quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AMIGO "SECRETO"

O casal está na cama. O homem lendo um livro. A mulher não está fazendo nada. O que incomoda o marido.
- O que você quer Denise?
- O que eu quero o quê?
- O que você quer de mim.
- Eu quero que você diga.
- Eu já disse que não vou dizer. Vai dormir.
- Não consigo a luz está na minha cara.
- Você dorme todo dia com a luz na cara.
- Mas eu mudei.
- De ontem pra hoje?
- Sim, por que, tem um tempo certo para mudar agora?
- Não.
- Quer que eu desligue a luz.
- Não, pode deixar ligada, eu vou ter que mudar de novo.
Ele fica olhando para ela. Então fecha o livro e desliga a luz.
Silencio. No escuro.
- Não vai mesmo me falar.
- Denise, é amigo secreto. Secreto.
- Mas eu não vou falar para ninguém.
- Nem eu.
Silencio.
- É alguém que eu conheço?
- Não vou falar.
- É mulher?
Silencio.
- Homem?
Silencio.
- Faz o seguinte, se for mulher você fica em silencio, se for homem você boceja.
Silencio.
- É mulher, sabia que era mulher.
Ele boceja.
- Não é homem, achei que era mulher mas sabia que era homem, é o Patricio.
Silencio.
- É mulher ou é homem?
Silencio.
Ela liga a luz.
- Robson, se você não me falar quem é está tudo acabado, somos um casal, temos que dividir as coisas.
- Mas é só um amigo secreto.
- Não é só um amigo secreto, é um amigo secreto, secreto vem de segredo, casais dividem segredos, se você não quer dividir um segredo comigo é porque não acha que devemos ser um casal, logo é melhor nós nos separarmos.
Silencio.
- Porra, você acaba com qualquer brincadeira, eu peguei você, você sua estraga prazeres. Parabéns acabou com tudo.
Ele desliga a luz. Os dois ficam em silencio.
- Você não vai me dar um presente de 30 reais só né?

--------------------------------------

LISTA DE AMIGO SECRETO DOS APÓSTOLOS
Presentes até 10 moedas de ouro.
André: sandálias.
José: um cordeiro.
Tiago 1: sandália
Tiago 2: um vestidão da GAP
Filipe: um cajado.
Tomé: Um jogo de cálice.
Simão: sanadalias.
Judas:
Bartolomeu: vara de pesca.
João: Um vestidão da Armani.
Pedro: sandálias.
Jesus: O que o coração de quem me pegar mandar//mirra
Mateus e Paulo não quiseram participar.

Pós amigo secreto dos apóstolos.
- Por que você está com essa cara?
- Porque me deram mirra.
- Puta merda. Quem pegou você?
- Judas.
- Sabia.

------------------------------------


- Oi, Roberto né.
Ela chega no RH, entra pela segunda vez, a primeira foi quando fora contratada a quatro anos atrás.
- Isso.
- Tudo bem?, eu sou a Patricia do Marketing.
- Tudo bem sim.
- Então, eu queria saber o que assim, mais ou menos, você quer ganhar de amigo secreto.
- Você que me pegou?
- Não. Não, eu não. Da onde você tirou isso.
- Não é que você está perguntando.
- Que nada, é amigo secreto, não faria sentido nenhum eu perguntar assim.
- É não faria mesmo.
Silencio.
- É que a pessoa que te pegou pediu para eu perguntar, o que você quer ganhar?
- Qualquer coisa.
- Qualquer coisa não, fala vai.
- Não, sério, pode dar qualquer coisa.
- Não, não é qualquer coisa, fala, porque senão fala a gente da qualquer coisa a pessoa sai por ai, pelos corredores, falando mal, mas não sabe que a maioria das pessoas na empresa não se conhecem ou não trocam mais do uns abanos de cabeça e uns “nossa e esse tempo que não firma ein”, no cafezinho.
O homem fica assustado, os funcionários do setor de RH param.
Silencio.
- Pode ser uma camiseta.
- ótimo, vou avisar a minha amiga. Obrigado.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ESPIRITO NATALINO

Pai e mãe sentam de frente para o filho.
- Filho, acho que a gente precisa conversar.
- Vocês vão se separar?
- Não...
- Se for isso ok, eu não ligo, só quero um vídeo game em cada casa e uma mesada de cada um, afinal de contas agora só ganho uma porque vocês moram juntos. Vocês separando fica melhor para mim.
- Não é isso, ta doido.
- Eu e o seu pai nos amamos.
- Tem certeza, pode ser engano. Vocês acham que se amam mais é só ilusão. Tem muita gente no mundo. Pensem direito.
- Filho. Nós não vamos nos separar.
- Droga. Então o que é?
- Seguinte, não sabemos muito como dizer isso.
- É difícil.
- Mas você já está virando um hominho. 10 anos.
- dez e meio pai.
- Dez e meio. Isso. Dez e meio, já sabe assimilar as coisas.
- Já sabe que o mundo que vivemos as vezes pode ser cruel.
- Tipo levando o Rex.
- Ou a sua avó.
- Mãe nós estamos falando das coisas ruins que o mundo fez.
O papai concorda com o filho.
- Então acho que está na hora de você saber.
- Fala de uma vez Nunes.
- Ta na hora de você saber que o Papai Noel não existe.
Silencio.
- Porra pai. Sério?
- Sério, não existe. Sei que é difícil para você assimilar isso agora, mas logo tudo vai ficar mais claro pra você.
- Não, to falando sério que você achou que eu ainda acreditava que o papai noel existisse.
- Não acreditava?
- Vocês sabem que eu tenho acesso a internet né.
Os pais ficam olhando para o filho.
- E o coelhinho da pascoa.
O filho balança a cabeça como se dissesse que também já sabia que não existe.
- Fada do dente?
- monstro do armario, velho do saco...
- sei que tudo isso é inventado.
- Então por que não nos falou antes?
- Porque eu não queria decepcionar vocês.
Silencio.
- Posso ir?
- Pode.
O filho passa a mão na cabeça dos pais para reconforta-los, vai para o quarto.
- Meu Deus, ingenuidade também não existe mais.

--------------------------------------------------

O marido chega do trabalho a mulher está sentada a mesa, de cabeça baixa, escrevendo a mão.
- OI...
Silencio.
- o que você está fazendo, psicografando uma carta?
- Não, estou fazendo a lista de natal?
- Já, mas estamos em novembro ainda.
- Ainda, não, já! Falta um mês.
- Então.
- Então que eu já estou fazendo.
- Ok.
- O que você vai dar para sua mãe?
- Não sei.
- E para o seu pai.
- também não sei.
- Seu irmão?
- Deixa eu ver... não sei.
- Nossa, você não esta ajudando.
- Ué, mas quem está fazendo a lista é você.
- Só por isso você não pode ajudar.
- Não sei, ainda não estou sentindo a magia do natal, então não consigo forçar.
- Então faz o favor de dar uma jeito de baixar esse espirito que eu preciso de ajuda.
- O que você vai dar para o seu irmão.
- Acho que aquela gravata que eu ganhei de aniversário, lá do pessoal da empresa.
- Mas você usou?
- Não, você acha que eu ia usar aquela coisa horrível?
- Ok, então já economizamos aqui. E pra sua mãe?
- Podemos dar aquele jogo de chá que você herdou da sua tia, ta encalacrado lá no quartinho.
- Boa! Seu pai?
- Você lembra onde eu coloquei aquele canivete suíço que eu ganhei de amigo secreto.
- Sim, está naquela caixa de coisas inúteis em cima do guarda roupas.
- Um presente a menos.
- ótimo.
- Quem mais?
- Minha mãe.
- O que temos sobrando?
- Deixa eu pensar... eu tenho um porta CD que eu ganhei no amigo secreto do ano passado.
- Nossa senhora, quem é que tem CD ainda?
- CD eu não sei, mas porta CD eu tenho, alias minha mãe tem.
- Beleza. Agora seu pai...
- Posso dar o vinho da sexta de natal.
- Isso, não vamos passar lá mesmo, não precisaremos tomar.
- Maravilha.
- Agora só falta o seu presente e o meu.
Os dois se olham.
- Você não está pensando em reutilizar um presente que ganhou em outra data para me dar né.
- Não. Ta louca.
- Então o que você vai me dar?
- é surpresa.
- Não precisa fazer surpresa pode falar.
- Fala você primeiro que dai eu falo.
- Eu ainda estou escolhendo.
- Eu também.
Silencio.
- Acho melhor não trocarmos presentes esse ano. Vamos dar em dinheiro.
- É melhor mesmo.
Daquele dia da lista de natal em diante, nunca mais nenhum dos dois trocaram presentes, datas comemorativas davam envelopes com dinheiro.

--------------------------------------------------

Casa do Papai Noel. Julho.
Papai Noel está só de samba canção e regata, deitado no sofá, assistindo televisão. A mamãe Noel está limpando a casa. Ela tenta varrer a sala, ele atrapalha. Ela perde a paciência.
- Noel.
- Oi? – Ele fala sem tirar os olhos da TV.
- Acho que você precisa arrumar um emprego.
- Como assim arrumar um emprego? Eu tenho um emprego.
- De um mês.
- Um mês e meio.
- Que seja. Acho que precisa arrumar um emprego convencional, que trabalhe onze meses e folgue um, não que folgue onze meses e trabalhe um.
- um e meio.
- Você entendeu.
- Não, não entendi. O que está acontecendo, está faltando alguma coisa para você, estou deixando faltar...
- Não, não, ta doido.
- Ta, então o que é?
- Sei lá, é que eu vejo os maridos das minhas amigas, eles estão sempre trabalhando.
- Mas eu não tenho culpa se meu trabalho só exige um mês e meio de mim.
- Eu sei que você não tem culpa, mas pode mudar. Por que você não arruma um trabalho normal, de contador, auxiliar administrativo, caixa...
- Pera aí Mamãe, para de enrolar, fala de uma vez o que há?
- Eu não aguento mais você em casa.
- Mas o que é que eu vou fazer lá fora.
- Sei lá, vai levar teus veados para passear.
- São Renas, já falei.
- Que seja, leva eles para passear, vai dar uma olhada como andam as coisas na fabrica, mas sai de casa um pouco.
- Eu não quero que as pessoas me vejam fora de época.
- Mas então tira a barba, assim ninguém vai te reconhecer.
- Ta doida? minha ferramenta de trabalho.
- Mas ainda faltam cinco meses para o natal
- Mas e se não cresce? O que eu vou fazer, a única coisa que eu preciso é barba e barriga, se eu não tiver barba vou ser apenas mais um velho barrigudo, sem barba, um caminhoneiro.
Silencio. Ela fica olhando para ele.
- Amor, não odeie o papai Noel, odeie o natal.
Ele fala e volta a assistir televisão. Ela volta a tentar varrer a casa.

--------------------------------------------------

O Papai Noel está sentado, a Mamãe Noel está do lado distraída, quando volta a olhar para o Noel vê uma menina de uns 16 anos, mas já com cara de mulher tirando foto no colo dele, a moça sai.
- Quem era aquela vagabunda no seu colo.
- Que vagabunda.
- Você sabe muito bem de quem eu tou falando Noel, não se faça de bobo.
- Ah, aquela mocinha.
- Hum mocinha, aquela mocinha. – repete o que ele disse fazendo uma voz de idiota – sim, aquela mocinha.
- veio fazer um pedido e tirar uma foto.
- Fazer um pedido, que pedido.
- Uma boneca, uma roupa, sei lá.
- Noel, Noel...
- Mamãe, você tem que se acostumar com a porra do meu trabalho, sou pago pra isso.
- Pago pra isso, pago pra isso... o senhor que não se esperte para ver se não vai ficar com o nariz vermelho igual daquela tua Rena.

--------------------------------------------------

Quinze para meia noite, véspera de natal, festa de natal em família.
Começa uma briga na cozinha.

- Porque você é falsa. Só aparece no fim do ano.
- Olha, mas se for para aparecer pra pedir as coisas, como você, eu prefiro só estar junto no fim do ano.
- Tem vergonha da nossa família. Só porquê ganhou um pouco mais de dinheiro...
- Muito mais...
- Viu!

Doze para meia noite.
Todos da sala já estão na cozinha tentando descobrir o que está acontecendo. Alguns familiares mais escandalosos já começam a chorar.
- Você é uma riquinha. Que quer comprar todo mundo, traz presentes caros e acha que vai ganhar todo mundo, acha que fazendo isso a família vai esquecer que você some. Ninguém aqui quer seus presentes.
- Eu quero sim.
Uma criança das crianças que acordaram por conta da briga.
Todos da família que estão assistindo a briga balançam a cabeça concordando com a criança.
- Angelo, vai dormir o que você está fazendo aqui, o papai Noel não vai aparecer.
- Que papai Noel o que, mané Papai Noel, Papai Noel não existe.
Todos ficam chocados. As crianças que estavam presenciando a discussão começam a chorar.
- isso, acaba com o natal das crianças também, já não basta ter acabado com o natal dos adultos.

Oito minutos para a meia noite.
Metade da família ta chorando a outra metade tentando saber o que aconteceu. A anfitriã da festa tentando apartar a briga.
- Gente para de chorar, pessoal, não briga, é natal, tem panetone, tem peru, tem uva passa, Carlos pega o pote da uva passa lá. Pessoal, vamos pra sala ta passando o Roberto, não vamos deixar o Roberto sozinho em pleno natal.

Cinco minutos para a meia noite.
- Eu te odeio, a mamãe devia ter devolvido você para o lugar onde ela te adotou.
- Não sou adotada idiota, é a Mara.
- Eu sou adotada?
Mara começa a chorar.
- Olha ai o que você fez, meu parabéns.

Três minutos para meia noite.
Os pais tentando explicar para os filhos que estão chorando que o papai noel existe sim, que aqueles que trabalham no shopping não são de verdade, é mais um marketing, divulgação de marca, tipo um bunner vivo, mas que existe um verdadeiro.
Marta está tomando agua com açúcar.

Um minuto para meia noite.
- Eu te odeio.
- Não eu te odeio mais.
- Eu odeio vocês duas.
- Eu odeio vocês todos.
- Eu odeio o papa Noel.

Meia noite. Natal.
Em meio a discussão chega uma mensagem. “feliz natal!”
- Ih, meia noite.
- Já?
- Sim!
- Feliz natal.
- Mas já é meia noite mesmo?
- Sim!
Olham para o relógio e confirmam.
- Meu Deus, Feliz Natal.
- Feliz Natal.
As irmãs que estavam brigando se abraçam a e começam a chorar.
- Eu te amo, me desculpa.
- Não, eu que tenho que pedir desculpas. Eu te amo, você é minha irmã querida.
- Eu te amo mais.

As crianças ainda seguem chorando por conta do papai noel, mas os adultos não ligam, só querem saber de fazer as pazes, afinal de contas é natal.