quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Briga de criança

- O ultimo a ser pego conta!
- Não! O primeiro conta.
- Se for o primeiro os outros vão se entregar.
- Se for o ultimo os primeiros vão se entregar.
- Que tal se o do meio contar.
- Do meio?
- É tipo o terceiro...
- Mas aí o os dois primeiros e os últimos vão se entregar.
- Tem que ser o primeiro, sempre foi o primeiro.
- Não, não. Sempre foi o ultimo.
- Eu só vou brincar se quem contar for o ultimo.
Toca um sinal.
- Fim do intervalo. – vem uma voz do fim do corredor.
- Aí viu, ficam discutindo nem deu tempo de brincarmos.
- Falei pra ser o ultimo, mas não...
- É o primeiro...
- Resolvemos isso agora na parte da tarde...
- Isso aí, amanhã a gente almoça rapidão e brinca antes de trabalhar.
- Ta, então vamos porque eu tenho que enviar uns relatórios até as duas...

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- Pai, pai...
- O que foi?
- Posso ir dormir na casa do Pedro?
- Hoje? E hoje lá é dia de dormir na casa dos outros?
- Não sei... Tem dia pra dormir na casa dos outros?
- Tem e coincidentemente não é hoje.
- Da onde o senhor tirou isso?
- Do manual de como educar os filhos, lá diz que dia de semana não é dia de dormir na casa dos outros...
- Existe um manual... A pai o senhor ta mentindo...  E não é os outros é o Pedro!
- A mãe dele sabe?
- Sabe.
- O pai dele sabe?
- Sabe...
- E mesmo assim eles deixam?
- Sim!
Silencio, o pai volta a olhar para o jornal, enquanto o filho fica olhando para ele.
- E aí?
- E aí o que?
- Posso ir?
- Pode ir onde?
- Pai!
- Pede pra sua mãe.


- Mãe, mãe...
- Que foi? To assistindo minha novela!
- Posso ir dormir lá na casa do Pedro?
- Hoje?
- Não mãe é daqui a três anos, mas eu já resolvi pedir agora!
- Augusto não fala assim comigo eu sou sua mãe.
- É mãe, é hoje...
- O que é que vai ter lá hoje?
- Cama e sono.
- Mas aqui também tem isso. Porque ele não vem dormir aqui?
- É que vai ta todo mundo lá!
- Todo mundo quem?
- Todo mundo da galera.
- E a mãe dele sabe que vai estar todo mundo lá?
- Não mãe, nós vamos chegar lá e fazer uma surpresa...
- Augusto! Olha a boca.
- A mãe dele sabe, mãe.
Silencio, a mãe volta a ver novela e ele fica olhando pra mãe.
- Mãe!
- Não grita moleque.
- E aí?
- E aí o que?
- Posso ir?
- Onde?
- Mãe!
- Ah, vê com o seu pai.

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Os dois estão jogando vídeo game.
- O que você quer ser quando crescer?
- Oi? – dando atenção só para o vídeo game.
- Quando ficar adulto...
- Olha o gol, olha o gol... Uh!
- O que vai querer ser?
- Sei lá cara, presta atenção no jogo...
- Ei você tem que começar a pensar...
- Porque? A gente só tem dez anos.
- Então, dez anos cara! Daqui para os vinte é um pulo.
- Cara a gente ainda é criança...
- Criança!? Fale por você eu já sou quase um pré-adolescente!
- Nada a ver... Relaxa... Olha o gol, olha o gol... Uh!
- Nada a ver? Tudo a ver, hoje você ta com dez, mas ontem mesmo você tinha nove.
- É pra isso que servem os aniversários, pra nos deixar mais velhos...
- Então é como dizem, depois dos dez, os anos, passam voando!
- Como dizem? Quem ‘dizem’?
- Todo mundo?
- Que todo mundo?
- Todo mundo que tem doze anos!
- Esse povo com doze se acha... ‘O juiz, o juiz’...
- É, mas pelo menos eles já sabem o que vão ser!
- O que você quer ser? Senhor quase pré-adolescente!
- Eu?
- Não eu!
- Eu quero ser astronauta...
- Pfff...
- Pfff... O que? Ta com inveja porque eu sou um homem decidido.
- Homem decidido? Você ainda mama...
- Cara não é mamadeira, é um negócio que eu tenho que tomar pra ajudar no meu crescimento.
- É... E o nome é: Mamadeira!
- Não é mamadeira...
- “Eu tenho dez anos e vou ser um astronauta que toma mamadeira”. – provocando daquele jeito que só as crianças sabem provocar.
- Não é mamadeira cara... Olha lá o gol! GOOOOL!
- Não valeu...
- Porque não valeu?
- Eu não tava olhando.
- Não posso fazer nada...
- Você roubou!
- Não roubei não!
- Roubou sim. Você aproveitou que eu não tava olhando.
- Você não tava olhando porque tava me zoando.
- Tava te zoando porque começou com esse papo de crescer sendo que você mama. Tem que arrumar uma namorada que divida a mamadeira!
- Para de dizer que eu mamo cara. Seu orelhudo.
- “Para de dizer que eu mamo...” Mi-Mi-Mi...
- Cara se você continuar fazendo isso vou desligar o vídeo game...
- Se você continuar fazendo isso eu vou desligar o vídeo game...
- Para...
- Para...
- Ah então você quer. – desliga o vídeo game.
- Poh bem na hora que eu ia fazer o gol...
- Eu avisei...
- “Eu avisei”...
- Mãe! – grita pela mãe.
- “Mãe!”
- O que foi caramba? – vem um grito da cozinha.
- Ih apelou pra mamãe eu vou embora. Você ta se achando muito, fica andando com esses caras de doze anos...
- É pelo menos eles se comportam como homens...
- É pelo menos eles não mamam... – sai bravo.
- Já falei que não é mamadeira! – grita para o amigo que já nem escuta mais.
- Sua mamadeira ta pronta filho. – diz a mãe que acaba de entrar na sala. – cadê o Miltinho?
- Foi embora, ele é muito criança. – pega a mamadeira. – ta quente?

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- Carlos cadê o Edu?
- Não sei não ta no quarto dele?
- Se ele tivesse no quarto dele eu não ia ta perguntando onde ele está.
- É!
Silencio
- Qual foi a ultima vez que você viu ele?
- Quando ele veio pedir pra ir dormir na casa do Pedro.
- E o que você disse?
- Pra ele pedir pra você. Por quê?
- Porque quando ele me pediu eu falei pra ele pedir pra você!
- Será que ele...
- Descobriu nossa estratégia de ficar jogando um pra cima do outro e ninguém responder?
- Não pode... Fazemos isso com todos eles e nunca descobriram...
- Espera aí vou ligar pra casa do Pedro. – pega o telefone. – Alou... é da casa do Pedro, oi Gilmara o Edu ta aí?... Ah ta... Deixa eu falar com ele... Ta obrigado.
- E aí?
- Foi chamar ele. – tira a boca do telefone pra responder o marido. – Alou... Edu o que você está fazendo aí?... O que foi dormir... Como assim dormir?... Deitar e fechar os olhos. Eu sei como que dorme não fala assim que eu vou aí... Seu pai deixou... – O pai faz que não com a cabeça. – Seu pai ta dizendo que não... Ah ele falou que era pra você falar comigo, mas eu não deixei... Como não falei não?... Falei que era pra você falar com ele... Ele disse que não disse que sim... Ah mas também não disse que não... Ta bom, fica aí amanhã quando você chegar a gente conversa... Ta beijo, boa noite... Ta, ta... E sem fazer bagunça aí na casa dos outros... Eu sei que não é a casa dos outros é a casa do Pedro... Tchau... Tchau... – desliga o telefone.
- Descobriu?
- Pelo jeito sim!
- E agora?
- Temos que inventar outro jeito de não dizer não e nem sim sem ser pego.

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Dois amigos que não se viam a muito tempo se encontram.
- E aí meu querido, quanto tempo como você está?
- Nossa quanto tempo mesmo, to bem, não tão quanto você, mas bem!
- O que conta de novo?
- De novo só que eu virei pai, chegou a me ver pai?
- Não a ultima vez que eu te vi ainda era mãe...
Os dois caem na gargalhada.
- Pois eu também virei pai!
- É mesmo parabéns!
- Com quantos anos está o seu ou a sua...
- É ele, ta com cinco...
- A idade do meu.
- Sério?
- Sério!
- Eles crescem rápido hein...
- Nem me fale, o meu já ta indo para a escola, para o pré. Ele é avançado.
- O meu ta indo desde o ano passado, esse ano já foi pra primeira.
- A professora queria colocar o meu na primeira também, mas eu não quis constranger os outros alunos.
- Sei como é.
- Já não basta fazer os mais velhos passarem vergonha na escolinha de futebol.
- Ah ele já ta treinando também?
- Já, já, desde os três anos... Já tão de olho nele...
- O do meu já compraram o passe. Ele também treina, desde os dois anos, os primeiros passos dele foi em direção a uma bola.
- Interessante. O meu bate com as duas.
- Legal... Legal... O meu bate só com a direita mais nunca erra. Cinco anos e já o batedor de falta oficial do time. Lembra muito eu...
- Mas você não batia falta!
- Não batia porque você não deixava, queria bater todas...
- O professor que mandava.
- Porque você era puxa-saco...
- E você era ruim.
- Ah falou o bonzão. Atrasadinho. Demorou muito pra terminar a faculdade? Atrasadinho!
- Ei eu tinha dificuldades porque eu acordava muito cedo. E pelo menos eu não colava pra passar. E aí como é colocar na vida real? Existe!
- Eu só colei uma vez!
- Aham, colou até no exame do pezinho...
- É eu colei e você reprovou!
Toca um celular.
- Alo... – atende o celular. – não, não to gritando... Ta desculpa por ter gritado... Já to indo, não o padeiro não morreu, já to indo... – desliga o celular.
- Ih sendo mandado pela mulher, era o mínimo que eu poderia esperar.
Chega uma senhora.
- Vai demorar muito com esse pão aí seu imprestável. – grita a senhora.
- Não, não... Já tava indo, só tava conversando com um amigo dos tempos de escola.
- Não quero saber quem é! Se eu quisesse saber tinha perguntado. E anda logo. – sai batendo o pé a “velha”.
- É minha mulher pode ser mandona, mas pelo menos ta inteira. Não sabia que você gostava de tão velha assim.
- Não essa daí não é minha mulher, Deus me livre. Essa é minha sogra.
- Desculpa por ter te tratado mal...
- Ué porque ta pedindo desculpa agora?
- Porque eu vi que você está numa situação bem pior que a minha, está fazendo compras com a sogra. Eu não preciso mais competir, você acaba de perder por W.O da vida! – Sai dando risada.
- Vai ficar se enrolando aí. – grita a velha.

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