domingo, 25 de agosto de 2013

LADRÃO DE PRIMEIRA VIAGEM

Dois homens estão na rua. Um na frente e o outro alguns passos atrás. O de trás chama o da frente.
- Ei. Psiu.
O da frente não ouve, continua andando.
- Shiu!
Nada.
- Ei, você.
O homem que está passando olha em volta.
- Eu?
- É.
Silencio.
- você tem horas?
- onze e meia.
- Brigado.
O homem balança a cabeça e vai se retirando.
- Pera aí.
- O quê?
- Isso é um assalto. – resmunga.
- Oi?
- Um assalto.
- Meu Deus, onde?
- Aqui.
- Aqui?
- É, um assalto, meu, em você.
Mostra a arma, imponente. A arma é imponente, não o ladrão.
- O que é isso?
- Uma arma, não da pra reconhecer.
- Sério?
- Sim. Por que, não parece?
- Sei lá, mas é que...
- Mas é que nada, passa a grana.
- Você está mesmo fazer isso?
- Parece que sim né?!
- Não sei, você não parece ladrão.
- Como assim não pareço?
- Não tem cara de ladrão.
- Qual é a cara de ladrão.
- Não sei explicar, mas sei que você não tem.
- Nem você!
- Oi?
- Esquece. Da aí o dinheiro, o relógio, celular, tudo o que tiver de valor.
- ta, mas calma.
- Eu to calmo.
- Sua arma ta tremendo.
- É frio.
- Ta calor.
- porra, quem é você? Fiscal dos ladrões?
- Só estou querendo te ajudar, quantas pessoas você já assaltou.
- Varias.
Silencio, a vitima só olha para o ladrão amador.
- Ok, você é a primeira.
- Então, não pode deixar que as pessoas saibam. Tem que se impor. Vamos começar de novo.
- Ta.
- Me da uma voz de assalto.
- Oi?
- Fala isso aqui é um assalto, etc. as coisas que você falou antes.
- Isso daqui é um assalto, passa tudo, carteira, tudo.
- Ok, vamos de novo, mas agora com mais raiva e mais alto.
O ladrão se solta, então dessa vez da uma voz de assalto com um assaltante experiente.
- Perdeu meu irmão, passa tudo, isso daqui é um assalto, passa carteira, passa celular, relógio. Vai filho da puta.
A policia que está passando do outro lado, ouve tudo e ve a cena, então prende o assaltante.

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O homem de bengala, aparentemente cego, está parado na esquina, a noite, como se tivesse precisando de ajuda para atravessar a rua. Um homem que está passando, fica comovido, então vai ajudar o cego. Segura no cotovelo do cego.
- Quer ajuda?
- Quero.
O homem ajuda, quando chega do outro lado o cego saca uma arma.
- Isso é um assalto.
O homem toma um susto.
- Meu Deus, o que é isso?
- Um assalto.
- Não, quero dizer, você se fez de cego pra me assaltar?
- Não, pera aí, eu sou cego mesmo.
- Mas me assaltando?
- E o que é que tem? Você é preconceituoso? Se acha melhor que um cego.
- Não, longe de mim...
- Longe não, foi o que você disse, ficou surpreso por fazermos coisas que pessoas normais fazem, nós os cegos, também somos normais.
O homem fica passando a mão na frente do rosto do cego enquanto ele está discursando.
- Ok, desculpa, não quis parecer preconceituoso.
- Não, tudo bem, é mesmo um choque a primeira vez.
O homem se certifica mais uma vez que o assaltante realmente é cego.
- Agora chega de conversa, me da todo o dinheiro que você tem. Coloca as notas de cinquenta no meu bolso esquerdo, de cem no direito, de dez no de trás e de cinco pode ficar pra você.
Silencio.
- Não ta me ouvindo não? Quer levar um tiro?
Silencio.
O cego procura a vitima com a bengala, não encontra.
- Porra, tenho que parar de avisar que sou cego.

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Um homem acabara de sair de uma lanchonete, vira a esquina, olhando para um lado e para o outro. É abordado.
- Parado ai, isso é um assalto.
- Oi?
- Um assalto.
- Mas.
- Não tem mas, passa tudo.
- Eu sou dos seus.
- Dos meus?
- É!
- Como assim dos meus?
- Também sou assaltante.
- Não caiu nessa não. Passa tudo!
- To falando sério. Acabei de roubar uma lanchonete.
- Para com essa palhaçada.
- Juro, olha aqui minha arma.
Mostra arma.
- Guarda isso.
- Calma, só to mostrando minha ferramenta de trabalho.
- Não quero ver nada, quero o dinheiro.
- Poxa, mas você vai roubar um dos seus?
- Que um dos meus, você não é um dos meus.
- Claro que sim, eu sou ladrão, você é ladrão. Temos que nos unir.
- Eu não sou ladrão.
- Então isso não é um assalto?!
- É. mas é que eu não sou ladrão, ladrão. Eu tenho um trabalho.
- Pera aí, respeita porque isso daqui é um trabalho.
- Ta desculpa, o que eu to querendo dizer é que eu não faço isso sempre, eu só to fazendo porque estou desesperado.
- Ta então você fica desesperado e quem paga por isso sou eu?
- Mas você acabou de roubar alguém.
- Sim, mas é diferente. Eu não faço isso de onda, quando estou desesperado, de vez em quando. Faço isso sempre. Levo a sério. É o meu sustento.
- É mas...
- Não tem mas, isso é uma falta de respeito. O que o senhor faz normalmente?
- Sou formado em administração.
- Ta explicado porque está fazendo isso, se tivesse cursado outra coisa não precisava estar roubando.

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Num beco escuro.
- Isso é um assalto. Não faça movimentos bruscos.
- Ãhm.
Vira com tudo.
- Ei, falei para não fazer movimentos bruscos.
Toma um susto por causa da arma.
- Ai, cacete.
- Passa tudo o que você tem.
- Meu Deus.
- Da logo o dinheiro, celular, relógio e vamos acabar com isso.
- Não me mata.
- Não vou te matar, só quero suas coisas.
- Eu não tenho nada.
- Você também não está colaborando né.
Começa a bater nos bolsos. Tira a carteira.
- Só tem meus documentos e contas.
- Não é possivel.
O ladrão joga a carteira em cima dele.
- da o celular.
Saca um celular daqueles modelos mais simples, que não se encontra mais por ai, nem no interior. Que o ladrão não conseguiria trocar nem por um cartão telefônico.
- Que merda é essa?
- Meu celular. Ta sem crédito.
- Isso é um telefone sem fio.
- Pera aí, também não precisa ofender.
- Da o relógio.
- Não tenho relógio.
- Tenis.
- Pode pegar, mas ta rasgando aqui atrás.
- Meu Deus.
- O quê?
- Sua situação ta pior do que a minha.
- É, mas pelo menos eu não estou por ai assaltando.
- Olha, mas devia pensar seriamente em começar a fazer isso.

O ladrão fala e vai embora. Mas antes de ir da cinquenta reais para a “vitima”.

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