sábado, 2 de março de 2013

Novo Papa


O casal está em casa, em frente a televisão, almoçando, como um típico casal brasileiro. Toca a campainha. Os dois se olham.

- Atende lá.
- Eu to almoçando.
- E eu não?
- Mas eu estou com a boca cheia.
Fala e enfia uma garfada cheia de comida na boca.
Toca a campainha. A mulher coloca o prato sobre o sofá e vai balançando a cabeça. Atende a porta. Tem um homem parado, vestido como padre, mas com roupa e chapéu um pouco mais extravagante.
- Não queremos comprar nada.
- Comprar nada o quê?
- O que você está vendendo.
- Mas eu não estou vendendo nada.
- Hmmm.
Silencio.
- Então, estamos aqui a respeito do Papa.
- Amor, é pra você. – grita em direção a sala.
- Eu to comendo. – devolve o grito.
- Ele ta almoçando.
- Ele quem?
- O Papa.
Silencio. Os dois ficam encarando-se. Ela vai fechar a porta, o homem de vestido segura.
- Viemos para o conclave.
- Conclave?
- É, para escolhermos o novo Papa.
- Não queremos participar.
- Participar?
- Roberto, vamos participar do conclave. – grita para a sala.
- Não, eu to assistindo o jornal.
- Obrigado pelo convite, mas hoje não da mesmo.
Vai fechar a porta, o embatinado segura a porta com o pé.
- Meu senhor, meu prato de comida está esfriando.
- Ok, não vou mais te segurar. Deixa a gente entrar. Vamos lá pra trás, no máximo em três dias já devemos ter escolhido. Vocês nem vão notar que estamos aqui.
- Oi?
- Você tem um quartinho lá atrás?
- Sim.
- Então, vamos pra lá...
- Vamos?
- É.
Acena para alguém do lado de fora. Varios senhores de idade vestindo o mesmo traje de padre, empurram a porta e começam a entrar.
- Roberto. – grita chamando o marido.
- O que foi Denise!
- Como é o nome dos homens que escolhe quem vai ser o novo papa?
- Eu lá vou saber. Deixa eu assistir.
- Cardeais. – responde o senhor enquanto segura a porta. Os cardeais continuam a entrar. Cada um que entra joga um pouco de agua benta na mulher.
Passa o ultimo, um bem velhinho, com andador.
- Acho que é isso.
O homem que estava na porta entra e encosta a porta. a mulher está paralisada.
- Muito obrigado.
Ele fala e segue a procissão de homens de vestido em direção aos fundos da casa. Ele para e volta.
- tem carvão?
- Pro negócio da fumaça?
- Não, pra fazermos um churrasco mesmo.
- Tem lá atrás.
- Obrigado.
Vai.
Ela volta para a sala, ainda em choque, pega o prato que está no sofá, senta-se. Ameaça falar alguma coisa. O marido interrompe antes que ela comece. Aumenta o volume.
- Vão falar sobre a escolha do novo Papa.