Dois
homens estão na rua. Um na frente e o outro alguns passos atrás. O de trás
chama o da frente.
-
Ei. Psiu.
O da
frente não ouve, continua andando.
- Shiu!
Nada.
-
Ei, você.
O
homem que está passando olha em volta.
-
Eu?
- É.
Silencio.
-
você tem horas?
-
onze e meia.
-
Brigado.
O
homem balança a cabeça e vai se retirando.
-
Pera aí.
- O
quê?
-
Isso é um assalto. – resmunga.
-
Oi?
- Um
assalto.
-
Meu Deus, onde?
-
Aqui.
-
Aqui?
- É,
um assalto, meu, em você.
Mostra
a arma, imponente. A arma é imponente, não o ladrão.
- O
que é isso?
-
Uma arma, não da pra reconhecer.
-
Sério?
-
Sim. Por que, não parece?
-
Sei lá, mas é que...
-
Mas é que nada, passa a grana.
-
Você está mesmo fazer isso?
- Parece
que sim né?!
-
Não sei, você não parece ladrão.
-
Como assim não pareço?
-
Não tem cara de ladrão.
-
Qual é a cara de ladrão.
-
Não sei explicar, mas sei que você não tem.
-
Nem você!
-
Oi?
-
Esquece. Da aí o dinheiro, o relógio, celular, tudo o que tiver de valor.
-
ta, mas calma.
- Eu
to calmo.
-
Sua arma ta tremendo.
- É
frio.
- Ta
calor.
- porra,
quem é você? Fiscal dos ladrões?
- Só
estou querendo te ajudar, quantas pessoas você já assaltou.
-
Varias.
Silencio,
a vitima só olha para o ladrão amador.
-
Ok, você é a primeira.
-
Então, não pode deixar que as pessoas saibam. Tem que se impor. Vamos começar
de novo.
-
Ta.
- Me
da uma voz de assalto.
-
Oi?
-
Fala isso aqui é um assalto, etc. as coisas que você falou antes.
-
Isso daqui é um assalto, passa tudo, carteira, tudo.
-
Ok, vamos de novo, mas agora com mais raiva e mais alto.
O ladrão
se solta, então dessa vez da uma voz de assalto com um assaltante experiente.
-
Perdeu meu irmão, passa tudo, isso daqui é um assalto, passa carteira, passa
celular, relógio. Vai filho da puta.
A
policia que está passando do outro lado, ouve tudo e ve a cena, então prende o
assaltante.
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O homem de bengala, aparentemente cego, está parado na esquina, a noite, como se tivesse precisando de ajuda para
atravessar a rua. Um homem que está passando, fica comovido, então vai ajudar o
cego. Segura no cotovelo do cego.
-
Quer ajuda?
-
Quero.
O homem
ajuda, quando chega do outro lado o cego saca uma arma.
-
Isso é um assalto.
O homem
toma um susto.
-
Meu Deus, o que é isso?
- Um
assalto.
-
Não, quero dizer, você se fez de cego pra me assaltar?
-
Não, pera aí, eu sou cego mesmo.
-
Mas me assaltando?
- E
o que é que tem? Você é preconceituoso? Se acha melhor que um cego.
-
Não, longe de mim...
-
Longe não, foi o que você disse, ficou surpreso por fazermos coisas que pessoas
normais fazem, nós os cegos, também somos normais.
O homem
fica passando a mão na frente do rosto do cego enquanto ele está discursando.
-
Ok, desculpa, não quis parecer preconceituoso.
-
Não, tudo bem, é mesmo um choque a primeira vez.
O homem
se certifica mais uma vez que o assaltante realmente é cego.
-
Agora chega de conversa, me da todo o dinheiro que você tem. Coloca as notas de
cinquenta no meu bolso esquerdo, de cem no direito, de dez no de trás e de
cinco pode ficar pra você.
Silencio.
-
Não ta me ouvindo não? Quer levar um tiro?
Silencio.
O
cego procura a vitima com a bengala, não encontra.
-
Porra, tenho que parar de avisar que sou cego.
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Um
homem acabara de sair de uma lanchonete, vira a esquina, olhando para um lado e
para o outro. É abordado.
-
Parado ai, isso é um assalto.
-
Oi?
- Um
assalto.
-
Mas.
-
Não tem mas, passa tudo.
- Eu
sou dos seus.
-
Dos meus?
- É!
-
Como assim dos meus?
-
Também sou assaltante.
-
Não caiu nessa não. Passa tudo!
- To
falando sério. Acabei de roubar uma lanchonete.
-
Para com essa palhaçada.
-
Juro, olha aqui minha arma.
Mostra
arma.
-
Guarda isso.
-
Calma, só to mostrando minha ferramenta de trabalho.
-
Não quero ver nada, quero o dinheiro.
-
Poxa, mas você vai roubar um dos seus?
-
Que um dos meus, você não é um dos meus.
-
Claro que sim, eu sou ladrão, você é ladrão. Temos que nos unir.
- Eu
não sou ladrão.
-
Então isso não é um assalto?!
- É.
mas é que eu não sou ladrão, ladrão. Eu tenho um trabalho.
-
Pera aí, respeita porque isso daqui é um trabalho.
- Ta
desculpa, o que eu to querendo dizer é que eu não faço isso sempre, eu só to
fazendo porque estou desesperado.
- Ta
então você fica desesperado e quem paga por isso sou eu?
-
Mas você acabou de roubar alguém.
-
Sim, mas é diferente. Eu não faço isso de onda, quando estou desesperado, de
vez em quando. Faço isso sempre. Levo a sério. É o meu sustento.
- É
mas...
-
Não tem mas, isso é uma falta de respeito. O que o senhor faz normalmente?
- Sou
formado em administração.
- Ta
explicado porque está fazendo isso, se tivesse cursado outra coisa não
precisava estar roubando.
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Num
beco escuro.
-
Isso é um assalto. Não faça movimentos bruscos.
-
Ãhm.
Vira
com tudo.
-
Ei, falei para não fazer movimentos bruscos.
Toma
um susto por causa da arma.
-
Ai, cacete.
-
Passa tudo o que você tem.
-
Meu Deus.
- Da
logo o dinheiro, celular, relógio e vamos acabar com isso.
-
Não me mata.
-
Não vou te matar, só quero suas coisas.
- Eu
não tenho nada.
-
Você também não está colaborando né.
Começa
a bater nos bolsos. Tira a carteira.
- Só
tem meus documentos e contas.
-
Não é possivel.
O
ladrão joga a carteira em cima dele.
- da
o celular.
Saca
um celular daqueles modelos mais simples, que não se encontra mais por ai, nem
no interior. Que o ladrão não conseguiria trocar nem por um cartão telefônico.
-
Que merda é essa?
-
Meu celular. Ta sem crédito.
-
Isso é um telefone sem fio.
-
Pera aí, também não precisa ofender.
- Da
o relógio.
-
Não tenho relógio.
-
Tenis.
-
Pode pegar, mas ta rasgando aqui atrás.
-
Meu Deus.
- O
quê?
-
Sua situação ta pior do que a minha.
- É,
mas pelo menos eu não estou por ai assaltando.
-
Olha, mas devia pensar seriamente em começar a fazer isso.
O ladrão
fala e vai embora. Mas antes de ir da cinquenta reais para a “vitima”.