domingo, 16 de outubro de 2011

A Batida

Depois de uma batida. Desce um de cada carro, ele achando que quem está errado é ela, e ela achando que quem está errado é ele.
- O senhor ta cego?
- O que? Eu? Eu o que?
- É e pelo jeito também ta surdo!
- Espera aí minha senhora quem tem idade pra ta surdo ou cego aqui não sou eu não!
- O que o senhor ta insinuando?
- Não estou insinuando nada, ainda!
- Você não viu meu carro não?
- Vi infelizmente eu vi. Você não sabe o que eu não daria para não ter visto.
- Se o senhor viu então porque não freio?
- Não sei, vai ver eu achei que tava brincando de carrinho de bate-bate! É lógico que eu freei, foi você quem não freou minha senhora!
- Minha senhora é o cambau, sua senhora ta na puta que te pariu. Se eu fosse sua senhora eu não deixaria você ter comprado carro.
- Ah você bate em mim e a culpa é minha?
- Eu bato em você? Eu. Bato. Em você?
- E depois eu é que quem estou surdo...
- Eu queria muito bater em você, mas não com o carro, sim com uma marreta!
Chega a policia para esfriar a discussão.
- O que está acontecendo aqui? – pergunta calmamente o policia.
- Daí eu concordava em arcar com as conseqüências. – disse ela.
- O que está acontecendo? – novamente pergunta o oficial.
- É pelo menos pra usar a marreta não precisa ter carteira!
- O que aconteceu aqui, cacete. – finalmente fazendo-os o ouvir.
Silencio. O guarda olha para os dois.
- É que alguém aqui tem dificuldades de diferenciar o freio do acelerador.
- Tem mesmo, mas não se preocupe que depois desse acidente ele vai se esforçar pra decorar.
- Não vão começar porque se não vou levar os dois em cana. – disse com aquela autoridade que só uma autoridade tem.
Silencio.
- Agora me digam o que houve.
- Eu ta vindo lá de baixo, dei o sinal pra pegar a direita...
- Nossa ele sabe diferenciar direita e esquerda. – interrompendo-o.
- Minha senhora deixa ele terminar a história dele.
- Desculpa, desculpa.
- Eu dei o sinal, e como eu vi que ela tava vindo muito rápido...
- Muito rapido? Muito rápido pra quem? Para o Rubinho?
- Minha senhora eu vou ter que pedir de novo?
- Hoje eu acordei senhora de todo mundo. – resmungou.
- O que a senhora disse? – virou segurando o cassetete para intimidá-la.
- Disse que não vai precisar pedir de novo!
- Então eu freei pra evitar o pior.
- E pelo jeito não adiantou... – ironizou o policia.
- É... Teria adiantado se ela soubesse que o freio é o do meio.
Silencio.
- Posso contar a minha versão agora?
- Sua versão?
- Pode.
- Eu vinha descendo a rua na velocidade permitida, mas como era uma decida a tartaruga Touché aí teve a impressão que eu estava rápida.
- Tartaruga Touché? Você é mais velha do que eu imaginava.
- O senhor vai deixar ele me insultar assim?
- Fica pelo tartaruga Touché. Agora prossiga a história.
- Velha... Hum... Então eu tava descendo, dei o pisca para a esquerda, e como ele já tava devagar e reduziu, e a preferencial não é de nenhum dos dois, então achei que ele estava sendo cavalheiro e me dando a vez.
- Como assim cavalheiro? Não existe cavalheiro desde o tempo da tartaruga Touché
- É ainda bem que você não é um cavalheiro assim eu não vou precisar ficar com dó na hora de cobrar o estrago.
- Você cobrar o estrago? Eu to certo e ainda vou ter que pagar. Acho que você está enganada.
- Estou enganada em estar discutindo com você, só vou pegar o numero da sua placa e ir embora.
- Não precisa pegar só o numero não, pega a placa inteira você já arrancou ela do meu carro mesmo.
- Ei, Ei. – gritou o policial.
Silencio.
- Vocês esqueceram que eu to aqui?
- Não, desculpa seu guarda. – disse ela.
- Se você não é a “minha senhora”, eu também não sou o “seu guarda”.
- Viu, deixa a lei falar.
- E você também fica quieto aí.
- Desculpa.
- Só quero dizer que cada um vai pagar o seu estrago.
- Pera aí policial eu não tenho dinheiro pra pagar isso agora, to apertado.
- Não acredito nisso meu marido vai ficar louco.
- Ficar louco? Ele é louco de ser casada com você.
- O que você disse aí. – partindo pra cima dele.
- Eita mais esqueceram de novo que eu to aqui? Quer ver eu levar os dois em cana.
- Desculpa.
- Desculpa.
- Vamos terminar logo com isso, cada um vai arcar com o seu estrago.
- Ta bom né, fazer o que... – disseram os dois, e já iam se encaminhando cada um para o seu respectivo veiculo.
- Pera aí não terminou, vamos até a viatura comigo.
- Ué porque? Já não ta resolvido?
- Até a viatura? Eu já perdi muito tempo aqui.
- Já ta resolvido sim. Só falta entregar a multa para os dois.
- Multa? – disseram novamente em coro.
- Multa por estarem entrando em uma rua contra a mão.

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