – disseram os dois, e já iam se encaminhando cada um para o seu respectivo veiculo.
- Pera aí não terminou, vamos até a viatura comigo.
- Ué porque? Já não ta resolvido?
- Até a viatura? Eu já perdi muito tempo aqui.
- Já ta resolvido sim. Só falta entregar a multa para os dois.
- Multa? – disseram novamente em coro.
- Multa por estarem entrando em uma rua contra a mão.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Briga de criança

- O ultimo a ser pego conta!
- Não! O primeiro conta.
- Se for o primeiro os outros vão se entregar.
- Se for o ultimo os primeiros vão se entregar.
- Que tal se o do meio contar.
- Do meio?
- É tipo o terceiro...
- Mas aí o os dois primeiros e os últimos vão se entregar.
- Tem que ser o primeiro, sempre foi o primeiro.
- Não, não. Sempre foi o ultimo.
- Eu só vou brincar se quem contar for o ultimo.
Toca um sinal.
- Fim do intervalo. – vem uma voz do fim do corredor.
- Aí viu, ficam discutindo nem deu tempo de brincarmos.
- Falei pra ser o ultimo, mas não...
- É o primeiro...
- Resolvemos isso agora na parte da tarde...
- Isso aí, amanhã a gente almoça rapidão e brinca antes de trabalhar.
- Ta, então vamos porque eu tenho que enviar uns relatórios até as duas...

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- Pai, pai...
- O que foi?
- Posso ir dormir na casa do Pedro?
- Hoje? E hoje lá é dia de dormir na casa dos outros?
- Não sei... Tem dia pra dormir na casa dos outros?
- Tem e coincidentemente não é hoje.
- Da onde o senhor tirou isso?
- Do manual de como educar os filhos, lá diz que dia de semana não é dia de dormir na casa dos outros...
- Existe um manual... A pai o senhor ta mentindo...  E não é os outros é o Pedro!
- A mãe dele sabe?
- Sabe.
- O pai dele sabe?
- Sabe...
- E mesmo assim eles deixam?
- Sim!
Silencio, o pai volta a olhar para o jornal, enquanto o filho fica olhando para ele.
- E aí?
- E aí o que?
- Posso ir?
- Pode ir onde?
- Pai!
- Pede pra sua mãe.


- Mãe, mãe...
- Que foi? To assistindo minha novela!
- Posso ir dormir lá na casa do Pedro?
- Hoje?
- Não mãe é daqui a três anos, mas eu já resolvi pedir agora!
- Augusto não fala assim comigo eu sou sua mãe.
- É mãe, é hoje...
- O que é que vai ter lá hoje?
- Cama e sono.
- Mas aqui também tem isso. Porque ele não vem dormir aqui?
- É que vai ta todo mundo lá!
- Todo mundo quem?
- Todo mundo da galera.
- E a mãe dele sabe que vai estar todo mundo lá?
- Não mãe, nós vamos chegar lá e fazer uma surpresa...
- Augusto! Olha a boca.
- A mãe dele sabe, mãe.
Silencio, a mãe volta a ver novela e ele fica olhando pra mãe.
- Mãe!
- Não grita moleque.
- E aí?
- E aí o que?
- Posso ir?
- Onde?
- Mãe!
- Ah, vê com o seu pai.

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Os dois estão jogando vídeo game.
- O que você quer ser quando crescer?
- Oi? – dando atenção só para o vídeo game.
- Quando ficar adulto...
- Olha o gol, olha o gol... Uh!
- O que vai querer ser?
- Sei lá cara, presta atenção no jogo...
- Ei você tem que começar a pensar...
- Porque? A gente só tem dez anos.
- Então, dez anos cara! Daqui para os vinte é um pulo.
- Cara a gente ainda é criança...
- Criança!? Fale por você eu já sou quase um pré-adolescente!
- Nada a ver... Relaxa... Olha o gol, olha o gol... Uh!
- Nada a ver? Tudo a ver, hoje você ta com dez, mas ontem mesmo você tinha nove.
- É pra isso que servem os aniversários, pra nos deixar mais velhos...
- Então é como dizem, depois dos dez, os anos, passam voando!
- Como dizem? Quem ‘dizem’?
- Todo mundo?
- Que todo mundo?
- Todo mundo que tem doze anos!
- Esse povo com doze se acha... ‘O juiz, o juiz’...
- É, mas pelo menos eles já sabem o que vão ser!
- O que você quer ser? Senhor quase pré-adolescente!
- Eu?
- Não eu!
- Eu quero ser astronauta...
- Pfff...
- Pfff... O que? Ta com inveja porque eu sou um homem decidido.
- Homem decidido? Você ainda mama...
- Cara não é mamadeira, é um negócio que eu tenho que tomar pra ajudar no meu crescimento.
- É... E o nome é: Mamadeira!
- Não é mamadeira...
- “Eu tenho dez anos e vou ser um astronauta que toma mamadeira”. – provocando daquele jeito que só as crianças sabem provocar.
- Não é mamadeira cara... Olha lá o gol! GOOOOL!
- Não valeu...
- Porque não valeu?
- Eu não tava olhando.
- Não posso fazer nada...
- Você roubou!
- Não roubei não!
- Roubou sim. Você aproveitou que eu não tava olhando.
- Você não tava olhando porque tava me zoando.
- Tava te zoando porque começou com esse papo de crescer sendo que você mama. Tem que arrumar uma namorada que divida a mamadeira!
- Para de dizer que eu mamo cara. Seu orelhudo.
- “Para de dizer que eu mamo...” Mi-Mi-Mi...
- Cara se você continuar fazendo isso vou desligar o vídeo game...
- Se você continuar fazendo isso eu vou desligar o vídeo game...
- Para...
- Para...
- Ah então você quer. – desliga o vídeo game.
- Poh bem na hora que eu ia fazer o gol...
- Eu avisei...
- “Eu avisei”...
- Mãe! – grita pela mãe.
- “Mãe!”
- O que foi caramba? – vem um grito da cozinha.
- Ih apelou pra mamãe eu vou embora. Você ta se achando muito, fica andando com esses caras de doze anos...
- É pelo menos eles se comportam como homens...
- É pelo menos eles não mamam... – sai bravo.
- Já falei que não é mamadeira! – grita para o amigo que já nem escuta mais.
- Sua mamadeira ta pronta filho. – diz a mãe que acaba de entrar na sala. – cadê o Miltinho?
- Foi embora, ele é muito criança. – pega a mamadeira. – ta quente?

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- Carlos cadê o Edu?
- Não sei não ta no quarto dele?
- Se ele tivesse no quarto dele eu não ia ta perguntando onde ele está.
- É!
Silencio
- Qual foi a ultima vez que você viu ele?
- Quando ele veio pedir pra ir dormir na casa do Pedro.
- E o que você disse?
- Pra ele pedir pra você. Por quê?
- Porque quando ele me pediu eu falei pra ele pedir pra você!
- Será que ele...
- Descobriu nossa estratégia de ficar jogando um pra cima do outro e ninguém responder?
- Não pode... Fazemos isso com todos eles e nunca descobriram...
- Espera aí vou ligar pra casa do Pedro. – pega o telefone. – Alou... é da casa do Pedro, oi Gilmara o Edu ta aí?... Ah ta... Deixa eu falar com ele... Ta obrigado.
- E aí?
- Foi chamar ele. – tira a boca do telefone pra responder o marido. – Alou... Edu o que você está fazendo aí?... O que foi dormir... Como assim dormir?... Deitar e fechar os olhos. Eu sei como que dorme não fala assim que eu vou aí... Seu pai deixou... – O pai faz que não com a cabeça. – Seu pai ta dizendo que não... Ah ele falou que era pra você falar comigo, mas eu não deixei... Como não falei não?... Falei que era pra você falar com ele... Ele disse que não disse que sim... Ah mas também não disse que não... Ta bom, fica aí amanhã quando você chegar a gente conversa... Ta beijo, boa noite... Ta, ta... E sem fazer bagunça aí na casa dos outros... Eu sei que não é a casa dos outros é a casa do Pedro... Tchau... Tchau... – desliga o telefone.
- Descobriu?
- Pelo jeito sim!
- E agora?
- Temos que inventar outro jeito de não dizer não e nem sim sem ser pego.

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Dois amigos que não se viam a muito tempo se encontram.
- E aí meu querido, quanto tempo como você está?
- Nossa quanto tempo mesmo, to bem, não tão quanto você, mas bem!
- O que conta de novo?
- De novo só que eu virei pai, chegou a me ver pai?
- Não a ultima vez que eu te vi ainda era mãe...
Os dois caem na gargalhada.
- Pois eu também virei pai!
- É mesmo parabéns!
- Com quantos anos está o seu ou a sua...
- É ele, ta com cinco...
- A idade do meu.
- Sério?
- Sério!
- Eles crescem rápido hein...
- Nem me fale, o meu já ta indo para a escola, para o pré. Ele é avançado.
- O meu ta indo desde o ano passado, esse ano já foi pra primeira.
- A professora queria colocar o meu na primeira também, mas eu não quis constranger os outros alunos.
- Sei como é.
- Já não basta fazer os mais velhos passarem vergonha na escolinha de futebol.
- Ah ele já ta treinando também?
- Já, já, desde os três anos... Já tão de olho nele...
- O do meu já compraram o passe. Ele também treina, desde os dois anos, os primeiros passos dele foi em direção a uma bola.
- Interessante. O meu bate com as duas.
- Legal... Legal... O meu bate só com a direita mais nunca erra. Cinco anos e já o batedor de falta oficial do time. Lembra muito eu...
- Mas você não batia falta!
- Não batia porque você não deixava, queria bater todas...
- O professor que mandava.
- Porque você era puxa-saco...
- E você era ruim.
- Ah falou o bonzão. Atrasadinho. Demorou muito pra terminar a faculdade? Atrasadinho!
- Ei eu tinha dificuldades porque eu acordava muito cedo. E pelo menos eu não colava pra passar. E aí como é colocar na vida real? Existe!
- Eu só colei uma vez!
- Aham, colou até no exame do pezinho...
- É eu colei e você reprovou!
Toca um celular.
- Alo... – atende o celular. – não, não to gritando... Ta desculpa por ter gritado... Já to indo, não o padeiro não morreu, já to indo... – desliga o celular.
- Ih sendo mandado pela mulher, era o mínimo que eu poderia esperar.
Chega uma senhora.
- Vai demorar muito com esse pão aí seu imprestável. – grita a senhora.
- Não, não... Já tava indo, só tava conversando com um amigo dos tempos de escola.
- Não quero saber quem é! Se eu quisesse saber tinha perguntado. E anda logo. – sai batendo o pé a “velha”.
- É minha mulher pode ser mandona, mas pelo menos ta inteira. Não sabia que você gostava de tão velha assim.
- Não essa daí não é minha mulher, Deus me livre. Essa é minha sogra.
- Desculpa por ter te tratado mal...
- Ué porque ta pedindo desculpa agora?
- Porque eu vi que você está numa situação bem pior que a minha, está fazendo compras com a sogra. Eu não preciso mais competir, você acaba de perder por W.O da vida! – Sai dando risada.
- Vai ficar se enrolando aí. – grita a velha.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Hum... Aí, aí.

Logo depois do almoço.
- Ei... Oh... – cutucou o amigo.
- Que foi?
- Acorda!
- O que já ta na hora de voltar?
- Não, temos mais treze minutos!
- Ah então me deixa aproveitar...
SILENCIO
- Você acredita em vida após a morte?
- Hum?
- Vida após a morte! Morre e vai pra outro lugar.
- Que outro lugar?
- Sei lá, outro lugar que não seja esse...
- Do que você ta falando cara? Essas horas...
- Cara esse é um assunto sério, é um assunto que todos deveriam discutir!
- Mas logo depois do almoço?
- Eu pensei em perguntar durante o almoço, mas não queria estragar a sua fome.
- Meu sono tudo bem estragar?
- Foi mal...
SILENCIO
- E vida após o almoço você acha que existe?

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- Eu queria fazer um brinde!
- Querido para com isso... – disse puxando-o pelo terno.
- Para por quê? Deixa eu fazer meu brinde.
- Porque isso é um velório!

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Os dois estão deitados lado a lado na cama depois da “ação”
- Hum... – Ela dá um longo suspiro. – aí, aí!
- O que foi?
- O que foi o que?
- Você fez: “hum”, seguido de um suspiro e um aí, aí...
- E?
- E esse é o sinal universal de quem quer falar alguma coisa!
- Da onde você tirou isso!
- Foi comprovado cientificamente.
- Rá-Rá! Engraçadão.
- To falando sério. Fizeram teste em ratos de laboratório.
- Ratos?
- É toda vez que a rata chegava perto do macho ela soltava um hum, seguido de um suspiro e um aí, aí. Eles entendiam que ela queria falar alguma coisa!
- Nossa que nada a ver.
- Fala isso para os cientistas.
- Eu não to querendo falar nada!
- Tem certeza?
- Tenho! Se eu quisesse falar alguma coisa, já teria falado!
SILENCIO
- Hum... – mais um longo suspiro. – aí, aí!
- A-RÁ! Sabia.
- Sabia o que?
- Que você queria falar alguma coisa.
- Eu não quero falar nada.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Então porque to com a impressão que você quer falar algo.
- É só impressão.
- É deve ser só impressão.
Silencio, ele começa a cochilar, ela cutuca ele.
- O que você está fazendo?
- Cochilando.
- Não é pra cochilar!
- Por quê?
- Porque eu quero conversar.
- Ué, mas você não falou que não tinha nada pra falar.
- Eu realmente não tinha, só que você ficou insistindo tanto que eu arrumei algo, agora pode fazer o favor de se manter acorda!
- Hum... – suspiro. – aí, aí!

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- Eu queria fazer um brinde também.
- Querido. – Puxa-o pela camisa.
- Que foi dessa vez?
- Senta.
- Porque? O senhor ali acabou de levantar a taça e fazer um brinde.
- Aquele é o padre...
- Ah...

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No consultório.
- Pode sentar-se fique a vontade. – diz o médico.
- Obrigado, to meio nervoso nunca fiz isso.
- Relaxe, fale-me um pouco sobre você.
- Tem certeza que quer que eu fale sobre a minha pessoa? Não sei se interessa.
- Interessa sim, você é muito importante.
- Não sou não...
- Conta a sua história que eu vou provar isso pra você!
- Olha acho que essa é uma aposta que o senhor vai perder, eu conheço a minha história, já estive nela e posso confirmar não é nem um pouco interessante.
- Mesmo assim conte!
- Posso contar de outra pessoa? Tem um amigo meu que tem uma história sensacional.
- Não quero falar sobre ele, queremos que você se abra.
- Não vale a pena. Vamos pegar uma história boa!
- Não quero uma boa, quero a sua!
- Ih pelo jeito o senhor já conhece. Só pelo jeito que falou...
- Não conheço... É modo de falar.
- Mesmo assim acertou o chute.
- Mas não foi um... Esquece. Vamos do começo, porque você veio aqui?
- Tem certeza que quer falar de mim?
- Sim.
- Mais eu paguei, posso falar sobre quem eu quiser. Vamos aproveitar melhor esse dinheiro, não desperdiçar falando de mim.
- O senhor tem complexo de inferioridade.
- Que isso, eu não mereço tanto!

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- Se alguém tiver alguma coisa contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre!
- Eu...
Todos olham para trás.
- Querido...
- Eu queria fazer um brinde!