O
casal está em casa, em frente a televisão, almoçando, como um típico casal
brasileiro. Toca a campainha. Os dois se olham.
-
Atende lá.
- Eu
to almoçando.
- E
eu não?
-
Mas eu estou com a boca cheia.
Fala
e enfia uma garfada cheia de comida na boca.
Toca
a campainha. A mulher coloca o prato sobre o sofá e vai balançando a cabeça. Atende
a porta. Tem um homem parado, vestido como padre, mas com roupa e chapéu um
pouco mais extravagante.
-
Não queremos comprar nada.
-
Comprar nada o quê?
- O
que você está vendendo.
-
Mas eu não estou vendendo nada.
-
Hmmm.
Silencio.
-
Então, estamos aqui a respeito do Papa.
-
Amor, é pra você. – grita em direção a sala.
- Eu
to comendo. – devolve o grito.
-
Ele ta almoçando.
-
Ele quem?
- O
Papa.
Silencio.
Os dois ficam encarando-se. Ela vai fechar a porta, o homem de vestido segura.
- Viemos
para o conclave.
- Conclave?
- É,
para escolhermos o novo Papa.
-
Não queremos participar.
-
Participar?
-
Roberto, vamos participar do conclave. – grita para a sala.
-
Não, eu to assistindo o jornal.
-
Obrigado pelo convite, mas hoje não da mesmo.
Vai
fechar a porta, o embatinado segura a porta com o pé.
-
Meu senhor, meu prato de comida está esfriando.
-
Ok, não vou mais te segurar. Deixa a gente entrar. Vamos lá pra trás, no máximo
em três dias já devemos ter escolhido. Vocês nem vão notar que estamos aqui.
- Oi?
-
Você tem um quartinho lá atrás?
-
Sim.
-
Então, vamos pra lá...
-
Vamos?
- É.
Acena
para alguém do lado de fora. Varios senhores de idade vestindo o mesmo traje de
padre, empurram a porta e começam a entrar.
-
Roberto. – grita chamando o marido.
- O
que foi Denise!
-
Como é o nome dos homens que escolhe quem vai ser o novo papa?
- Eu
lá vou saber. Deixa eu assistir.
-
Cardeais. – responde o senhor enquanto segura a porta. Os cardeais continuam a
entrar. Cada um que entra joga um pouco de agua benta na mulher.
Passa
o ultimo, um bem velhinho, com andador.
-
Acho que é isso.
O
homem que estava na porta entra e encosta a porta. a mulher está paralisada.
-
Muito obrigado.
Ele
fala e segue a procissão de homens de vestido em direção aos fundos da casa.
Ele para e volta.
-
tem carvão?
-
Pro negócio da fumaça?
-
Não, pra fazermos um churrasco mesmo.
-
Tem lá atrás.
-
Obrigado.
Vai.
Ela
volta para a sala, ainda em choque, pega o prato que está no sofá, senta-se.
Ameaça falar alguma coisa. O marido interrompe antes que ela comece. Aumenta o
volume.
-
Vão falar sobre a escolha do novo Papa.