segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ciclo da conta


O garçom chega com a conta. Ela leva a mão na bolsa pra pegar alguma coisa. Ele se levanta.

- Nem se atreva.
- O que? – paralisada.
- Deixa que eu pago.
- Oi?
- Não precisa pegar a carteira não, deixa que eu pego.
- Mas eu não ia pegar a carteira.
- Ah não?
- Não, ia pegar meu celular.
- Ah bom, em todo caso, é bom avisar.
- O que?
- Que eu vou pagar.
- Que bom. Porque eu não trouxe dinheiro.
- Sério? E se eu não tivesse todo esse dinheiro aqui?
- Como assim se você não tivesse? Você convidou você paga.
- Não, não é bem assim. Saímos pra nos conhecer. Se eu já tivesse ficando com você.
- Que ficando comigo, nenhum momento me passou pela cabeça em ficar com você.
- Não?
- Não, e agora que eu não vou ficar mesmo.
- Ah não?
- Não!
- Garçom divide a conta por dois e passa a minha parte no cartão.
Entrega o cartão para o garçom.
- Pera aí, e eu?
- Se vira, não acha que eu vou pagar a conta pra você depois disso.
Pega notinha e o cartão, levanta e sai.

-------------------------------------------------

O pagamento das contas de restaurantes e saídas de um casal é um ciclo.

Quando estão ficando, ele paga.
- Não, deixa que eu pago.
- Mas foi caro.
- Que caro o que... – pega a conta pra ver, se engasga. – cacete.
- Tem certeza.
- Lógico, é o mínimo que eu posso fazer por você ter me aguentado a noite inteira. Guarda essa carteira.
- Olha.
- Se você abrir essa carteira eu nunca mais olho na sua cara.
- Exagerado. – ri e guarda a carteira.
- Passa no cartão pra mim, em 6 vezes. – para o garçom.

Durante o namoro, eles dividem a conta.
- Da vinte e sete reais e cinquenta e três centavos para cada.
- Eu só tenho vinte e seis.
- Eu também.
- E agora?
- Vamos ter que fazer a cena.
- De novo?
- Sim.
- Ta, mas dessa vez faz você. Da ultima vez eu que fiz.
- Ta bom.
Acena para o garçom. Que vem todo sorridente. Entrega o caderninho, com o dinheiro dentro, para o garçom. Ele confere o dinheiro.
- Senhor está faltando, cinco reais.
- Sim, é o dos dez por cento.
- Mas aconteceu alguma coisa?
- Não, não. Só não pago dez por cento, é um direito meu, não é?
- Sim, é, mas é que eu achei que tinha feito um bom atendimento.
- E fez. Mas é que eu não quero compactuar com o sistema.
- Não entendi.
- Bar, restaurante, igreja, é tudo igual, sempre querendo tirar dez por cento da gente. – nessa altura já levantou e está falando alto. – E vai pra quem?
- Para m...
- Para os donos e para os pastores, – interrompe – mas saibam eles que eu não dou. Prefiro dar direto para o funcionário, do que para eles.
Levanta e vai embora.

No casamento algumas vezes ele paga, outras ela.
- Da ultima vez eu paguei.
- Tem certeza?
- Sim.
- Deixa eu pensar... o que comemos?
- Japonês.
- Ah, aquele que me deixou peidando por um mês.
- Não, esse foi o árabe, mês passado.
- Ah é... Então, não foi você quem pagou o árabe?
- Foi.
- Então, você pagou o árabe, eu o japonês.
- Será?
- Certeza.
Ela chama o garçom.
- Nossa, só de lembrar daquela comida árabe já me da vontade de peidar.

Quando se separam ele volta a pagar sozinha, mas agora já nem jantam mais juntos.
- Tem certeza que não quer que eu pague?
- Não, eu convidei, eu pago.
- Sei lá, me sinto desconfortável.
- Desconfortável por quê?
- Com você pagando tudo.
- Relaxa. – entrega o cartão para o garçom.
Silencio.
- Senhora o cartão não está passando.
- Passa o meu.
- Não, já falei. Deixa que eu pago. Tenta de novo.
O garçom passa mais uma vez. Nada.
- Não deu.
- Passa o meu.
- Não, espera aí.
Mexe na bolsa, os dois ficam olhando, ela tira o celular, disca uns numero, alguém atende do outro lado.
- Carlos Alberto porque o meu cartão não está passando?... como assim não sabe?... espero que você tenha depositado o dinheiro da pensão... é espero mesmo... não eu não tentei o outro ainda... – não desliga.
Mexe na bolsa, tira outro cartão, entrega para o garçom, que passa na maquina. Silencio. O segundo cartão passa.
- Passou... Bom mesmo. Tchau. – desliga.



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aluga-se


Ele e ela estão numa locadora, na sessão de comédia romântica, cada um vem de um lado, eles esticam o braço e pegam o mesmo filme. Os dois dão risadas. Ele sede o filme pra ela.

- Pode ficar, você pegou primeiro.
- Não, fica você, nós pegamos juntos. Eu pego outro.
- Não, pega você. Eu insisto. Eu alugo quando você devolver. Já to levando três.
- Eu também to. Ta na promoção.
- Pois é, acho que está porque ninguém mais vai na locadora.
- Só nós.
- Só. Eu gosto disso, de poder escolher o filme que eu quero sem precisar baixar, ter que assistir no computador.
- Nossa, eu também. Ir pra sala e passar o dia inteiro assistindo.
- Legal que ainda exista pessoas assim.
- Legal.
Silencio.
- Tem certeza que não quer levar?
- Não, pode levar.
- Sua namorada não vai ficar brava?
- Minha namorada?
- É, não ta levando pra ela? Geralmente homem só passa pelo corredor de comédias românticas por causa da namorada. Se não fosse por ela nem sabia que ele existia.
- Não... – ri. – não, eu gosto de comédia romântica.
- Ah, entendi...
- É...
- Você é viado!
- é... quer dizer, não!
- Não tem namorada e gosta de comédia romântica, é gay.
- Não, não, eu não sou gay. Só gosto de comédia romântica.
- Tem certeza.
- Tenho. Lógico.
Silencio.
- Gay, eu...
- Desculpa. – fica sem graça.
- Que nada.
- Pode levar o filme, como forma de desculpa.
- Não precisa...
Silencio.
- Já sei, por que não assistimos juntos?
- Oi.
- Assistimos juntos e acabamos com esse problema.
- Ta bom.
Vão se encaminhando para o balcão.
- Na minha casa ou na sua?
- Na minha tem pipoca.
- Ok, na sua!
Entregam os papeis para a balconista.
- Desculpa, não tem mais esse filme. Eu esqueci de tirar a capa da prateleira.
Ficam em silencio. Se olham.
- Pra falar a verdade, eu já tinha assistindo ele.
- Eu também!
- Mas eu to com um aqui que eu não assisti.
Ela sorri. Ele sorri. A balconista fica olhando sem entender.

-----------------------------------------------------

O pai leva o filho pela primeira vez numa locadora.
- Por que nós não baixamos o filme pai?
- Por que é crime.
- Mas o senhor sempre baixa.
- Mas não pode. O certo é ir no cinema, alugar ou comprar.
- E por que não tem ninguém aqui?
- Escolhe logo o filme que você quer filho.
- Mas tem muito filme.
- Isso não é legal?
- Seria se pudéssemos levar todos.
- Escolhe logo um.
Os dois estão na sessão de filmes infantis. Quando sai um homem de dentro da sala de filmes pornográficos.
- Pai.
- Já escolheu?
- Não. O que tem naquela salinha?
O pai fica em silencio sem saber o que responder.
- Vamos lá. Deve ter filmes bons, o homem saiu com um monte de filmes.
Fala e vai em direção à sala. O pai o segura.
- Não.
- Por quê? Aqui não tem nenhum filme que eu quero.
- Porque lá é proibida a entrada.
- Mas eu o homem saiu de lá.
Nessa hora entra outro homem.
- Olha lá mais um.
- É proibida a entrada de crianças.
- Por que, o que tem lá?
- Filmes só para adultos.
- Ação?
- É. Isso, ação.
- Ah, então vamos lá, eu quero ação.
Fala e vai. O pai o segura novamente.
- Não!
- Mas eu assisto esse tipo de ação com o senhor.
Todos em volta começam a olhar torto para o homem. Ele puxa o filho e começa a se encaminhar para fora.
- Vamos embora.
- Mas eu não escolhi o meu filme ainda.
- Quando chegar em casa a gente baixa.

-----------------------------------------------------

Um cliente entra na locadora e é recebido com festa. Não entende o do porquê de tanta festa. Vai dar uma olhada nos filmes. Pega um caixinha, o dono da locadora se aproxima.
- Esse é bom hein. Lançamento. Sucesso de bilheteria.
- É né. Eu já assisti.
- E esse daqui. – mostra outro.
- Esse não.
- Sem demagogia, esse é um dos melhores filmes que eu já vi.
- Legal, pena que eu não gosto de terror. – devolve.
- Pra falar a verdade nem eu.
O cliente olha sem entender.
- E comédia?
- O que é que tem?
- Gosta de comédia, temos as melhores comédias.
- Gosto.
- Temos todas.
- A mas não to muito pra comédia.
- Ação? Quer ação? Tem ação?
- É...
- Rambo 1, Rambo 2, Rambo 3, Rambo 4, Rambo 5, Rambo 6. Tem os quinze Rocky, os quatorze Duro de Matar, porque esse não morre.
- Eu tenho esses.
- Ah...
Silencio.
- E drama, gosta de drama.
- Até que sim...
- Drama? Ta triste? Quer chorar? Tem drama. Os melhores drama. Tem gente que já se matou vendo os dramas que tem aqui.
O homem começa a ficar assustado, vai recuando.
- Já sei, romance. Ta procurando um romance. Quer assistir com a mulher? Namorada? Ficando? A mina que você quer pegar?
- Não...
- Já pegou né!
- Oi.
- Quer um pornô né?! Ta com vergonha de entrar na salinha. Fala pra mim que eu pego pra você. O que você quer? Novinha, coroa, cachorra, casada, viúva, mulher com cachorro.
O cliente sai correndo da locadora.
- Volta aqui, você não alugou nenhum. Volta. Pelo amor de Deus, volta!

sábado, 11 de agosto de 2012

Arroz e feijão


Os dois estão num bar. Ela e ele. O silencio pesado entre os dois paira no ar. Ele finalmente fala.

- Eu acho que a gente precisa dar um tempo.
- Oi?
- Eu quero me separar de você.
- Como assim? Nós nos damos tão bem.
- Sim, eu sei.
- Eu deixo você ir jogar bola com os seus amigos.
- É.
- Cozinho pra você.
- A melhor comida que eu já comi.
- Gosto de filmes de ação.
- Gosta mesmo né?! Nunca vi você vendo uma comédia romântica.
- O sexo é bom.
- Nossa o sexo. Com certeza nunca vou conseguir um sexo melhor que com você.
- Então, não deixa esse sexo acabar. Alias, vamos fazer isso agora. Vamos, para o carro.
- Vamos.
Os dois levantam. Ele para.
- Não, eu não posso me deixar levar pelo sexo.
- Não estou te entendendo?
- Deixa eu ver como eu posso falar isso...
- Você tem outra... Sabia!
- Não, eu não tenho outra. Nunca faria isso com você.
- Então o que é?
Silêncio
- Fala!
- É que você coloca o feijão em cima do arroz.
- Oi?
- Você. Coloca o arroz e depois o feijão.
- Sim. Esse é o jeito certo.
- Não, não é o jeito certo. O jeito certo é primeiro o feijão e depois o arroz.
- Não, todo coloca ao contrario.
- Claro que não. Viu, por isso eu to terminando.
- Todo mundo faz assim. É o correto. Arroz depois feijão.
- Não, claro que não.
- É sim. Mas e se não for, você está terminando comigo só por isso?
- Sim.
- Não pode ser.
- É.
- Se é mesmo, acho que é o melhor, porque você é um louco.
Fala, pega a bolsa e vai embora. Ele fica em silencio. Chama o garçom, que se aproxima.
- Pois não.
- Você coloca primeiro o arroz, ou o feijão?
- Oi?
- Quando você vai comer, coloca o feijão por baixo ou por cima do arroz?
- Por cima.
- Caramba, o eu é quem estava errado.
Tira um dinheiro do bolso, deixa em cima da mesa e vai atrás dela.

---------------------------------------------------

- O problema não sou eu é você.
- Não o certo é. O problema não sou eu é você.
- Não, eu quis dizer é que problema é você mesmo.

---------------------------------------------------

- Nós ainda podemos continuar sendo amigos.
- Ãhm?
- Não é porque eu to terminando com você que que não podemos continuar sendo amigos.
- Mas sou eu quem terminou com você.
- Ah é. Mas nem por isso não podemos continuar sendo amigos.
- Você me traiu com a minha melhor amiga.
- Então, agora vocês brigaram, você não tem mais amiga, se formos amigos, você ainda vai ter amigos.
- Eu não quero mais ver você!
- Mas não precisamos nos ver, podemos nos continuar conversando por mensagem, internet.
- Não. Eu não quero mais me relacionar com você.
- Tem certeza? É difícil arrumar amigos depois de velho.
- Além de me trair, você ainda te me chamando de velha?
- Amigos de verdade falam a verdade.
- Meu Deus, você é louco. – fala, vira as costas e deixa ele sozinho.
- Beijo... Qualquer coisa manda um email.

----------------------------------------------------

- Me da uma chance, eu prometo que vou mudar.
- Vai mesmo?
- Vou.
- Ufa, pensei que eu ir ter que ir embora. Vou ligar para o cara da mudança pra cancelar o caminhão, quer que eu peça pra ele mandar um pra você?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Trabalhador brasileiro


O patrão está sentado, mexendo no computador. O funcionário vem se aproximando lentamente.

- Chefe.
- Opa.
- O senhor está ocupado?
- Não.
Mexe nos papéis. O funcionário fica parado na porta.
- Não, se estiver eu volto depois.
- Senta Romulo!
- Ta bom.
Silencio. O chefe olha para o funcionário. O funcionário olha para o chefe.
- E aí?
- Ah é... Então, eu queria falar com o senhor, meu filho ta fazendo inglês.
- Que bom, inglês é essencial hoje em dia. Quem não tem inglês, não tem nada.
- Pois é. Eu falei pra ele. Vai fazer inglês. Ele falou, “mas pai eu não sei nem falar em português direito”. Eu falei, não tem problema, primeiro aprende a falar inglês, depois a gente foca no português. Português todo mundo fala.
- Pois é. Não da pra não falar inglês.
- Aí tem a minha mulher.
- Como ta a Antonia?
- Ta bem, quer dizer, ta bem daquele jeito... agora cismou que está um pouco gorda.
- Um pouco?
- Oi?
- Nada. E aí, ela acha que ta gorda...
- Pois é, resolveu que quer fazer...
- Redução do estomago? – interrompe – é a melhor saída mesmo, gorda daquele jeito. – resmunga.
- Não, academia.
- Ah!
- É, academia é bom.
- É caro.
- Mas é bom. Saúde é o que interessa, desembolsa um pouco, mas vale a pena.
- É, aí tem a minha filha que começa mês que vem a fazer faculdade.
- Parabéns.
- Por quê?
- Pela sua filha estar fazendo faculdade.
- Ah...
- To vendo que as coisas na sua casa estão progredindo.
- Pois é, estão mesmo.
- Você não parece feliz.
- Não, eu estou, mas é que com tudo isso eu to gastando muito dinheiro.
- Eu imagino.
- Aí eu queria ver com o senhor.
- ãhm?
- Se teria como...
- Teria como?
- Me dar um aumento.
- Aumento?
- É.
- Mas, você pediu aumento mês passado.
- Eu sei...
- Agora quer outro de novo?
- É, mas o senhor não deu...
- Não?
- Não!
- Ah, mas o inglês não é tão importante assim.
- Bem...
- Pra que falar inglês se todo mundo fala português.
- É, só que...
- E academia. – interrompe. – Tua mulher, ta magrinha, gostosa. Com todo respeito, se não fosse a sua mulher, eu comia.
- Ei...
- E a faculdade, pra que faculdade. Os caras mais ricos e inteligentes do mundo, nunca fizeram faculdade, Steve Jobs não tem faculdade, o Bill Gates não tem faculdade, EU... nunca pisei numa sala de aula.
- É, mas é que é o futuro.
- O futuro ta longe ainda, para de pensar no futuro, pensa no agora.
- Ta, mas será que tem como o senhor me dar um aumento agora?
- Agora não. Vamos ver mais pra frente. – fala e volta a olhar para o computador.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Carteira velha



- Amor você viu minha carteira que tava aqui em cima.
- Como ela é?
- Como ela é?
- É, como ela é?
- Você sabe como ela é. De couro, quadrada, vazia.
- Ta, mas vai que você trocou.
- Por que eu trocaria de carteira?
- Não sei, as pessoas trocam de carteira.
- Por que elas trocam?
- Porque querem guardar o dinheiro numa carteira nova.
- Ta, mas ai eles gastam dinheiro numa carteira nova e não tem dinheiro pra colocar na carteira.
Silencio.
- E aí?
- E aí o que homem de Deus.
- Cade a minha carteira.
- Ah nova ou a velha?
- Que nova, eu não troquei.
- Ah.
Silencio.
- Acho que já tava na hora de você trocar.
- Por quê?
- Porque a sua ta velha.
- Ta bom, então me fala onde está a velha que aí eu vou trocar por uma nova.
- Se você vai comprar uma nova, por que quer a velha?
- Porque eu preciso de dinheiro pra comprar a nova.
- Você não disse que ela tava vazia.
- E ta.
- Então como vai pegar dinheiro dela?
- Mas eu tenho cartão.
- Você não disse que o cartão estava bloqueado.
- Disse pra você não chegar perto da minha carteira.
- Ah então quando você precisa da sua carteira quer que eu chegue perto dela, mas quando eu preciso você mente pra mim.
- Meu Deus eu só queria saber onde está a minha carteira. Quer saber, eu não preciso dela. Onde está a sua bolsa?
- Pra que você quer a minha bolsa?
- Pra pegar dinheiro.
- Aqui sua carteira.

----------------------------------------------------

O filho está jogando vídeo game. O pai entra no quarto e senta na cama.

- Filho, senta aqui com o papai.
- Por quê?
- Porque eu quero te explicar algumas coisas.
- Que coisa?
- Ja é hora de eu te passar alguns valores.
- O senhor vai me dar dinheiro.
- Não, não estou falando em valores nesse sentido.
- Ah então eu não vou, se não é valores em dinheiro, eu não vou.
- Filho dinheiro não é tudo.
- Ah não?
- Não...
- Ah é, tem cartão de crédito, cheque, carros...
- Não, não é isso que eu quis dizer. O que eu to querendo dizer é que não devemos dar valor as coisas materiais.
- Ah não?
- Não.
- Então eu posso jogar vídeo game na sua TV.
- Não.
- Por quê?
- Porque estraga.
Silencio.
- O que eu to querendo dizer é que temos coisas mais importantes com o que nos importar. Nossa família, as pessoas que amamos, não devemos dar tanto valor pelo dinheiro.
- Entendi.
- Dinheiro não traz felicidade.
- O que ele compra é o que traz.
- Não. Nem o que ele compra.
- Mas e o meu vídeo game?
- O que é que tem?
- Eu sou mais feliz depois que o senhor comprou ele.
- Mas tenho certeza que se você não o tivesse, mas tivesse a nós seria feliz do mesmo jeito. Isso que eu quero que entenda.
- Não, antes eu tinha vocês, mas não tinha ele, e não era tão feliz.
- Era sim, mas é que você ainda não sabe o que isso significa.
- Sei sim.
- O que?
- Que o dinheiro trouxe a minha felicidade.
- Não, você não entendeu. Não é o dinheiro.
- É o senhor?
- Isso. Ta começando a entender.
- Que trouxe o vídeo game, então por isso o senhor traz felicidade.
- Não só por isso.
- Também porque o senhor tem dinheiro.
- Não, fica quieto, deixa eu explicar. Cacete! – grita com o filho.
Silencio.
- Desculpa, eu não queria gritar.
- Não tem problema. Eu sei que o senhor não está bem.
- Quem disse isso?
- A mamãe. Ela disse que você está passando por dificuldades financeiras, por isso está meio triste.