Ele da mais uma verificada em tudo pra
ver se está tudo certo, se não deixou nada escapar, antes da chegada da esposa.
Ela chega de viagem depois de deixar o marido por uma semana em casa sozinho,
“tomando conta”. Ela nem da oi direito, vai direto para o banheiro, está
apertada.
- Oi amor?, comigo ta tudo bem sim,
também tava morrendo de saudades, a viagem foi ótima.
- Estou apertada.
Ele leva as malas dela para o quarto.
Ela grita do banheiro.
- Mario Augusto, o que é isso daqui?
Ele vai para o banheiro.
- Não sei, o que comeu no voo?
Ele abre a porta ela está apontando
para o registro do chuveiro.
- O registro...
“Puta merda o registro” – ele pensa.
- Tou falando o que está pendurado no
registro.
- você sabe muito bem, coloca isso ai ha
dez anos.
- sim, coloco, mas essa não é minha.
- vai ver é minha.
- Espero, para o seu bem, que seja.
- é sua amor.
- Não me chame de amor, não é minha.
Você trouxe mulher pra dentro dessa casa enquanto eu estive fora?
Silencio.
Ela aponta para a calcinha.
- Mario Augusto.
Ele fica em silencio.
Ela vai para o quarto.
Ele vai atrás dela.
- Me desculpa amor.
- Já falei para não me chamar de amor.
Que golpe baixo Mario Augusto.
- Desculpa.
- colocar uma mulher dentro da nossa
própria casa, no nosso quarto, na nossa cama. Até ai até que vai. Mas agora
deixar ela pendurar a calcinha no meu registro, isso já foi demais.
-----------------------------------
A mãe chega para a filha pequena.
- Filha, sei que você é novinha, não
entende muito das coisas, mas já é hora de você aprender uma coisa que a sua
bisavó ensinou para sua avó, que ensinou pra sua mãe e eu vou ensinar pra você.
A filha pequena não entende o peso do
que está para aprender.
- Sempre que tomar banho pendure a
calcinha no registro do chuveiro.
-----------------------------------
O marido está no sofá, o outro marido
senta.
- acho que a gente precisa conversar.
- Nossa.
Desliga a televisão.
- Que sério, o que houve?
- Acho que preciso de um tempo.
- Oi?
- Um tempo.
- tempo, como assim tempo.
- nos separarmos, ver se é isso mesmo
o que a gente quer, se sentimos a falta um do outro.
- Mas nós nos casamos, quando você
disse sim, achei que era isso mesmo o que queria.
- Sim, era.
- Como assim era?
- É que eu preciso pensar mais um
pouco.
- Você conheceu outra pessoa? Pode
falar. Conheceu né. O que é? Um enfermeiro, arquiteto, jogador de futebol...
ele é mais bonito que eu? Mais rico?
- Não é nada disso.
- É sim, pode falar, eu aguento.
Aguento ser trocado.
- Não, não é isso.
- O que é então?
- É por causa da cueca que você deixou
no registro do chuveiro.
- Oi?
- Isso mesmo. A cueca.
- Mas eu deixei lá para secar.
- Não, não tem como secar no banheiro,
não bate o sol lá. Só molha mais.
- Ta bom, desculpa, eu não vou fazer
mais.
- Vai, eu sei que vai, minha ex-mulher
fazia isso. Ela deixava a calcinha lá. Falei no começo do relacionamento, ela
disse a mesma coisa e não tirou, as calcinhas foram aumentando de tamanho, mas
continuavam indo para o registro. Sua cueca lá lembrou muito a calcinha dos
últimos anos de casado. Me despertou uma coisa ruim. É a história se repetindo.
- Me desculpa.
- Sabe porquê eu virei homossexual?
- como assim virou, ninguém vira, você
nasceu.
- Não, eu virei. Virei pra não ter
mais que aguentar mulher pendurando calcinha no registro do chuveiro.
Silencio.
- Minhas coisas já estão prontas. Se
puder fazer um ultimo favor pra mim.
- O quê?
- quero tomar um banho antes de ir,
pode tirar aquela cueca do registro pra eu poder ligar o chuveiro.
------------------------------------
No cabelereiro
- Já colocou a calcinha no registro?
- calcinha no registro?
- É, do banheiro, registro do
chuveiro.
- Ah!, não, não.
- há quanto tempo vocês já estão
juntos?
- vão fazer dois anos.
- Que estão morando juntos?
- Morando juntos seis meses.
- E ainda não?
- Não.
- Pelo jeito já sabemos quem manda em
casa.
- Oi? – ri nervosa. – não temos disso
em casa.
- Tem sim, você que acha que não, e
ele prefere que você continue pensando assim, pra ele é melhor. Sem calcinha no
registro.
Silencio.
- Não tem nada a ver, eu não coloquei
porque não tenho esse habito.
- “Não tenho esse habito, não tenho
esse habito”, me poupe. Não se trata de habito, se trata de mostrar quem manda.
- Será?
- Sim. Quem manda no controle da
televisão do quarto?
- ainda não temos televisão no quarto,
vamos comprar mês que vem.
- então ainda da tempo de você
reverter esse quadro.
Silencio.
Ela pega a bolsa e levanta, sem nem
terminar o que estava fazendo no cabelo.
- Pera aí, onde você vai?
- Pra casa tomar banho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário