segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pegadinha

De manhã. Na cozinha.
- Aí minha cabeça, fala baixo, fala baixo.
- Ué mais eu não falei nada.
- Então pensa baixo!
- Alguém aqui bebeu demais ontem. – liga o liquidificador.
- Aí! – grita e faz aquela cara que só quem está com ressaca sabe fazer. – É e pelo jeito ele me levou junto.
- Engraçadinho.
- O que aconteceu ontem?
- Deixa eu entrar no youtube que eu já te respondo.
- Você tem que parar de beber.
- Só se você parar de falar.
Silencio. Liga o liquidificador de novo.
- Aí! Desliga isso.
- Não entendi.
- Desliga isso, por favor.
- Porque?
- Porque minha cabeça vai explodir...
- Eu não vejo problema nenhum, não bebi ontem.
- Desliga, por favor, eu aprendi minha lição.
- Oi?
- EU APRENDI MINHA LIÇÃO. – gritando bem na hora que o liquidificador é desligado.
- Porque você está gritando.
- Engraçadão. É acho que dessa vez eu passei dos limites. Mas daqui pra frente eu não vou beber mais.
- Nem mais nem menos, só o mesmo tanto. Alias se você beber mais do que você bebeu dessa vez, você não vai ter problemas com barulho, afinal de contas vai acordar num cemitério.
- É né, eu não vou beber mais. Prometo pra mim mesmo.

De madrugada, ouve-se um barulho na sala. Liga a luz. Vê alguém abraçando o abajur.
- O que você está fazendo?
- Acabei de salvar a vida dessa criatura.
- Isso é um abajur.
- Não sei, não cheguei a perguntar o nome dele.
- Me da isso aqui. – toma da mão dele. – Você está bêbado.
Silencio.
- Não tem vergonha de estar bêbado dia de semana?
Silencio.
- Não vai me responder?
- Ah você ta falando comigo. Achei que estava falando com o abajur.
- Você não prometeu pra você mesmo que não ia beber mais?
- É, eu não sou confiável! – deita no sofá.
Enquanto o outro fica bravo, desliga a luz e vai embora.
- Eu sou um herói! – Dormindo, mais bêbado do que nunca.

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Dois amigos que a muito tempo não se viam, se encontram num bar, trocam cumprimentos e decidem tomar uma juntos
Aparece o garçom.
- Mais uma rodada?
- Acho que...
- Mais uma! – interrompendo.
- Não cara eu tenho que ir embora, minha mulher já deve ta espumando de raiva.
- Poxa, mas você não avisou a ela que tinha encontrado o seu amigão aqui, e ia ficar, tomar uma, bater um papo?
- Avisei...
- Então... Quanto tempo fazia que não nos víamos?
- Ah fazia tempo...
- Então! Desce mais uma...
- Será?
- Não tem será, vamos beber e botar o assunto em dia. Que se dane! Mais uma rodada.
- Beleza.
Cinco minutos depois, o silencio reina no ambiente. Aparece o garçom, novamente.
- Tudo em ordem por aqui? Mais alguma coisa?
- Desce mais uma.
- Não, essa era a ultima, e nem acabou ainda.
- Que ultima, vamos beber mais, conversar, jogar papo fora...
- Não posso me enrolar mais...
- Que isso, nem me contou o que anda aprontando...
- Não ando aprontando nada, e é melhor eu ir porque senão minha mulher vai acabar achando que eu estou aprontando.
- Fica, seja macho cara, sua mulher não liga de você ficar num bar conversando com um amigo das antigas.
- Você não chegou a conhecer minha mulher, né?
- Não!
- Ta explicado o porque pensa assim.
- Viu nem conheci sua mulher, faz muito tempo que não nos vemos mesmo!
- Fazia mesmo... Então pega meu telefone e marcamos outro dia.
- Então bebe mais uma!
- Será?
- Pelos velhos tempos.
- Ta bom, mas é a ultima!
- Ultima!
- Pelos velhos tempos...
Cinco minutos depois.
- Garçom traz a conta!
- Por quê?
- Falei que era a ultima.
- Você tava falando sério?
- Sim...
- A pensei que era mais uma das suas pegadinhas igual nos velhos tempos.
- Eu nunca fui de fazer pegadinhas, quem fazia pegadinha era você!
- Ah é! Bons tempos.
- É bons tempos, mas agora eu tenho que ir mesmo.
- Posso ir com você?
- Oi?
- Minha mulher me expulsou de casa!
- Sério isso cara, sinto muito...
- Sério. Não esperava...
- Mas o que aconteceu?
- É uma longa história... É melhor você ir se não sua mulher vai ficar brava...
- Minha mulher não manda em mim... Eu to aqui com um amigo que não via a um tempão ela não tem porque ficar brava...
- Tem certeza?
Silencio. Toca o celular, é a mulher.
- Alo... – atende o celular. – Oi... Não to aqui ano bar ainda... É com aquele amigo... Fazia tempo que eu não via ele... Não vou ir já... Eu não to aprontando... Eu vou ficar... Vou sim... Deixa eu conversar em paz, você acha que manda em mim... Não... Não tem problema eu durmo na rua... Tchau... – desligando o celular na cara dela.
Silencio. O garçom ainda está parado na frente deles esperando um parecer.
- Cara eu não queria causar briga entre vocês...
- Não foi você quem causou. Eu precisava me posicionar, já tava cansado...
- Então não foi culpa minha...
- Não!
- Você vai ficar mais um pouco.
- Um pouco não, muito.
- Ufa...
- Agora pode me contar o que aconteceu...
- Garçom desce mais uma rodada. Aconteceu o que?
- Com você e sua mulher.
- Minha mulher?
- É sua mulher te expulsou de casa...
- Ah... Então era uma pegadinha, não tenho mulher só fiz isso pra você ficar com dó, e ficar mais. Te peguei hein... Igual nos velhos tempos.
O garçom chega com os Chopes, ele levanta em silencio.
- Ué, onde você vai?
- Se eu correr ainda da tempo de eu pedir desculpa. – Fala e sai.

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