sábado, 9 de novembro de 2013

VENDE-SE FÉRIAS

Já na cama, se arrumando pra ir dormir.
- e ai amor, já decidiu onde vamos passar as férias esse ano?
- Sabe que eu tava pensando, queria passar um tempo em casa.
- Como assim?
- Todas as férias a gente viaja, fica pra lá e pra cá e eu acabo nem descansando.
- Não to entendendo.
- A gente tem tanta coisa em casa. trabalhamos um bocado pra conseguir a casa do jeito que queríamos, mobiliamos com o bom e o melhor, gastamos tudo pra deixar tudo do nosso jeitinho e não aproveitamos nada. Ficamos o dia inteiro trabalhando, saímos jantar, só dormimos em casa praticamente, acabamos não aproveitando nada.
A mulher fica em silencio ouvindo.
- Temos que aproveitar mais o nosso espaço. Usufruir do que corremos atrás para conseguir.
Ela segue olhando para ele.
- Nosso condomínio tem tanta coisa, piscina, academia, parquinho, quadras, bibiblioteca... tudo, e quando usamos? Nunca! Pagamos por isso. E não usamos, porque, por causa do trabalho e estar sempre na rua. Isso é um descaso, quantas pessoas não queriam ter o tanto de coisa que nós temos acesso? Muitas. E nós temos, mas não aproveitamos. Enfiam acho que deveríamos ficar em casa nessas férias e aproveitar todas essas oportunidades.
Os dois fazem silencio. O marido desliga o abajur do seu lado e fecha os olhos. A mulher fica parada na mesma posição.
Silencio.
O marido não se aguenta. Liga a luz e senta.
- Ok, vamos fazer uma viagem simples, poucos dias, hotel barato, só pra não passar em branco.
A mulher sorri. Balança a cabeça. Desliga a luz do abajur do seu lado da cama e se deita. O marido também.
Silencio.
- Aproveitar mais a decoração da casa.
Silencio.
- Vai que cola.

----------------------------------------

O marido chega em casa a mulher está ao telefone, enquanto assiste televisão e lixa as unhas do pé. Ele senta, pega o controle, troca de canal, ela afasta o telefone da boca.
- Eu to assistindo.
Ele só olha para ela.
- Não, não era com você não – volta a falar ao telefone – era com o Patricio que chegou... – afasta o telefone e fala com ele – ela ta te mandando um beijo.
- Quem é?
- Ele mandou outro – de volta no telefone – Então, e ai, já sabe onde vai pular as ondinhas de ano novo?... como assim não vai?... Não conseguiu casa?... não... não... Ta, mas não pode deixar de pular. Quer estragar seu ano?
O marido mexe no celular.
- (ao telefone) Não, não, não, vocês vão com a gente.
O marido para de mexer no celular.
- Quem é?
- (ao telefone) Vai, tem lugar sim.
- Não tem.
- (ao telefone) Tem...
- Simone não cabe mais ninguém na casa...
- (ao telefone) Claro que cabe.
- Não cabe.
- (ao telefone) Cabe sim, pode ficar tranquila.
- Não fala isso.
- (ao telefone) A gente da um jeito. Se aperta.
- Já ta apertado.
- (ao telefone) Casa de praia é igual coração de mãe né.
- Vou acabar enfartando.
- (ao telefone) E outra, ninguém vai para praia para dormir.
- Eu vou.
- (ao telefone) Vamos pra curtir. Já dormimos o ano inteiro.
- Eu não durmo, trabalho, quero dormir na praia.
- (ao telefone) Quem quiser dormir que fique em casa.
- Com quem você está falando?
- (ao telefone) Vai com a gente, o Patricio não liga.
O marido está em pé, falando não, mimicamente falando.
- (ao telefone) Ele que deu a idéia. Se você não for com a gente ele vai achar que é algo contra ele.
Ela ignora o homem bate os braços na sua frente.
- (ao telefone) Então ta combinado, pode ficar tranquila que sem pular as ondinhas você não fica... não... não... claro, lógico que pode levar o gato.
O marido desiste. Senta ao lado da mulher, bravo.
- (ao telefone) Ta bom, vou desligar e ir preparar a janta porque tem alguém de cara feia aqui na minha frente, acho que é fome... não, não tem que agradecer... Beijo. Tchau, tchau...
Desliga o telefone.
- Com quem é que você estava falando?
- Você não conhece.
Levanta e vai para a cozinha.

----------------------------------------

Marido e mulher estão jantando.
- Passa o sal.
Ela passa.
- Comprei as malas para a viagem.
Ele fica em silencio.
- Então, tenho que te falar uma coisa...
- O que foi?
- Eu não vou poder viajar com você.
- Como assim não vai poder viajar comigo?
- Não vou poder...
- Mas não tem como não poder, as passagens já estão compradas.
- Eu não vou ter férias.
- não vai ter férias?, mas como, estamos planejando viajar juntos desde o começo do ano.
- Pois é, mas não vou ter.
- Por quê?
- Porque vendi a minhas férias.
- Não acredito nisso, pode devolver o dinheiro, falar para o seu chefe que se arrependeu.
- Mas eu não vendi para o meu chefe.
- Oi?
- Não, vendi pro meu colega de trabalho.
- colega de trabalho?
- É. O Milton da contabilidade.
- Então vocês trocaram, ele vai pegar no seu lugar.
- Não, ele comprou as minhas férias.
- não to entendendo.
- Ele vai viajar com você.
- Viajar comigo?
- Sim, ele comprou as minhas férias, mas não tinha o que fazer então eu falei que tinha uma passagem comprada para o fora e ele comprou de mim.
- Mas e eu?
- Vai com ele.
- E você?
- Eu me viro.
Silencio.
- Passa o arroz.
Ela passa.

- Eu tava precisando desse dinheiro. E outra férias a gente tira todo ano e só serve para dar gasto.

Um comentário: