- Pai, lembra que o senhor falou que se eu passasse no
vestibular iria me dar um carro?
- Sim.
- Então, eu passei.
- Sério.
- Sim.
- Não acredito filho.
- Verdade, tava mantendo segredo, esperando sair o
resultado para o senhor não criar expectativa.
- Que alegria, espera só a sua mãe saber.
- Que bom que o senhor ficou feliz pai, eu sabia que
ficaria.
Os dois se abraçam.
- Que carro que o pai vai me dar?
- Um carro, bom, alias, você pode escolher.
- sério?
- Sim. Mas não vai escolher um muito caro.
- Nossa pai, nem acredito.
- Nem eu, você é tão burro.
- Oi?
- Nada. Mas e ai, pra o que você passou?
- administração. Nossa, nem acredito que eu vou poder
escolher o carro que eu quero.
- Pera aí, administração, pensando bem acho que eu vou
escolher o carro pra você.
- Como assim.
- Você passou em que lugar?
- Não me lembro.
- Qual a colocação Rafael?
- centésimo sexto.
- Acho que é melhor pegarmos um semi-novo.
- Mas pai...
- Só um momento, centésimo sexto é segunda chamada,
né?
Silencio.
- Acho que é melhor comprarmos uma bicicleta, não acho
que o mundo precisa de mais um carro. Bicicleta é o “automóvel” do futuro.
Bicicleta é o novo carro.
- Mas o senhor prometeu.
- verdade, verdade. Desculpa. Vamos comprar o carro.
- sério?
- sim.
- Nossa, obrigado pai, juro que não vou escolher um
muito caro, vou pegar um bem simples, pra não ficar pesada a parcela do carro
mais a mensalidade da faculdade.
- você passou vestibular, de uma universidade
particular?
- Sim.
- Sai daqui antes que eu te bata.
- Mas...
- Sai.
E não fala nada pra sua mãe.
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O
sinal do semáforo esta vermelho. O homem para o carro, um rapaz todo pintado
se, com as roupas estropiadas se aproxima do carro.
- Tudo
bem, uma moedinha para ajudar um calouro.
O homem
remexe no porta trecos do carro a procura de uma moeda. Chega um segundo homem
também com as roupas surradas.
- Opa,
ajuda com uma moedinha ai patrão.
-
Desculpa, é que ele pediu primeiro.
- Ta,
mas ele aqui é meu ponto.
- Não,
eu não sou mendigo não.
-
Então você não precisa do dinheiro. Pode dar pra mim tio.
- Ta,
mas eu cheguei primeiro.
- Mas
você acabou de falar que não é mendigo.
- Mas
também estou pedindo.
- Vai
pedir em outro lugar, aqui é meu território. Eu não vou no quintal da sua casa
pedir as coisas.
- Mas
aqui é a rua
- Sim,
é meu quintal.
O
motorista acompanha a discussão enquanto procura moedas.
- Eu
preciso desse dinheiro para dar pros veteranos.
- E eu
preciso para comer.
- Que
comer o quê? Você vai é beber, usar drogas.
- Ei
pera aí, agora todo mendigo é bebado e drogado?, não é bem assim não.
O sinal
já abriu, mas o motorista nem vê, esta prestando atenção na briga. E procurando
a moeda. Ele sabe que deve ter alguma em algum lugar.
- Ah
não?! Você está aqui por opção.
- Não,
porque eu não tive as mesmas oportunidade que você, playboy.
- Como
não teve? Existe vestibular para faculdades estaduais, federais, etc.
- Ah,
eu não sabia que dava para fazer vestibular tendo parado na quarta série. Me da
minha esmola.
-
Minha moeda.
A
policia para ao lado do carro do motorista/espectador.
-
Posso saber o que está acontecendo aqui?
- Nada
não.
O motorista
arranca com o carro. Com uma moeda de um real na mão. Devolve na bagunça.
- Olha
lá, você fez eu perder o dinheiro. Quero ver o que eu vou falar para os
veteranos.
- quero
ver o que eu vou falar para minha mulher.
- Você
tem mulher.
- Mas
como você é preconceituoso.
Fecha o
semaforo os dois voltam a atividade.
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