O
pai se prepara para sair de carro, os dois irmãos pedem pra ir junto, o pai
deixa. Um deles fala.
- Eu
vou na frente.
O outro
fala na sequencia.
- Eu
vou na frente.
- Eu
falei primeiro.
O
que falou por segundo, desce emburrado do carro e vai sentar atrás.
Um
dos irmãos está na sala, o outro chega e pega o controle, o que já estava na
sala toma o controle da mão do segundo.
-
Cara, vai começar o meu desenho.
- E
daí, eu to assistindo.
-
Mas eu assisto todo dia.
-
Mas eu liguei primeiro.
Fala
e vira para televisão como se o irmão nem estivesse ali. O que chegou por
depois, levanta e sai da sala emburrado.
Os
dois irmãos estão se pegando “na tapa”, numa daquelas brigas que ninguém sabe
como ou porque começou e nem como vai acabar. Até que o pai chega com a
credibilidade de um juiz de UFC e separa os dois. Fica cada um de um lado.
-
Posso saber o que está acontecendo aqui?
-
Foi ele.
-
Não foi ele.
-
Mas ele me bateu primeiro. Tinha que apanhar primeiro. – fala o que sempre é
segundo.
-
Não quero saber quem bateu primeiro ou bateu segundo, não quero ver vocês
brigando de novo. Se eu pegar de novo vão apanhar igual.
-
Isso não é justo.
-
por que não é justo?
-
Porque quando é pra sair de carro ou pra assistir televisão, se ele fala primeiro
ou liga primeiro ele sempre ganha. Agora quando bate primeiro ele não apanha?
-
Não.
-
Por quê?
-
Porque ele é mais novo que você, tem que servir de exemplo.
O
pai fala daquele jeito que só quem tem filho sabe falar. Vira as costas e sai
antes que aja mais algum protesto.
Moral
da história: ter irmãos é aprender a perder mesmo quando não se está errado.
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Os
dois irmãos estão sozinhos em casa.
-
Sabia que morreu alguém aqui nessa casa.
-
Er, nada a ver...
- Ah
você não sabia.
-
Para cara, você está falando isso só pra me assustar.
-
Por que eu faria isso?
-
Porque só ta nós dois aqui em casa, e você é um idiota.
-
Ei.
O
mais velho joga o chinelo na cozinha quando o mais novo se distrai.
- O
que foi isso?
- O
que foi isso o que?
-
Esse barulho na cozinha.
- Eu
não ouvi nada.
-
Como não ouviu? Você ouviu sim, está falando isso só pra não admitir que está
com medo.
-
Não, to falando isso porque eu não ouvi mesmo.
Silencio.
O irmão mais novo volta assistir televisão e se distrai. O mais velho joga o
outro chinelo. Dessa vez acerta alguma coisa que faz um barulhão. O mais novo
da um pulo no sofá.
-
Que foi isso? Foi você.
-
Como eu? Eu não sai daqui!
-
Cara...
-
Deve ter sido o espirito da mulher.
-
Que mulher.
- A
que morreu aqui.
-
Você está falando sério.
-
Sim, ela morreu lá no seu quarto.
- No
meu quarto?
-
Bem onde é a sua cama.
- Na
minha cama não.
- Na
sua cama, sim.
-
Como?
-
Como o que?
-
Como ela morreu?
-
Foi assassinada pelo marido.
-
Ainda bem que eu não sou casado!
Silencio.
-
Mas ele também matou o filho dele, que se não me engano tinha a sua idade,
quantos anos você tem?
-
Oito e meio.
- É,
ele tinha oito, praticamente a sua idade.
-
Você está falando isso só pra me assustar.
-
Você quem sabe.
O
irmão mais velho fala e vira pra TV o irmão mais novo fica olhando para a
cozinha.
No
meio da noite, o irmão mais novo está dormindo, o mais velho se aproxima
lentamente da cama, puxa a coberta o irmão mais novo da um pulo.
- Aí
meu Deus!
O
mais velho toma um susto. O mais novo se encolhe.
- O
que você está fazendo aqui cara? Veio me assustar mais né?
-
Não, vim dormir com você, pra não deixar que nada te aconteça.
Ajeita
o travesseiro e deita nos pés do irmão mais novo.
-
Você veio pra cá porque estava com medo né!
-
Hum, coitado, eu com medo. Eu não tenho medo de nada.
Cai
uma tampa de panela na cozinha, ele chega mais perto irmão mais novo, que ri
com a cabeça embaixo da coberta.
--------------------------------------------
-
Cara pega o papel higiênico pra mim.
-
Porra...
- Eu
entrei apertado e não vi, pega pra mim por favor.
O
irmão para de fazer o que está fazendo pra ir levar o papel higiênico.
-
Ei... Oh...
- O
que foi.
-
Pega o sabonete pra mim.
-
Quem vai tomar banho e não leva o sabonete.
-
Entrei correndo e nem vi que não tinha sabonete.
- Se
leva com o shampoo.
Silencio.
-
Traz shampoo também!
-
Porra!
Para
de assistir e vai levar as coisas para o irmão.
-
Ei!
Silencio.
- O
véio.
Silencio.
Finge que não ouviu.
-
Cara...
-
Que foi porra.
-
Pega a toalha pra mim.
- Eu
não acredito.
- O
que? Eu preparei tudo e acabei esquecendo.
- Eu
não vou levar.
- O
que custa cara?
Silencio.
-
Vai deixar eu nesse frio.
Silencio.
- Já
pensou se eu pego uma pneumonia e morro... a mãe me mata, e te mata se
descobrir que a culpa também foi sua.
Silencio.
O irmão levanta bravo, pega a toalha e entrega.
-
Cara se não vai acreditar.
- O
que?
-
Meu Deus eu to ferrado.
- O
que...
- A
mina que eu peguei... ta gravida.
-
Oi?
-
Gravida, barriguda, grá-vi-da!
- Meu
Deus, você não usou camisinha?
- Eu
esqueci!
- Ah
vai se ferrar.
- Eu
te liguei pra você me levar, você não atendeu o celular.
...
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