quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AMIGO "SECRETO"

O casal está na cama. O homem lendo um livro. A mulher não está fazendo nada. O que incomoda o marido.
- O que você quer Denise?
- O que eu quero o quê?
- O que você quer de mim.
- Eu quero que você diga.
- Eu já disse que não vou dizer. Vai dormir.
- Não consigo a luz está na minha cara.
- Você dorme todo dia com a luz na cara.
- Mas eu mudei.
- De ontem pra hoje?
- Sim, por que, tem um tempo certo para mudar agora?
- Não.
- Quer que eu desligue a luz.
- Não, pode deixar ligada, eu vou ter que mudar de novo.
Ele fica olhando para ela. Então fecha o livro e desliga a luz.
Silencio. No escuro.
- Não vai mesmo me falar.
- Denise, é amigo secreto. Secreto.
- Mas eu não vou falar para ninguém.
- Nem eu.
Silencio.
- É alguém que eu conheço?
- Não vou falar.
- É mulher?
Silencio.
- Homem?
Silencio.
- Faz o seguinte, se for mulher você fica em silencio, se for homem você boceja.
Silencio.
- É mulher, sabia que era mulher.
Ele boceja.
- Não é homem, achei que era mulher mas sabia que era homem, é o Patricio.
Silencio.
- É mulher ou é homem?
Silencio.
Ela liga a luz.
- Robson, se você não me falar quem é está tudo acabado, somos um casal, temos que dividir as coisas.
- Mas é só um amigo secreto.
- Não é só um amigo secreto, é um amigo secreto, secreto vem de segredo, casais dividem segredos, se você não quer dividir um segredo comigo é porque não acha que devemos ser um casal, logo é melhor nós nos separarmos.
Silencio.
- Porra, você acaba com qualquer brincadeira, eu peguei você, você sua estraga prazeres. Parabéns acabou com tudo.
Ele desliga a luz. Os dois ficam em silencio.
- Você não vai me dar um presente de 30 reais só né?

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LISTA DE AMIGO SECRETO DOS APÓSTOLOS
Presentes até 10 moedas de ouro.
André: sandálias.
José: um cordeiro.
Tiago 1: sandália
Tiago 2: um vestidão da GAP
Filipe: um cajado.
Tomé: Um jogo de cálice.
Simão: sanadalias.
Judas:
Bartolomeu: vara de pesca.
João: Um vestidão da Armani.
Pedro: sandálias.
Jesus: O que o coração de quem me pegar mandar//mirra
Mateus e Paulo não quiseram participar.

Pós amigo secreto dos apóstolos.
- Por que você está com essa cara?
- Porque me deram mirra.
- Puta merda. Quem pegou você?
- Judas.
- Sabia.

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- Oi, Roberto né.
Ela chega no RH, entra pela segunda vez, a primeira foi quando fora contratada a quatro anos atrás.
- Isso.
- Tudo bem?, eu sou a Patricia do Marketing.
- Tudo bem sim.
- Então, eu queria saber o que assim, mais ou menos, você quer ganhar de amigo secreto.
- Você que me pegou?
- Não. Não, eu não. Da onde você tirou isso.
- Não é que você está perguntando.
- Que nada, é amigo secreto, não faria sentido nenhum eu perguntar assim.
- É não faria mesmo.
Silencio.
- É que a pessoa que te pegou pediu para eu perguntar, o que você quer ganhar?
- Qualquer coisa.
- Qualquer coisa não, fala vai.
- Não, sério, pode dar qualquer coisa.
- Não, não é qualquer coisa, fala, porque senão fala a gente da qualquer coisa a pessoa sai por ai, pelos corredores, falando mal, mas não sabe que a maioria das pessoas na empresa não se conhecem ou não trocam mais do uns abanos de cabeça e uns “nossa e esse tempo que não firma ein”, no cafezinho.
O homem fica assustado, os funcionários do setor de RH param.
Silencio.
- Pode ser uma camiseta.
- ótimo, vou avisar a minha amiga. Obrigado.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ESPIRITO NATALINO

Pai e mãe sentam de frente para o filho.
- Filho, acho que a gente precisa conversar.
- Vocês vão se separar?
- Não...
- Se for isso ok, eu não ligo, só quero um vídeo game em cada casa e uma mesada de cada um, afinal de contas agora só ganho uma porque vocês moram juntos. Vocês separando fica melhor para mim.
- Não é isso, ta doido.
- Eu e o seu pai nos amamos.
- Tem certeza, pode ser engano. Vocês acham que se amam mais é só ilusão. Tem muita gente no mundo. Pensem direito.
- Filho. Nós não vamos nos separar.
- Droga. Então o que é?
- Seguinte, não sabemos muito como dizer isso.
- É difícil.
- Mas você já está virando um hominho. 10 anos.
- dez e meio pai.
- Dez e meio. Isso. Dez e meio, já sabe assimilar as coisas.
- Já sabe que o mundo que vivemos as vezes pode ser cruel.
- Tipo levando o Rex.
- Ou a sua avó.
- Mãe nós estamos falando das coisas ruins que o mundo fez.
O papai concorda com o filho.
- Então acho que está na hora de você saber.
- Fala de uma vez Nunes.
- Ta na hora de você saber que o Papai Noel não existe.
Silencio.
- Porra pai. Sério?
- Sério, não existe. Sei que é difícil para você assimilar isso agora, mas logo tudo vai ficar mais claro pra você.
- Não, to falando sério que você achou que eu ainda acreditava que o papai noel existisse.
- Não acreditava?
- Vocês sabem que eu tenho acesso a internet né.
Os pais ficam olhando para o filho.
- E o coelhinho da pascoa.
O filho balança a cabeça como se dissesse que também já sabia que não existe.
- Fada do dente?
- monstro do armario, velho do saco...
- sei que tudo isso é inventado.
- Então por que não nos falou antes?
- Porque eu não queria decepcionar vocês.
Silencio.
- Posso ir?
- Pode.
O filho passa a mão na cabeça dos pais para reconforta-los, vai para o quarto.
- Meu Deus, ingenuidade também não existe mais.

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O marido chega do trabalho a mulher está sentada a mesa, de cabeça baixa, escrevendo a mão.
- OI...
Silencio.
- o que você está fazendo, psicografando uma carta?
- Não, estou fazendo a lista de natal?
- Já, mas estamos em novembro ainda.
- Ainda, não, já! Falta um mês.
- Então.
- Então que eu já estou fazendo.
- Ok.
- O que você vai dar para sua mãe?
- Não sei.
- E para o seu pai.
- também não sei.
- Seu irmão?
- Deixa eu ver... não sei.
- Nossa, você não esta ajudando.
- Ué, mas quem está fazendo a lista é você.
- Só por isso você não pode ajudar.
- Não sei, ainda não estou sentindo a magia do natal, então não consigo forçar.
- Então faz o favor de dar uma jeito de baixar esse espirito que eu preciso de ajuda.
- O que você vai dar para o seu irmão.
- Acho que aquela gravata que eu ganhei de aniversário, lá do pessoal da empresa.
- Mas você usou?
- Não, você acha que eu ia usar aquela coisa horrível?
- Ok, então já economizamos aqui. E pra sua mãe?
- Podemos dar aquele jogo de chá que você herdou da sua tia, ta encalacrado lá no quartinho.
- Boa! Seu pai?
- Você lembra onde eu coloquei aquele canivete suíço que eu ganhei de amigo secreto.
- Sim, está naquela caixa de coisas inúteis em cima do guarda roupas.
- Um presente a menos.
- ótimo.
- Quem mais?
- Minha mãe.
- O que temos sobrando?
- Deixa eu pensar... eu tenho um porta CD que eu ganhei no amigo secreto do ano passado.
- Nossa senhora, quem é que tem CD ainda?
- CD eu não sei, mas porta CD eu tenho, alias minha mãe tem.
- Beleza. Agora seu pai...
- Posso dar o vinho da sexta de natal.
- Isso, não vamos passar lá mesmo, não precisaremos tomar.
- Maravilha.
- Agora só falta o seu presente e o meu.
Os dois se olham.
- Você não está pensando em reutilizar um presente que ganhou em outra data para me dar né.
- Não. Ta louca.
- Então o que você vai me dar?
- é surpresa.
- Não precisa fazer surpresa pode falar.
- Fala você primeiro que dai eu falo.
- Eu ainda estou escolhendo.
- Eu também.
Silencio.
- Acho melhor não trocarmos presentes esse ano. Vamos dar em dinheiro.
- É melhor mesmo.
Daquele dia da lista de natal em diante, nunca mais nenhum dos dois trocaram presentes, datas comemorativas davam envelopes com dinheiro.

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Casa do Papai Noel. Julho.
Papai Noel está só de samba canção e regata, deitado no sofá, assistindo televisão. A mamãe Noel está limpando a casa. Ela tenta varrer a sala, ele atrapalha. Ela perde a paciência.
- Noel.
- Oi? – Ele fala sem tirar os olhos da TV.
- Acho que você precisa arrumar um emprego.
- Como assim arrumar um emprego? Eu tenho um emprego.
- De um mês.
- Um mês e meio.
- Que seja. Acho que precisa arrumar um emprego convencional, que trabalhe onze meses e folgue um, não que folgue onze meses e trabalhe um.
- um e meio.
- Você entendeu.
- Não, não entendi. O que está acontecendo, está faltando alguma coisa para você, estou deixando faltar...
- Não, não, ta doido.
- Ta, então o que é?
- Sei lá, é que eu vejo os maridos das minhas amigas, eles estão sempre trabalhando.
- Mas eu não tenho culpa se meu trabalho só exige um mês e meio de mim.
- Eu sei que você não tem culpa, mas pode mudar. Por que você não arruma um trabalho normal, de contador, auxiliar administrativo, caixa...
- Pera aí Mamãe, para de enrolar, fala de uma vez o que há?
- Eu não aguento mais você em casa.
- Mas o que é que eu vou fazer lá fora.
- Sei lá, vai levar teus veados para passear.
- São Renas, já falei.
- Que seja, leva eles para passear, vai dar uma olhada como andam as coisas na fabrica, mas sai de casa um pouco.
- Eu não quero que as pessoas me vejam fora de época.
- Mas então tira a barba, assim ninguém vai te reconhecer.
- Ta doida? minha ferramenta de trabalho.
- Mas ainda faltam cinco meses para o natal
- Mas e se não cresce? O que eu vou fazer, a única coisa que eu preciso é barba e barriga, se eu não tiver barba vou ser apenas mais um velho barrigudo, sem barba, um caminhoneiro.
Silencio. Ela fica olhando para ele.
- Amor, não odeie o papai Noel, odeie o natal.
Ele fala e volta a assistir televisão. Ela volta a tentar varrer a casa.

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O Papai Noel está sentado, a Mamãe Noel está do lado distraída, quando volta a olhar para o Noel vê uma menina de uns 16 anos, mas já com cara de mulher tirando foto no colo dele, a moça sai.
- Quem era aquela vagabunda no seu colo.
- Que vagabunda.
- Você sabe muito bem de quem eu tou falando Noel, não se faça de bobo.
- Ah, aquela mocinha.
- Hum mocinha, aquela mocinha. – repete o que ele disse fazendo uma voz de idiota – sim, aquela mocinha.
- veio fazer um pedido e tirar uma foto.
- Fazer um pedido, que pedido.
- Uma boneca, uma roupa, sei lá.
- Noel, Noel...
- Mamãe, você tem que se acostumar com a porra do meu trabalho, sou pago pra isso.
- Pago pra isso, pago pra isso... o senhor que não se esperte para ver se não vai ficar com o nariz vermelho igual daquela tua Rena.

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Quinze para meia noite, véspera de natal, festa de natal em família.
Começa uma briga na cozinha.

- Porque você é falsa. Só aparece no fim do ano.
- Olha, mas se for para aparecer pra pedir as coisas, como você, eu prefiro só estar junto no fim do ano.
- Tem vergonha da nossa família. Só porquê ganhou um pouco mais de dinheiro...
- Muito mais...
- Viu!

Doze para meia noite.
Todos da sala já estão na cozinha tentando descobrir o que está acontecendo. Alguns familiares mais escandalosos já começam a chorar.
- Você é uma riquinha. Que quer comprar todo mundo, traz presentes caros e acha que vai ganhar todo mundo, acha que fazendo isso a família vai esquecer que você some. Ninguém aqui quer seus presentes.
- Eu quero sim.
Uma criança das crianças que acordaram por conta da briga.
Todos da família que estão assistindo a briga balançam a cabeça concordando com a criança.
- Angelo, vai dormir o que você está fazendo aqui, o papai Noel não vai aparecer.
- Que papai Noel o que, mané Papai Noel, Papai Noel não existe.
Todos ficam chocados. As crianças que estavam presenciando a discussão começam a chorar.
- isso, acaba com o natal das crianças também, já não basta ter acabado com o natal dos adultos.

Oito minutos para a meia noite.
Metade da família ta chorando a outra metade tentando saber o que aconteceu. A anfitriã da festa tentando apartar a briga.
- Gente para de chorar, pessoal, não briga, é natal, tem panetone, tem peru, tem uva passa, Carlos pega o pote da uva passa lá. Pessoal, vamos pra sala ta passando o Roberto, não vamos deixar o Roberto sozinho em pleno natal.

Cinco minutos para a meia noite.
- Eu te odeio, a mamãe devia ter devolvido você para o lugar onde ela te adotou.
- Não sou adotada idiota, é a Mara.
- Eu sou adotada?
Mara começa a chorar.
- Olha ai o que você fez, meu parabéns.

Três minutos para meia noite.
Os pais tentando explicar para os filhos que estão chorando que o papai noel existe sim, que aqueles que trabalham no shopping não são de verdade, é mais um marketing, divulgação de marca, tipo um bunner vivo, mas que existe um verdadeiro.
Marta está tomando agua com açúcar.

Um minuto para meia noite.
- Eu te odeio.
- Não eu te odeio mais.
- Eu odeio vocês duas.
- Eu odeio vocês todos.
- Eu odeio o papa Noel.

Meia noite. Natal.
Em meio a discussão chega uma mensagem. “feliz natal!”
- Ih, meia noite.
- Já?
- Sim!
- Feliz natal.
- Mas já é meia noite mesmo?
- Sim!
Olham para o relógio e confirmam.
- Meu Deus, Feliz Natal.
- Feliz Natal.
As irmãs que estavam brigando se abraçam a e começam a chorar.
- Eu te amo, me desculpa.
- Não, eu que tenho que pedir desculpas. Eu te amo, você é minha irmã querida.
- Eu te amo mais.

As crianças ainda seguem chorando por conta do papai noel, mas os adultos não ligam, só querem saber de fazer as pazes, afinal de contas é natal.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ORELHÃO

Os orelhões estão entrando em extinção, estão abandonados, os poucos que restam estão descuidados. Eles que já foi motivo de briga, formava-se filas e filas para poder chegar nele, começaram a sair gêmeos, trigêmeos, casinhas só pra eles. Hoje em dia são motivo de vergonha, ninguém quer ser visto num orelhão, só servem como apoio para propaganda para garota de programa e pra te proteger da chuva inesperada.


Clark Kent está indo cobrir uma matéria para o Planeta Diário quando ouve um grito: “SOCORRO!”. Então ele corre para ajudar. Mas antes tem que se “transformar” no super-homem. Corre um quarteirão a procura de uma cabine telefônica. Dois quarteirões. Três. Mais um grito: “SOCORRO!”. Dez quarteirões e nada de uma cabine telefônica. Decide parar e pedir informação.
- Oi, a senhora pode me dizer onde eu encontro um telefone publico.
- Olha, pior que acho que por aqui não tem mais.
Ele fica olhando em volta, daquele jeito que só quem está perdido olha.
“SOCORRO”
- Mas o senhor não tem celular?
- Tenho.
- Então, pra que quer um telefone publico?
- Esquece.
Volta a correr.
20 quarteirões depois, acha. Se troca. Entra em ação. Quando chega ao local do crime a vitima já está sendo socorrida pelos policias.
- O que houve?
- Ela foi assaltada, levaram tudo dela. Ela gritou mais não adiantou.
E o super-homem vai embora pensando o que aconteceu com todas as cabines telefônicas.

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Avo e neto estão passeando pela rua, quando o neto vê algo que chama a atenção.
- Vovo.
- Oi?
- O que é aquilo do outro lado da rua?
- Um mendigo.
- Não vovo, do lado do mendigo.
- Outro mendigo.
- Não vô. Do lado, aquele negócio que parece um cogumelo.
- Ah!, aquilo é um orelhão.
- Orelhão?
- Sim. Um telefone.
- Celular?
- Não, fixo.
- Um celular fixo?
- Não, um telefone fixo.
- Celular?
- Não. Não. Tipo um celular, mas que não sai do lugar.
- Um celular com fio.
- Mais ou menos.
- Mas da pra entrar na internet?
- Não.
- Jogar?
- Não.
- Tirar fotos?
- Não.
- Então pra que serve?
- Pra ligar.
- E o que mais?
- Só.
- Só?
- Só!
Silencio.
- Mas que é que usa?
- Hoje em dia quase ninguém. Mas antigamente todo mundo usava.
- Só pra ligar?
- Sim.
- Mas qual é a operadora?
- Não tem operadora. É tipo um telefone de casa, mas da rua.
- Telefone da casa do mendigo.
- É, pode se dizer que sim.
- Mas quem pagava a conta?
- Quem usasse.
- Como assim?
- Usava ficha.
- Ficha?
- É, ficha. Tipo fliperama.
- Flipe o quê?
O avo fica olhando para o neto.
- Nada, vamos embora não serve para nada isso mesmo.
Os dois saem, toca o orelhão.

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No orelhão
- Alou quem fala.
- Marina.
- Oi marina, então, eu vi teu anuncio aqui no orelhão.
- Sim.
- Você é completinha.
- Sou sim.
- Morena cor de jambo.
- Isso.
- O que é um jambo mesmo?
- Uma fruta.
- Uma fruta morena?
- Escura.
- Escura tipo jabuticaba?
- Não, um escuro mais puxando para o marrom.
- Entendi. É que eu nunca comi um jambo.
- Então vem comer esse jambo aqui.
- E se eu não gostar de jambo?
- Ai eu posso ser outra fruta.
- Outra fruta tipo jabuticaba?
- Mas que fascinação é essa por jabuticaba?
- Coisa da minha infância.
Silencio.
- Ok, pode ser. Vem logo chupar essa jabuticaba.
- Ótimo. Então ta, chega de enrolação que o meu cartão telefônico está acabando e eu ainda tenho que ligar para minha tia lá no interior.
- Você está ligando de um orelhão?
- Sim, como eu descobria o seu telefone se não tivesse vindo até um aqui.
Silencio.
- por que, algum problema?
- Sim.
- qual?
- Se você está ligando de um orelhão quer dizer que você não tem dinheiro.
- Como você sab... quer dizer, claro que eu tenho.
- Não, não tem.
- Tenho sim.
- Não tem.
- Tenho sim.
- Não tem.
- Te... vamos parar com isso só tenho mais 3 unidades... me diz logo onde você está, que assim que eu ligar pra tia eu vou pra ai.
- Nem venha.
- Mas...
- Vou pedir para o meu gerente de marketing mudar a estratégia. Tchau.

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Um casal de mendigos dormindo na calçada, toca o orelhão da rua onde eles “moram”.
Nenhum dos dois reage.
Toca. Nada.
Toca de novo.
- Ei, atende lá.
- Eu não, atende você.
Toca.
- Eu atendi da ultima vez.
- Então, atende de novo.
Toca.
- Mas não é pra mim.
- Como você sabe?
Toca.
- Por que todo mundo sabe que eu não atendo telefonema essa hora.
Toca.
- Todo mundo quem?
- Todo mundo que me liga.
Toca.
Silencio.
Toca.
- Você não vai atender?
- Não.
- Mas e se for urgente.
Toca.
- Ai liga de novo.
Silencio.
Toca.
Ele levanta. Vai até o orelhão. Atende.
- Alou... não... não tem ninguém com esse nome aqui... não... não... passar bem.
Volta a para o papelão.
- E ai quem era?
- Era engano.
Silencio.

- Nossa, quem é que liga enganado em pleno 2013.

sábado, 16 de novembro de 2013

TRANSITO

No transito. Véspera de feriado. Oito horas sem sair do lugar, numa viagem que demoraria no máximo duas. Ninguém mais está dentro do carro. Todo mundo fora esticando as pernas. O carro vermelho da moça loura está bem ao lado do carro preto do moço moreno.
- Será que foi acidente? – ele pergunta, tentando puxar papo.
- Não, eu estacionei na rua, quando eu voltei já estava amassado.
Ele olha para ela sem entender.
- A você não estava falando do amassado na traseira do meu carro?
- Não.
Ela sorri sem graça.
- Tava falando do porquê do transito.
- É, agora eu entendi.
Silencio. Os dois voltam a observar o “movimento”.
- Não é não.
- Oi?
- Acidente.
- Ah...
- É normal já. Cada feriado piora.
- Sim.
- Eles mostram todos os anos na televisão, nós passamos por isso sempre e mesmo assim não aprendemos.
- Verdade. Todo mundo acha que vai ser mais esperto saindo mais cedo, o problema é que todo mundo se acha esperto.
- É.
Silencio.
- Você se arrepende.
- Do quê?
- De ter vindo.
- Ainda não.
- Ainda não?
- Se durar mais duas horas o transito vai dar tempo de eu me arrepender.
Ele ri.
- E você?
- Não, se não fosse o transito eu não teria te conhecido.
A frase dele é entre coberta pelas buzinas.
- O que você disse?
- Nada.
Silencio.
- Dificil ver alguém da sua idade indo sozinha para a praia.
- Ah, não. Nada. Só estou indo sozinha. Minhas companhias já estão lá.
- Ah...
- Namorado?
- Não, vou tou indo para casa de uns amigos. Alias, tem duas amigas lá, o resto nem conheço. Sabe como é casa de praia.
- Sei, eu também estou indo na mesma situação, só conheço uma pessoa na casa que estou indo. Tava sem opção.
Silencio.
- Agora você conhece mais alguém.
- Conheço?
- É, eu.
- Pois é. Mas eu não te conheço direito. Como é seu nome.
Quando ela vai falar as buzinas recomeçam, ela por estar distraída nem percebeu que o transito andou. Ela entra assustada e sai sem dizer o nome ou qualquer outra informação. Transito tem dessas coisas, a maioria começa e termina do nada e sem explicação.

Depois de dez horas de viagem, e ter a honra de fazer parte do maior transito da história, ela chega na casa da praia.
Doze horas depois ele chega, procura uma vaga em meio a tantos carros estacionados – isso explica o fato de ter tanto transito cada um vai com o seu próprio carro. Ele acha uma vaga ao lado de um carro vermelho mal estacionado. Encaminha-se para dentro da casa, quando está entrando da de cara com a moça loira, dona do carro vermelho mal estacionado, a mesma do carro vermelho do transito.
Casa de praia tem dessas coisas, cada um vai com o seu carro, mas acaba todo mundo ficando na mesma casa.

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Segunda-feira:
- e ai como foi de viagem?
- Foi boa.
- Deu pra descansar.
- Não muito não.
- A curtiu um monte então, praia dia e noite.
- Então, não cheguei a ir para praia.
- Ué, mas ia.
- Não, acabei de ficando no transito.
- Oi?
- Cê sabe né, feriado curto, bate e volta, só deu tempo de curtir o transito. Fiquei dois dias no transito, quando eu cheguei lá achei melhor já voltar para dar tempo. Foi bom.

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- Que horas vamos sair?
- de madrugada, pra não pegar transito.
- Não funciona mais. Todo mundo sai de madrugada. Todo mundo tem a mesma idéia.
- Será.
- Roberto?!
- Ok, então vamos sair cedinho.
- Todo mundo vai sair cedo também.
- Mas nós vamos sair bem cedo.
- Todos saem bem cedo.
- Bem cedo.
- Roberto?!
- Então vamos amanhã depois do almoço, ai todo mundo já vai estar na praia e nós não pegamos transito.
- Quem não vai de madruga, não vai cedo, vai esse horario Roberto, logo vai ter transito.
- Vamos amanhã a noite.
- Ai nós perdemos o feriado.
- Vamos agora.
- Eu não terminei de arrumar as minhas coisas.

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No transito.
- (ao telefone) alou.
- Oi Luis, traz pão.
- Amor eu estou preso no transito.
- Então a hora que sair do transito, passa na padaria e traz.
- Mas ai eu vou pegar um novo transito.
- Não tem problema, é para comer amanhã cedo.

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Ao telefone.
- Amor, to quase chegando.
- Está onde?
- To no transito.
- Também?
- Como assim também?
- Eu também estou.
- Ufa, pensei que já estava ai me esperando. Estava me culpando por não ter saído antes.
- Mas culpe-se, eu poderia já estar esperando.
- Ta, mas não está.
- Não estou porque eu estou no transito, se não fosse o transito eu já tinha chegado.
- Mas se não fosse o transito eu também já teria chegado.
- Não é desculpa.
- Mas você também está usando como desculpa.
- O meu não é desculpa, o meu é verdade.
- O meu também.
Silencio.
- Onde você está?
- Estou quase chegando.
- Espero que esteja mesmo, não quero ficar esperando.
- Mas você nem está ai... quer dizer lá.
- Mas e se eu estivesse.
- Mas não está!
Silencio.
- Chegou?
- Quase.
- Agiliza.
- Você já chegou?
- Não, estou longe.
- Então.

- Andou aqui vou desligar, não se atrase.