sábado, 1 de dezembro de 2012

Primeiro pedaço


A festa está animada, todos comendo, dançando, se divertindo, então chega a hora de cortar o bolo. Forma-se uma tensão. Quem vai ganhar o primeiro pedaço. Todos se olham. Há uma ponta de esperança em todos. Mesmo sabendo que alguns não tem nenhuma chance de ganhar. Mas nem por isso aquele seu amigo copa do mundo, que só aparece uma vez a cada quatro anos, não tem uma ponta de esperança, afinal de contas ele aparece tão pouco que deveria ganhar. Mas nós sabemos que ele não vai ganhar. Assim como num concurso de beleza sabemos só de olhar para cara de alguns candidatos que eles não vão ganhar. A tensão está no ar. Pra quem dar o primeiro pedaço?
Ele corta o bolo, de baixo pra cima que pra ter sorte, coloca o pedaço no pratinho. Todos estão em silencio.

- E o primeiro pedaço do bolo vai para...
Expectativa.
- Para...
Tensão.
- Para...
- Fala logo cacete.
Grita alguém lá do meio.
- Pera aí.
Silencio.
- Vai para mim.
Decepção.
- Como assim pra você?
- Pra mim ué.
- Mas não pode ficar pra você.
- Por que não?
- Não sei, mas não pode.
- Claro que...
- Não pode. – interrompe o coro.
- Mas o bolo é meu.
- Mas o primeiro pedaço não.
- Tem tanta gente boa.
- Larga a mão de ser egoísta.
Grita o anônimo do meio de novo.
- Tem sua mãe.
- Seu pai.
- Vó.
- Mulher.
- Tem eu. – grita um desconhecido no meio.
- Quem é você?
Todos olham para ele.
- Só to dando um exemplo de tanta gente que tem. Que você não pode ficar pra você. Tem que escolher alguém.
- É isso ai.
- Escolhe alguém.
- Mas eu quero ficar pra mim. Acho que eu mereço.
- Ah então fica com tudo pra você. Egoísta.
Fala e sai.
Todos ficam bravos e também saem atrás.
- Pera aí gente.
Todos vão embora.

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- Toma. – estende uma nota de 100 reais.
- O que é isso?
- Meu presente pra você.
- Presente?
- É, não sabia o que dar, então resolvi te dar o dinheiro, ai você escolhe o que quer.
- Não, eu não posso aceitar.
- Mas é o meu presente pra você.
- Que isso. Não precisa comprar nada.
- Por isso mesmo eu não comprei. To te dando o dinheiro para comprar.
- Mas eu não posso aceitar seu dinheiro.
- Se fosse o presente você aceitaria?
- Sim, mas...
- Então!
- Mas é diferente.
- Por que é diferente?
- Porque você está me dando dinheiro.
- Então, melhor ainda. Finge que é um presente. Você vai e compra o que quiser.
- Mas a questão não é o valor, é o que ele representa.
- O que ele representa?
- É, o valor sentimental. O que você pensou quando estava comprando. O ato de comprar.
- Então, pega o dinheiro e quando você for comprar imagina que é isso que eu estaria pensando se tivesse comprando.
- Oi?
- Pega o dinheiro.
- Eu não posso aceitar.
- E se eu embrulhar ele.
- Não é a questão do embrulho.
- A questão é que o valor.
- Ah porque não disse desde o começo.
Saca mais duas notas de 100 da carteira.

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De madrugada, ele cutuca ela.
- Feliz aniversário.
Ela nem se mexe.
- Parabéns pra você, nessa data querida, muitas...
Silencio.
- Me deixa dormir.
Silencio.
- mas é seu aniversário amor.
- E o que é que tem.
- Que é um dia especial. O que você quer de presente?...
Silencio.
- Hem?
Silencio.
- Andressa?
- Que foi?
- Hoje é o seu dia.
- Que horas são?
- duas da manhã.
- Mas ainda é de madrugada, como é o meu dia.
- É! Eu acordei pra ir no banheiro e queria ser o primeiro a te desejar tudo de bom. Você merece muito. E aí o que vai querer? Pode escolher qualquer coisa.
Silencio.
- Andressa?
Silencio.
- Andressa, dormiu de novo?
Silencio.
- Andressa!
- Que foi?
- Quero te dar feliz aniversário.
- Ta bom.
- Você sabe que eu te amo, você é muito especial pra mim, sem você eu não seria nada.
Ela começa a roncar.
- Andressa!
- Oi?
- Você dormiu?
- Sim.
- Mas é seu aniversário.
- Ah é? Então quer saber o que eu quero de presente?
- O que?
- Dormir. Desliga essa luz.

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