terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mentira saudável

- To bem pra sair assim?

- Não.

- Aí Pedro.

- Só to falando a verdade.

- Mais precisa ser tão grosso.

- Não estou sendo grosso, to sendo sincero.

- Sincero... E essa será que fica melhor?

- Você quer que eu fale a verdade ou minta?

- Fale a verdade.

- Não ficou bom também.

- Nossa, olha o tipo.

- Você que falou pra eu dizer a verdade.

- Mais não essa.

- Como não essa? Existe outra? Essa é a verdade.

- Mais não desse jeito.

- E de que jeito você queria que eu dissesse?
- Sei lá mais não assim.

- Como então?

- Não importa se não ficou bom eu vou trocar.

...

- E agora?

- Tem certeza que quer que eu fale?

- Claro que quero.

- A verdade?

- A verdade!

- Ficou linda.

- Nossa como você é mentiroso.

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- Ah Carlo para de mentir.

- Porque você nunca acredita em mim?

- Porque você nunca fala a verdade?

- Eu to falando a verdade.

- Como eu posso acreditar que você ta falando a verdade agora, se todas as outras vezes eram mentira.

- Não era mentira.

- Ah Carlo.

- Não era, to falando.

- As outras pode até ser que não, mais agora é!

- Não é, porque eu mentiria sobre uma coisa dessas?

- Porque você falaria a verdade?

- Não tenho motivos pra mentir sobre isso.

- E desde quando precisa de motivo pra mentir?

- É isso é verdade.

- Viu eu falo a verdade, já você...

- Já eu também.

- Não tem como eu acreditar nisso, é um absurdo.

- Porque um absurdo? Só você pode fazer isso?

- Não é que só eu possa fazer isso, mais é que não sei se outras pessoas conseguiriam.

- Mais eu vi.

- Tem como provar?

- Ãhm?

- Tem como provar?

- Não acredita na minha palavra?

- Ah Carlo...

- Ah sim, só você consegue fazer isso, você é o rei, o rei de fazer isso...

- Eeee... Ficou bravo...

- Não fiquei bravo, apenas fico puto por você não acreditar em mim.

- Mais eu acredito.

- Não acredita.

- Acredito.

- Não acredita não.

- To falando que acredito.

- Mentiroso...

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- É pelo que deu no diagnostico o senhor sofre de uma doença...

- Aí doutor qual é o nome da doença?

- Mintomania.

- Minto... O que?

- Mintomania. Pessoas que mentem demais.

- Mentira.

- To falando a verdade, o mentiroso aqui é você.

- Não sou não, nunca menti na minha vida.

- Olha aí os efeitos.

- O que to falando a verdade.

- Eu sei que é dificil de aceitar, mas você tem que ser forte.

- Eu sou forte, uma vez ergui um carro...

- É os sintomas estão se agravando mais.

- Qual é o tratamento doutor.

- Falar a verdade.

- Quantas vezes por dia?

- Vai ter que fazer o tratamento intensivo, falar a verdade o dia inteiro.

- Eu não vou conseguir doutor.

- Vai sim, eu acredito em você.

- Acredita?

- Não.

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- Olha nos meus olhos e diz a verdade.

- Precisa mesmo disso?

- Se quiser que eu volte a acreditar em você, sim.

- Não precisa disso eu to falando sério.

- Então olha nos meus olhos.

- Pra que tudo isso.

- Olha. Nos. Meus. Olhos...

- Ta bom.

- Agora diz.

- Você não está gorda...

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- Você jura?

- Juro.

- Jura pelo seu carro?

- Pelo carro Betinha...

- Jura pelo carro?

- Juro, juro...

- Jura mesmo.

- Juro.

- Jura pelo corinthians?

- Ah não coloca o corinthians na história.

- Jura pelo corinthians ou não?

- O corinthians?

- Jerê...

- Juro pelo corinthians. Satisfeita?

- Mais ou menos.

- Mais ou menos?

- Jura pela morte da sua mãe?

- Pela morte da mãe não, Roberta.

- Viu como era mentira...

- Roberta você vai querer colocar a mãe no meio.

- Só assim pra descobrir a verdade...

- Mais já jurei pelo meu carro, pelo corinthians, agora quer que eu jure pela morte da minha mãe.

- Jura pela morte da sua mãe ou não?

- Não pode ser pela morte da sua?

- Sabia que era mentira...

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- Ah, mais foi uma mentira saudável.

- O que?

- Uma mentirinha saudável...

- Como assim mentira saudável?

- Uma mentira que não vai prejudicar ninguém.

- Só porque não vai prejudicar ninguém, é saudável agora?

- Não é agora, sempre teve esse nome.

- Não existe esse negócio de mentira saudável. Mentira é mentira.

- Sim mais tem vezes que nós mentimos pra não machucar o próximo.

- Que próximo.

- Sei lá as pessoas que gostamos.

- Você já contou uma mentira saudável pra mim?

- Claro que sim.

- Qual foi?

- Qual foi o que?

- A mentira saudável.

- Não lembro, foram tantas...

- Ah quer dizer que você sempre faz isso.

- Não.

- Não?

- Não, só quando é preciso.

- E com qual freqüência é preciso?

- A não sei te dizer amor.

- Como não sabe dizer? Dá um exemplo.

- Um exemplo? Um exemplo?

- É.

- Pra evitar alguma briga.

- Que tipo de briga?

- Briga besta (como essa)...

- O que?

- Nada.

- Isso foi uma mentira saudável?

- Saudável pra mim.

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- E se fosse proibido mentir?

- O que?

- Imagine se fosse proibido mentir.

- Do que você ta falando? Fica de olho aí...

- To olhando... Só tava pensando, imagine que ruim se não existisse a mentira.

- Ué que diferença faria?

- Que diferença faria?

- Olha pra tela.

- To olhando... Que diferença faria?

- É.

- O que você diria pra sua mulher pra poder passar no bar?

- A verdade.

- Até parece.

- Sim, a verdade.

- O que diria para o chefe quando chegasse atrasado?

- Olha teu lado aí...

- O que?

- Falei olha teu lado aí...

- To olhando... Mais o que diria para o chefe?

- A verdade.

- Para de mentir...

- Diria a verdade sim, sempre digo...

- Aham, sempre diz.

- Sempre digo sim... E para de conversar, vamos prestar atenção no serviço.

- A verdade...

...

- Diria a verdade, para sempre?

- Sim, se fosse proibido mentir teria outra opção?

- É, pior que não.

- Então. Agora olha teu lado aí.

... E se a sua mulher pegasse você com outra na cama o que você diria?

- A verd... Se ela me pegasse com outra na cama?

- É.

- E não pudesse mentir?

- É.

- Não mais isso nunca vai acontecer.

- Não.

...

- Mais e se acontecesse com você. Se a sua mulher te pegasse com outra na cama e fosse impossível mentir, o que você diria?

- Diria a verdade.

- Que verdade?

- Que a sua mulher estava passando mal e que eu estava tentando ajudá-la.

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