terça-feira, 17 de abril de 2012

Você é muito cachorro

- Ei, o que é isso?
- O que?
- Essa roupa.
- O que é que tem? Ta muito chamativa?
- Claro!
- Caramba eu vou trocar então.
- Não é pra trocar, é pra tirar!
- Por quê?
- Por quê? Por quê?
- É, por quê?
- Por que você é um cachorro, cachorro não usa roupa.
- Desde quando você entende de moda?
- Não é moda. Cachorro não usa.
- E nem fala.
Silencio.
- Quem disse que cachorro não usa roupa?
- Olha em volta, ta vendo algum cachorro de roupa?
- Não. Mas isso não quer dizer que...
- Claro que quer dizer! – interrompe. – vai tirar isso.
- Mas foi a Fernanda que colocou... E outra, vestiu tão bem. – da uma volta.
- Eu não vou sair com você vestido assim!
- E eu não vou sair com você pelado.
- Oi?
- Já parou pra pensar que o errado é você, por estar pelado.
- Não acredito que estou ouvindo uma coisa desta.
- É verdade.
- Ah, eu não sou obrigado. Vou embora que eu tenho mais o que fazer.
- Vai mesmo, tomara que a carrocinha te pegue e te prenda por atentado ao pudor.

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- Nossa não dormi direito a noite.
- Por que?
- Tem um guardinha novo na minha rua.
- Ih...
- Aí quando eu to quase pegando no sono ele passa apitando, então eu sou obrigado a ir latir pra ele.
- Já tentou esquecer ele.
- Como assim?
- Não pensar nele como um adversário.
- Não tem como.
- Claro que tem.
- Como.
- Tem que desapegar. Eu já não lato mais pra guardinha, lixeiro, carteiro...
- Carteiro? – interrompe. – não acredito que consegue ficar sem latir para o carteiro.
- Consigo.
- Me ensina isso aí. Não aguento mais, qualquer barulhinho eu levanto e vou, é mais forte do que eu.
- Você tem que relaxar. Meditar.
- Meditar?
- É. Sentar, fechar os olhos e relaxar.
- Se eu fechar os olhos eu durmo.
- Não pode dormir. Tem que ficar acordado, mas com os olhos fechados.
Os dois sentam e fecham os olhos.
- Só isso?
- Mais ou menos. Aí você tem que limpar sua mente, esquecer tudo.
- Sem dormir?
- Sem dormir!
- Ah não tem como.
- Você quer parar com isso ou não.
- Sim.
- Então faz o que eu to falando.
- Desculpa.
Silencio.
- E agora?
- Agora fica quieto.
Silencio.
De longe escutasse o barulho do carteiro.
- Relaxa. Mantem os olhos fechados. Esquece de t...
Ele sai correndo latindo para o carteiro.
- Desculpa, mas o carteiro já é demais.

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- Acho que não da mais pra gente ficar junto.
- Por quê?
- Por que você é muito cachorro.
- Obrigado
- Isso não é um elogio.
- Ah não?
- Não.
- Então o que quer dizer?
- Quer dizer que você é muito cachorro.
- Sim, disso eu sei.
- Ah então você concorda?
- Que eu sou um cachorro sim.
- Não, não é isso que eu to falando.
- Não to entendendo.
- To querendo dizer que você é um cachorro muito galinha.
- Muito galinha?
- É, um cachorro metido a garanhão.
- Pera aí, eu sou muito cachorro, galinha ou garanhão?
- Os três.
- Não to conseguindo entender.
- Você é muito mulherengo, isso que eu to querendo dizer, quando digo que é muito cachorro.
- Mulherengo, mas eu gosto de cachorra.
- Por isso mesmo.
- O que?
- Por que não pode ver uma cachorrinha e já vai logo cheirando ela.
- Ah é isso.
- Sim, é isso.
- Não, mas eu não faço nada demais.
- Não, não faz.
- Não, eu só converso.
- Sério gatinha.
- Nem venha com esse gatinha pra cima de mim. – vai saindo.
- Ei, desculpa, eu não vou mais ser tão cachorro!

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- Cara, você é muito puxa saco.
- Ãhm?
- Você é muito puxa saco.
- Como assim?
- Os mima demais.
- Nada a ver.
- Ah não?
- Não!
- Então por que ta plantado ai na porta.
- To esperando o Mai... – para no meio.
- Viu.
- Ah larga da minha pata.
- Você acha que ele está dentro do carro pensando, “nossa o Tob está me esperando”.
Silencio.
- Tem que relaxar cara. Não pode correr atrás das borboletas tem que cuidar do jardim pra que elas venham atrás de você.
- Falou o cara que não pode ver um mosquito que já sai pulando igual um louco.
- Não, você não entendeu o que eu quis dizer.
- Tem que deixar eles virem atrás de você.
- Você fala isso por é um egoísta, não passa de um gato egoísta.
- Eles quem vem fazer carinho em mim e não é ao contrario.
Silencio.
- Tudo bem, se quer ficar plantado aí boa sorte, mas eles foram viajar.
- Claro que não.
- To falando.
- Como você sabe.
- Ouvi eles dizendo, não aguenta mais você sufocando eles.
- Sério que eles disseram isso?
- Não, claro que não.
- Ah me esquece. – volta a vigiar a porta.

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