segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Academia


Hoje em dia está na moda ir para academia em casal. O que é um erro, já que lá está uma concentração de mulheres que o homem casado trairia sua mulher, e os homens com quem a mulheres sonham que seus maridos fossem.
Deveriam fazer uma academia só com casados. Terminou um relacionamento é dispensado da academia.
- um... dois... três... Faz tempo que eu não vejo a Paula e o Beto... oito... nove... dez... será que eles desistiram? – termina e reveza com a esposa.
- Não. Eles terminaram. Um... dois... três...
- Mentira.
- Sim. Sete... oito... nove...
- Mas e só por isso pararam?
- onze... doze... É. Não podiam continuar. Esqueceu que aqui é só para casados?
- Mas Ela podia fazer com a gente.
- Nivaldo, você está querendo revezar em três?


- O que você estava olhando para a bunda dela.
- Não estava olhando para bunda dela, tava vendo a postura dela.
- Então agora você é personal trainer e eu não sabia.
- Amor, eu queria saber qual é o exercício.
- Pera aí você queria saber qual é o exercício ou a postura?
- Oi?
- Me poupe né Eduardo.
- O quê?
- Você acha que uma mulher daquela, iria querer algo com alguém como você.
- Ué, porque não.
- Você é um banana. Olha quanto homem forte tem por aqui. Por que ela se interessaria justo por você?
- Justamente por isso. Porque aqui todo mundo é igual. E eu sou diferente. Me destaco na multidão.
- Não você não se destaca. O que se destaca é a sua barriga.

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Na academia tem dois tipos:
Os que se preocupam em erguer muito peso.
- Eu já ergui 50 kg só com a mão direita.
- Eu ergo isso com o mindinho.
- Eu só ergo isso com o pênis.
- Eu erguia com a língua, mas agora que você disse que ergue com o pênis eu não vou erguer mais.


E os que não estão nem ai.
- Ta muito pesado.
- No começo é assim mesmo.
- Tem certeza? Não parece normal.
- Sim.
- Mas eu não to conseguindo.
- Força.
- Tem como diminuir um pouco?
- Você está fazendo só com a barra.
Silencio.
- Tem uma barra mais leve?
- Mais leve?
- É, uma outra barra?
- Que outra barra?
- Sei lá, barra de chocolate.
- Por favor, volta a fazer seu exercício.

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Já ouvi depoimentos de pessoas que disseram que eram viciadas em academia. Ta ai um vicio que eu nunca vou ter.

- Estamos aqui reunidos hoje, no VEAA: Viciados Em Academia Anônimos. Quem quer falar primeiro.
No meio um homem, forte, ergue o braço.
- Que bíceps – é o comentário de geral.
- Meu nome é Jonas.
- Oi Jonas. – falam todos em uníssono.
- Hoje faz dois dias que eu não vou a academia. Eu sou um viciado em academia. Gosto de erguer peso olhando para o espelho. Cumprimentar gente que eu não conheço fazendo cara de mal e de revezar. Estou sofrendo muito. Não é fácil ser fracote.
- No começo é assim mesmo.
- Mas estou me esforçando. Como se tivesse fazendo um supino reto com um peso que nunca levantei. Esforçando-me muito. Hoje por exemplo, fiquei em casa comendo besteira e assistindo televisão.
- Muito bem.
- Alguns momentos fui coçar meu pé, então comecei a fazer abdominal.
- Não! – falam todos desanimados.
- Sorte que minha mãe estava em casa então jogou um pedaço de bolo de chocolate na minha cara.
- Ufa! – Como se tivesse passado uma bola quase entrando no ângulo do nosso goleiro.
- Por muitas vezes me pego pensando eu correndo na esteira, ao som de uma musica pop no ultimo volume e me da vontade de chorar. Mas eu sou forte. E vou aguentar. Pra não ser mais.
- Muito bem Jonas. Pode contar com a gente.
- Três séries de doze? – pergunta um dos fortões, lá do meio.

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Você sabe que está fora de forma, quando vai fazer a matricula na academia, e quem te atende pede pra tirar uma foto pra usar no antes e depois.

- Tudo bem.
- Opa, tudo bem, demorou mais veio hein.
- Oi?
- Era pra ter vindo a muito tempo.
- Pois é, mas é que eu estava fazendo umas outras coisas.
- Mas a academia é prioridade.
- Foi o que a minha mulher falou.
- Então você trabalha com a sua mulher.
- Não. ela só queria que eu viesse de uma vez.
- Eu também.
- Então, finalmente eu vim.
- Ta, pode me seguir.
O homem sai de trás do balcão.
- Mas é assim?
- Não sei, você precisa de alguma coisa.
- Não tenho que fazer uma matricula?
- Tem?
- Tem?
Silencio.
- Faz primeiro, depois mexo na papelada.
- Então ta bom.
Os dois vão caminhando entre os aparelhos e as pessoas malhando. O homem forte na frente.
- Mas eu posso fazer vestido assim.
- Olha acho que não está vestido adequadamente. Mas não sou eu que vai dizer isso.
- Quem é então?
- Teu chefe.
- Meu chefe? Mas eu não tenho chefe. Sou autônomo.
- Então você que sabe.
Chegam até uma porta. O instrutor, bombado, abre. É um banheiro, ao abrir a porta libera um cheiro mais forte que o mais forte da academia.
- Que nojo!
- Você demorou a situação agravou.
- Eu demorei?
- Sim, já estou ligando pra virem arrumar, faz mais de um mês.
- E eles não mandaram ninguém?
- É, se você não viesse arrumar hoje, ia cancelar e ligar para outro.
- Arrumar?
- É, entupiu.
- Mas eu não sei mexer com isso.
- Como assim? Demoraram tanto pra enviar alguém e mandam alguém que não sabe? isso é um descaso.
- Pera aí, deve estar havendo um mal entendido.
- Deve mesmo. Pedi um encanador mandaram alguém que não sabe mexer e que tem nojinho.
- Desculpa não poder ajudar.
O fortão fecha o banheiro.
- Eu vou ligar hoje mesmo na empresa. Isso é uma palhaçada. Acham que estão lidando com quem?
Atravessam toda academia de volta para o balcão.
- Você tem toda razão. Tem que ligar mesmo. É de direito.
O instrutor fica parado atrás do balcão. O homem de frente para ele. Os dois ficam olhando-se.
- O que você quer aqui ainda? Pode ir embora.
- Queria fazer academia.
- Quer fazer academia?
- É, vim, minha mulher disse que se eu não voltasse com a matricula feita e suando, ela ia me deixar.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Primeira viagem


Dizem que você só conhece uma pessoa quando viaja com ela.

Trilha de suspense.
Entra um apresentador tão assustador quanto a trilha de suspense.
- Um casal. Com poucos meses de namoro. Resolveu viajar para uma ilha deserta, ficar na “choupana” de um amigo. Ele, o namorado, resolveu fazer um diario da viagem, todos os dias no fim da noite gravar uma espécie de documentário pra registrar a primeira viagem deles como casal e um dia reproduzir no casamento, mostrar para os amigos, filhos, netos, etc.
O que segue abaixo são fortes imagens do que acontece quando você viaja com quem acha que conhece.

Primeiro dia de viagem, ele e ela estão em frente à câmera. Os dois sorrindo, felizes por estarem juntos.
Para a câmera.
- Oi eu sou o Anderson.
- Oi eu sou a Clara.
- E esse é o nosso diário de viagem, resolvemos fazer ele para registrar a nossa primeira viagem juntos, estamos na casa de um amigo numa praia paradisíaca, numa ilha deserta.
- Parece que estamos na ilha de Lost.
- hahahaha... engraçadona. Temos a ilha só pra nós. A ilha é nossa!
- Nossa e do urso que está lá fora.
Ele olha para ela e ri.
- Está chovendo, mas segundo a previsão do tempo amanhã vai dar sol.
- Isso. Ta com cara mesmo. É chuva de verão.
- Agora vamos descansar porque foi uma longa viagem.
- Foi longa porque ele se perdeu e não quis parar para pedir informação.
Vira para ela.
- Eu não me perdi Clara, peguei o caminho mais longo para ficarmos mais tempo juntos.
- eu sei amor, to brincando.
Silencio. Volta para a câmera.
- Como eu sou um cara prevenido e sabia que em algum dia ia chover trouxe jogos, baralho, domino, xadrez, quite praia dia de chuva.
- Ih já não basta perder na cidade, quer perder aqui também.
- Coitada. Agora vamos desligar e aproveitar que não podemos sair e brincar aqui dentro. E eu vou mostrar pra você como seu namorado é bom.
Os dois se beijam apaixonadamente. Ele desliga a câmera.

Segundo dia de viagem, os dois novamente em frente à câmera.
Para a câmera.
- Opa aqui é Anderson.
- E aqui a Clara.
- Segundo dia de viagem.
- E a chuva continua.
- Continua, mas estamos nos divertindo mesmo assim.
- É.
Silencio. Ele para de olhar para câmera e olha para ela.
- Estamos mesmo.
- Foi isso que eu disse.
Ele balança a cabeça.
- Isso tudo é muito romântico. O lugar, o ambiente, a casa.
- A chuva, os pernilongos, a goteira.
Ele olha para ela.
- Desculpa.
Silencio.
- É muito bom viajar, recomendo a todos fazer isso, pegar umas férias e ir para um lugar longe do trabalho, do transito, da internet...
- Do mercado, padaria, posto de gasolina. – irônica.
- Isso. – ele não pega a ironia dela. – esquecer dos problemas, do estresse...
- Do repelente.
Agora ele entende.
- Já estamos planejando o dia de amanhã. Pelo jeito amanhã o sol vai sair.
Mostra a janela. Da um trovão bem na hora.
- Enquanto ele não sai continuamos nos divertindo onde é coberto e debaixo dos cobertores.
Da uma piscadinha para câmera.
- Até porque não da pra fazer nada lá fora.
Silencio.
- Vamos desligar, voltamos amanhã, com marquinha de biquíni.
- Eu vou fazer top less.
- Oi?
- Só tem nós e o urso nesse lugar. Ele não vai dar em cima de mim.
- Engraçadona. Cambio desligo.
Dão um beijo, desligam a câmera.

Terceiro dia de viagem. Os dois em frente a câmera. Ele sorrindo. Ela não.
Para a câmera.
- Olha eu aqui de novo, Anderson.
Silencio.
Olha para ela.
- Amor.
Olha para ela.
- Eles já sabem quem eu sou.
- Clara.
- Oi, eu sou a Clara.
Ele volta a olhar para a câmera.
- Esse é o nosso diario de viagem, terceiro dia de viagem, num dos lugares mais lindos que eu já vi.
- Mas você não saiu de casa ainda não parou de chover.
- Mas é que meu amigo já me mostrou umas fotos. Eu sei que é lindo.
- Tava chovendo nas fotos também, porque pelo jeito nesse lugar só chove.
Ele olha para ela. Então volta a olhar para câmera.
- Como podem reparar ainda não parou de chover.
Filma pela janela, chove muito.
- Mas amanhã vai parar de chover.
- Vai sim. – irônica.
- Vai, eu coloquei ovos para santa Clara.
- Os últimos ovos.
- Vai valer a pena.
- Você colocou os últimos ovos na chuva?
- To tentando fazer parar de chover.
- E eu tava querendo fazer um omelete.
- Amanhã quando parar de chover eu vou comprar mais ovos.
Os dois ficam se encarando. Ele volta a olhar para a câmera.
- Ah já acabou a luz três vezes aqui, o que foi muito legal.
- Legal?
- Sim.
- O que tem de legal ficar no escuro e ter que tomar banho gelado?
- Aprendemos a valorizar a luz.
- Eu já a valorizo, não precisa ela acabar pra eu valorizar mais.
- A você entendeu.
A tela na câmera fica escura, porque a luz acaba.
- Quarta vez. – diz ela. Seguido de um trovão.
Ele acende um fosforo.
- Gente, vou ter que desligar, porque a aventura continua. Esse lugar é imprevisível.
- Não é não, eu sei que vai acabar a luz a qualquer momento.
- Vou ir nessa, aproveitar o escuro e brincar de algo.
- Nesse escuro só da pra brincar de gato mia.
O fosforo apaga. Ele da um miado.

Quarto dia de viagem. Ele sozinho em frente à câmera.
- E ai pessoal, Anderson na área, como estamos hoje? Aqui está tudo bem.
Ela senta do lado dele.
- Bem molhado!
Para ela.
- Chegou a pessimista.
- Não é pessimista, é realista.
Para a câmera.
- Ele ta dizendo que eu sou pessimista só porque eu disse que nunca mais vai parar de chover.
- É só uma chuva de verão.
- Sim de verão. Vai durar o verão inteiro.
- rá-rá-rá... engraçadona.
- Fala pra eles que você só perde pra mim nos jogos.
- Coitada.
- Quantos você ganhou até agora?
- Você está contando.
- Não precisa contar, você não ganhou nenhum.
- Ah não?
- Não.
- Não, mas é que eu estava deixando você ganhar, você já esta brava porque estamos presos.
- A estava deixando sim.
- Sim. – fala e da uma piscadinha para câmera.
- Então vamos apostar algo. Ai quero ver você jogando para valer. Apesar de já parecer que você estava jogando para valer.
- Mas não estava. Só que agora vou. Não vou mais deixar. Você quer ser má eu também sei ser má.
- Má? Um bichona.
- Você entendeu. Depois não vem chorar.
- Pode deixar que não. Afinal quem é o chorão aqui é você.
- Então vamos apostar o quê?
- Sei lá
- Fala ai, para a câmera para depois não vir dizer que a aposta não valeu.
- Pode escolher o que você quiser.
- Quem perder tem que ficar sem roupa durante 24 horas.
- E ser comida pelos pernilongos?
- Ta com medo?
- Não, vamos. Eu não vou perder.
Os dois dão as mãos fechando o acordo. Ela levanta e sai.
Para a câmera.
- Vou desligar pra mostrar para essa mulher quem é o macho da relação.
- Macho beta.
- Engraçadona. Cambio desligo.
Ela vem com o baralho.
- Vamos começar com o truco.
- Depois não venha chorar.
Ele desliga a câmera.

Quinto dia de viagem, ele está sério, pelado em frente à câmera, ela de roupa, rindo.
- Oi eu sou o Anderson.
- Vulgo peladão. – da risada.
- Esse é o nosso diario de viagem, estamos no quinto dia de viagem e ainda não parou de chover.
- E ainda por cima esfriou.
Ela fala e ri. Ele olha para ela sério.
- Eu deixei você ganhar.
- Não devia, agora corre o risco de pegar uma gripe. – ri com gosto.
- Não tem graça.
Silencio.
- A chuva continua muito forte. Não podemos sair de casa porque alguém, enquanto eu dormia, afundou o carro num banco de areia.
- Ei, eu estava tentando ir comprar comida.
- Mas ta cheio de comida aqui.
Silencio. Ela parece estar sem resposta.
Apaga as luzes
- Décima vez.
- Vou desligar porque eu estou com frio, esta acabando a bateria e eu não estou mais afim de falar.
- Ta com frio?
Ela fala e ri. Ele fecha a câmera.

Sexto dia. Não gravam nada porque a luz ainda não voltou.

Madrugada do sétimo dia. Liga a câmera. É ela, está sozinha.
- Oi aqui é a Clara, queria registrar isso.
Ela fica em silencio. Ao fundo ouve-se um som como se fosse um grunhido de um urso.
- Estão ouvindo? Não parece um urso? Então, mas não é. É o Anderson. Eu estou aguentando isso desde o primeiro dia. Um fim de semana tudo bem, agora quatro dias seguidos ninguém merece. Fora que ele é preguiçoso. Não mexe um dedo. A casa que ele falou que era algo como ‘uma choupana dos alpes suíços’, ta mais para uma ‘cabana de queijo suiço’. Eu não aguento mais ficar nesse lugar. Quero sair, quero internet, quero transito, quero morrer. Alguém por favor me ajuda. Obrigado por me ouvir, eu precisava desabafar, me sinto muito mais leve. Agora vou voltar pra lá, antes que o urso acorde.
- Clara?
- Acordou!
Desliga a câmera com tudo.

Liga a câmera. Algumas horas depois. Ele sozinho.
- Ih, será que eu esqueci a câmera ligada? Que se dane. Oi. Aqui é o Anderson. Só vim aqui dar um oi, você são os únicos que me escutam. Essa mulher não me ouve. O que aconteceu com a minha namorada? Tão ouvindo isso?
Ao fundo ouve-se um estrondo forte.
- Parece que um urso engoliu ela. – da risada. Não, agora falando sério, tem alguma coisa errada nessa ilha que transformou ela numa vaca. – ri de novo. Acreditam que ela tentou fugir e me deixar sozinho aqui. Sorte que eu acordei a tempo. Ela disse que estava indo comprar comida, mas por que estava levando as malas? Ela não me engana. Achei que deixando ela ganhar nos jogos ela ia ficar mais calma, mas não adiantou.
- Anderson, cê ta falando sozinho de novo? To começando a ficar com medo.
- Vim tomar água amor! – virando para gritar para o quarto. – ela acordou tenho que ir antes que ela pire mais. Desejem-me sorte.
Desliga a câmera com tudo.

Sétimo dia de viagem, ele está sozinho em frente à câmera.
- Oi, eu sou o Anderson e a chuva continua. Será que Deus mandou o diluvio e como estamos sem comunicação com o mundo não ficamos sabendo?
- Para de falar com a câmera como se estivesse falando com alguém.
- Pelo menos ela me ouve.
- Isso porque ela não passou cinco dias inteiro, preso numa casa sem nada pra fazer, com você.
Ela grita de algum lugar longe do alcance da câmera.
- Me deixa inferno.
- Inferno é estar presa nesse lugar com você.
Começam a discutir como se a câmera não estivesse ali.
- Podia ser pior.
- Como?
- Você poderia ser eu e estar presa com você.
- Não faz sentido.
- Não é pra fazer sentido.
Ela vem pra frente da câmera.
- Vou dar uma dica para você que está assistindo isso, se algum dia alguém perguntar para você: “se você fosse pra uma ilha deserta e pudesse levar alguém, quem você levaria”, nunca responda que levaria o Anderson.
- Ah é, não gostou vai embora.
- Quer saber, é isso que eu vou fazer.
Vai em direção ao quarto. Ele pega a câmera na mão e começa a seguir ela.
- Você vai mesmo?
- Vou, não aguento mais ficar nesse lugar.
- Mas o carro está atolado.
- Eu vou andando.
- Está chovendo.
- Se eu for esperar parar de chover vou morar aqui. Eu não aguento mais. To me sentindo o Tom Hanks no filme do terminal.
- Mas o filme que ele fica numa ilha é o Naufrago.
- Você entendeu.
Pega a mala e se encaminha para a porta. Ele segue filmando ela.
- Para de me filmar.
- Eu vou te filmar você indo, pra daqui a pouco quando você voltar com o rabinho entre as pernas, pegar a sua cara de arrependimento.
Ela mostra o dedo do meio para a câmera. Bate a porta e sai. Ele da risadas.
- Vamos terminando mais uma transmissão direta da ilha do medo. Cambio desliga.

Oitavo dia de viagem. ele sozinho de frente para a câmera. Pelado e de óculos escuros.
- Oi eu sou o Anderson, esse é meu diario de viagem, sim meu. Só meu. É meu e eu estou nú com a mão no bolso. – da risada – A Clara não voltou, mas em compensação o sol. – filma pela janela o sol está imponente e o céu sem nenhuma nuvem. – não sei como ela fez mas o carro não está mais no mesmo lugar. Ela conseguiu fazer ele pegar. Por isso ela não voltou. É impossível ir embora andando. O que quer dizer que eu estou preso. Queria ter ido junto com ela. Estou me sentindo tão sozinho. Amor se você estiver assistindo isso me perdoa. Não acho que você é uma vaca louca.
Começa a chorar. Desliga a câmera.

Entra a trilha de suspense.
Mostra o apresentador rindo. Quando percebe está sendo filmado para de rir. Retoma o tom sério.

- O Anderson foi encontrado um mês depois quando o dono da choupana foi ver se a casa estava em ordem depois de ter emprestado para o casal. Ele continuava pelado e de óculos, jogando domino com ninguém, alegando só estava perdendo porque o adversário dele estava roupando. E que não da pra jogar xadrez com peças de dominó.
A fita foi encontrada por um casal, alguns meses depois, que esteve na “choupana”, também, para fugir da rotina. Mas depois de assistir o vídeo desistiu de ficar e foram embora antes que começasse a chover, o tempo já estava fechando. Então procuraram o respectivo dono – Anderson que já havia se recuperado e estava com uma outra namorada. Devolveram a câmera, com a fita, mas não antes de postarem o vídeo na internet.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Alta temporada


Verão: época mais esperada pelo Brasileiro, especialmente a classe média, para poder ir até a praia mais próxima, curtir as férias, feriados, fim de semana ou acordar cedo ir e voltar, que seja.

O casal está esticado na areia da praia, ela tentando pegar uma cor e fazer uma inveja com as amigas quando voltar ao trabalho. Ele só observando o movimento e tentando ficar o máximo possível sem fazer nada, já que é pra isso que ele tira férias.
- Douglas da pra disfarçar?
- Disfarçar o que?
- Ao olhar para as mulheres de biquíni. Não quero ter que tirar ninguém da cadeia.
Ele olha para ela tentando saber conseguiu ver sendo que está deitada de barriga para baixo e olhos fechados.
- Eu não to olhando.
- Douglas.
Silencio.
- Você também olhou para salva vidas.
- Mas é diferente.
- Por quê?
- Ele estava resgatando uma pessoa que estava se afogando. Todo mundo tava olhando.


Todos anos são iguais, com a chegada do verão as praias se entopem de turistas vindo de todos os lados. Setembro/Outubro já começa a procura de imóveis para locação. Casa de praia é igual coração de mãe, sempre cabe mais um. Uma casa com dois quartos na cidade suporta no máximo quatro pessoas. Na casa na praia cabe no mínimo quinze, e se você quiser vir ainda tem mais um espacinho na lavanderia. Só traz o colchão.

Os casais entram na casa, são quatro, mas ainda tem mais dois pra chegar, fora os solteiros.
- Então e a Flavia ficamos com o quarto de casal.
- Por que você e a Flavia? – questiona o segundo casa.
- Porque nós que vimos a casa.
- E o que é que tem. Agora a gente também ta vendo.
- Sim, mas nós é que fizemos a reserva, corremos atrás.
- E dai? Todo mundo ta pagando igual.
- Exatamente. Todos tem o mesmo direito. Mas como é o primeiro ano que a gente esta vindo, acho que seria de bom grado você cederem o quarto principal pra mim e para o Glauco.
- Negativo, vocês vão para o final da fila.
- Fila?
- Não tem uma fila.
Olha para ele de cara feia, estão tentando excluir um da concorrência.
- Ah, sim, não tem uma. Tem duas. A dos casais e dos solteiros.
- Ta, mas então quem vai ficar com o quarto?
- Temos que decidir antes que chegue o resto do pessoal.
- Vamos fazer o seguinte. Ver quem está a mais tempo junto.
- Nós estamos a quatro anos.
- Nós estamos a cinco.
- A gente a seis.
- Sete Rogério.
- Isso, sete. Mas é que quando eu to contigo perco a noção do tempo amor, você é...
- Ta bom, já sei, já sei, eu te desculpo. – interrompe.
- Nós estamos a um ano.
- Vocês ficam com o quarto.
- Ei, por que eles? – todos protestam.
- Porque eles estão juntos a apenas um ano, eles ainda transam.


Segundo pesquisas confiáveis a chances de chover na praia justamente no fim de semana que você desceu é de 90% com margem de erro de 60% para mais.

Todo mundo da casa está dormindo, já que chove incessantemente a dois dias, a televisão não pega porque as tomadas da casa são de 220 Volts e os jogos geraram algum tipo de confusão: na damas só veio peça preta, o que gerou confusão. O Stop terminou após uma discussão sobre como o pode o tomate ser uma fruta sendo que nunca foi feito chicletes de tomate. E o poker acabou com a policia tendo que vir apartar a briga entre o sogro e genro, o sogro acusou o genro de estar com par de AS na manga, o genro disse que era impossível já que ele estava sem camisa, o sogro não acreditou, disse que ele estava querendo roubar os feijões de todos.
A mulher entra no quarto, passa por cima de varias pessoas jogadas em colchões espalhado por todos os lados, vai até uma das camas.
 - Amor.
Silencio
- Amor.
Silencio
- Amor.
- O que foi Danusa?
- Passa bronzeador nas minhas costas.
- Parou de chover? – pergunta sem nem se dar ao trabalho de abrir os olhos e olhar pela janela.
- Não.
- Então porque você quer que eu passe bronzeador? – abre os olhos para ouvir a resposta.
- Porque é a lei da atração. Eu passando estou atraindo o sol.
Ele fica em silencio olhando para ela.
- Vai, passa. Passa nas minhas costas, depois eu passo nas suas.
- Eu não vou passar bronzeador para dormir.
- Ah, aposto que fosse alguma gostosa na praia você passaria né. – fala e levanta. – deixa eu vou procurar um salva vidas gostosão para passar pra mim.
- Ta bom, leva guarda chuvas.
- E quando voltar traz pão. – Pede alguma pessoa dentre os 20 colchões.


As praias estão cada vez mais lotadas, é difícil você achar um lugar para se instalar num dia quente de alta temporada. Você está tendo que chegar cada vez mais cedo para conseguir um lugar ao sol. Tem famílias que fazem revezamento, enquanto o pai vai pra casa tomar banho e descansar a mãe fica cuidando do lugar, o turno da noite o pai fica e a mãe vai. As praias estão cada vez mais lotadas e tem pais descuidados que perdem o filho sem querer, outros perdem por querer, mas nesses casos o filho quase sempre é achado, porque nenhum sequestrador aguenta. Para que isso não aconteça os bombeiros estão distribuindo pulseiras de identificação na praia, as crianças ficam com pulseiras no braço, parece que acabaram de sair de uma balada na qual todas entraram no camarote. Alguns pais sugeriram que seria melhor uma algema de identificação.

A mãe chega desesperada para o salva vidas.
- Meu filho sumiu. Por favor. Me ajuda.
- Ele estava no mar?
- Não.
- Sumiu quando nadava?
- Não. Ele sumiu na areia.
- A senhora já viu se ele não esta enterrado por ai?
- Oi?
- Acontece, já encontramos três casos de pais que enterram o filho e esquecem de desenterrar então ficam desesperados procurando.
- Não, eu não enterrei ele.
- A senhora já ligou no celular dele.
- Moço ele não tem celular, ele só tem quatro anos.
- Quatro anos e ainda não tem celular, coitado, deve sofrer bullying.
Ela olha para ele sem entender.
- Ele está com a pulseira com os dados dele e da senhora?
- Sim.
- Então é só esperar que quando alguém se der conta que ele está perdido, vão nos procurar.
- Mas e se ele tirou a pulseira?
- Ai se um dia ele voltar para casa a senhora vai ter que ter uma conversa séria com ele, porque colocamos aquilo para a segurança dele.


A praia é um rodizio de comidas gordurosas á céu aberto. Lá vende de tudo o que você deixa de comer o ano inteiro para poder estar ali sem peso na consciência. Tem salgado, churrasquinho, churros, etc. a única vantagem de consumir esses alimentos na praia é que se cair na areia é só você juntar, soprar o excesso de areia e comer. Já que são todos a milanesa.

Ele está sentando na areia com um prato no colo. Se aproxima um garçom de gravata borboleta, sunga e um espeto.
- Linguiça?
- Não, queria coraçãozinho.
- O cara do coraçãozinho ta vindo, parou a três guarda-sóis.
- Linguiça moça?
- Queria um queijinho.
- O queijo acabou.
- Aaaah...
O garçom observa que ela ficou decepcionada. Se aproxima.
- Se a senhora ta muito afim mesmo de um queijinho eu conheço um banana de pijama que tem um de primeira.


A verdade é que as pessoas trabalha o ano inteiro e durante as férias não querem fazer nada. Quer melhor lugar do que não fazer nada do que a praia? Quem mora na praia tem alvará para ser vagabundo. O Brasil só não é um país de primeiro mundo por causa da quantidade de praias que tem.

Ele mal chegou na casa e já está estirado no sofá, posição que pretende praticar durante toda as férias.
- Amor, me ajuda a desfazer as malas.
- Não, eu não vou fazer nada. To de férias. Vim pra praia pra não fazer nada.
- Então pelo menos leva os colchões pra tomar um sol, devem estar com cheiro de mofo. Desde ano passado ninguém vira eles.
- Pede pro Daniel, eu não quero fazer nada.
- Nivaldo, assim não vai dar!
- O quê? Eu vim pra descansar, posso? Trabalhei o ano inteiro pra tirar férias. É só o que eu quero. Não fazer nada.
- A tá! e eu vou ter que fazer tudo sozinha?
- Não.
- Ah...
- Por isso trouxe os meninos. – vira para a porta. – querem fazer o favor de vir ajudar sua mãe.


Segundo pesquisas confiáveis – dmais confiáveis do que as apresentadas acima, essas são confiáveis mesmo, guardam segredo e tudo mais. Então essas pesquisas mostram que no fim do: verão, das férias, feriado, fim de semana, ou do dia que você foi para a praia, 257% volta mais cansado e estressado do que quando foi. E desses 257%, 300% promete que nunca mais vai para a praia em alta temporada.

Chegam em casa depois de oito horas no transito voltando da praia.
- Finalmente em casa. Lar doce lar.
- Nossa não aguentava mais. Não vejo a hora de voltar a trabalhar.
Começa a descarregar o carro.
- Eu me estressei mais nas férias do que trabalhando.
- Nossa que exagero.
- Exagero nada. Ainda bem que só temos um mês de férias no ano. As próximas férias eu vou vender.
- Olha se for igual essa que a gente passou na praia, duvido muito que alguém vá querer comprar.