Já na cama,
se arrumando pra ir dormir.
- e ai amor,
já decidiu onde vamos passar as férias esse ano?
- Sabe que eu
tava pensando, queria passar um tempo em casa.
- Como assim?
- Todas as
férias a gente viaja, fica pra lá e pra cá e eu acabo nem descansando.
- Não to
entendendo.
- A gente tem
tanta coisa em casa. trabalhamos um bocado pra conseguir a casa do jeito que queríamos,
mobiliamos com o bom e o melhor, gastamos tudo pra deixar tudo do nosso
jeitinho e não aproveitamos nada. Ficamos o dia inteiro trabalhando, saímos jantar,
só dormimos em casa praticamente, acabamos não aproveitando nada.
A mulher fica
em silencio ouvindo.
- Temos que
aproveitar mais o nosso espaço. Usufruir do que corremos atrás para conseguir.
Ela segue
olhando para ele.
- Nosso condomínio
tem tanta coisa, piscina, academia, parquinho, quadras, bibiblioteca... tudo, e
quando usamos? Nunca! Pagamos por isso. E não usamos, porque, por causa do
trabalho e estar sempre na rua. Isso é um descaso, quantas pessoas não queriam
ter o tanto de coisa que nós temos acesso? Muitas. E nós temos, mas não aproveitamos.
Enfiam acho que deveríamos ficar em casa nessas férias e aproveitar todas essas
oportunidades.
Os dois fazem
silencio. O marido desliga o abajur do seu lado e fecha os olhos. A mulher fica
parada na mesma posição.
Silencio.
O marido não
se aguenta. Liga a luz e senta.
- Ok, vamos
fazer uma viagem simples, poucos dias, hotel barato, só pra não passar em
branco.
A mulher sorri.
Balança a cabeça. Desliga a luz do abajur do seu lado da cama e se deita. O marido
também.
Silencio.
- Aproveitar
mais a decoração da casa.
Silencio.
- Vai que
cola.
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O marido
chega em casa a mulher está ao telefone, enquanto assiste televisão e lixa as
unhas do pé. Ele senta, pega o controle, troca de canal, ela afasta o telefone
da boca.
- Eu to
assistindo.
Ele só olha
para ela.
- Não, não
era com você não – volta a falar ao telefone – era com o Patricio que chegou...
– afasta o telefone e fala com ele – ela ta te mandando um beijo.
- Quem é?
- Ele mandou
outro – de volta no telefone – Então, e ai, já sabe onde vai pular as ondinhas
de ano novo?... como assim não vai?... Não conseguiu casa?... não... não... Ta,
mas não pode deixar de pular. Quer estragar seu ano?
O marido mexe
no celular.
- (ao
telefone) Não, não, não, vocês vão com a gente.
O marido para
de mexer no celular.
- Quem é?
- (ao
telefone) Vai, tem lugar sim.
- Não tem.
- (ao
telefone) Tem...
- Simone não
cabe mais ninguém na casa...
- (ao
telefone) Claro que cabe.
- Não cabe.
- (ao
telefone) Cabe sim, pode ficar tranquila.
- Não fala
isso.
- (ao
telefone) A gente da um jeito. Se aperta.
- Já ta
apertado.
- (ao
telefone) Casa de praia é igual coração de mãe né.
- Vou acabar
enfartando.
- (ao
telefone) E outra, ninguém vai para praia para dormir.
- Eu vou.
- (ao
telefone) Vamos pra curtir. Já dormimos o ano inteiro.
- Eu não
durmo, trabalho, quero dormir na praia.
- (ao
telefone) Quem quiser dormir que fique em casa.
- Com quem
você está falando?
- (ao
telefone) Vai com a gente, o Patricio não liga.
O marido está
em pé, falando não, mimicamente falando.
- (ao
telefone) Ele que deu a idéia. Se você não for com a gente ele vai achar que é
algo contra ele.
Ela ignora o
homem bate os braços na sua frente.
- (ao
telefone) Então ta combinado, pode ficar tranquila que sem pular as ondinhas
você não fica... não... não... claro, lógico que pode levar o gato.
O marido
desiste. Senta ao lado da mulher, bravo.
- (ao
telefone) Ta bom, vou desligar e ir preparar a janta porque tem alguém de cara
feia aqui na minha frente, acho que é fome... não, não tem que agradecer...
Beijo. Tchau, tchau...
Desliga o
telefone.
- Com quem é
que você estava falando?
- Você não
conhece.
Levanta e vai
para a cozinha.
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Marido e
mulher estão jantando.
- Passa o
sal.
Ela passa.
- Comprei as
malas para a viagem.
Ele fica em
silencio.
- Então,
tenho que te falar uma coisa...
- O que foi?
- Eu não vou
poder viajar com você.
- Como assim
não vai poder viajar comigo?
- Não vou
poder...
- Mas não tem
como não poder, as passagens já estão compradas.
- Eu não vou
ter férias.
- não vai ter
férias?, mas como, estamos planejando viajar juntos desde o começo do ano.
- Pois é, mas
não vou ter.
- Por quê?
- Porque
vendi a minhas férias.
- Não
acredito nisso, pode devolver o dinheiro, falar para o seu chefe que se
arrependeu.
- Mas eu não
vendi para o meu chefe.
- Oi?
- Não, vendi
pro meu colega de trabalho.
- colega de
trabalho?
- É. O Milton
da contabilidade.
- Então vocês
trocaram, ele vai pegar no seu lugar.
- Não, ele
comprou as minhas férias.
- não to
entendendo.
- Ele vai
viajar com você.
- Viajar
comigo?
- Sim, ele
comprou as minhas férias, mas não tinha o que fazer então eu falei que tinha
uma passagem comprada para o fora e ele comprou de mim.
- Mas e eu?
- Vai com
ele.
- E você?
- Eu me viro.
Silencio.
- Passa o
arroz.
Ela passa.
- Eu tava
precisando desse dinheiro. E outra férias a gente tira todo ano e só serve para
dar gasto.
Muito bom.
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