segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todos os Santos


Ela está numa igreja, sozinha, ajoelhada, de mãos juntas, de frente pra uma imagem.
- Santo Antonio eu quero muito arranjar um marido. Me ajuda...
- Por que?
Ela da uma olhada em volta. Não vê ninguém. Fecha os olhos.
- Me da uma força.
- Porque você quer um marido?
- Quem ta falando?
- Com que você está falando?
- Santo Antonio!
- Então cacete!
Silencio.
- É o senhor mesmo?
- Não é o São Jorge!
Ela da risada, ele fica em silencio.
- Por que você quer que eu te arranje um marido.
- Por que eu quero me casar!
- A vá?!
- Não, é que eu quero muito, meu sonho desde criança era arrumar um marido.
- Isso não é sonho é pesadelo.
- Peraí o senhor não é o Santo Casamenteiro.
- Sim.
- Então por que está falando assim?
- To sendo realista. Casar da muita dor de cabeça. O homem não ajuda em casa, não quer saber de nada.
- Não mais...
- Pensa bem, no começo é legal, mas uma hora cai na rotina.
- Sim, eu sei. Mas estou preparada.
- Não, não está preparada. Ninguém ta preparado para o casamento.
- Que isso, não fala assim!
- Falo sim, falo sim porque o que vem de gente me pedir pra ajudar a arranjar marido alegando que está pronto, que é o que quer, e depois na hora da pós-venda vem reclamar que não era bem isso o que queria não é pouco.
Silencio.
- E aí o senhor vai me ajudar?
Silencio.
- Eu pago promessa, subo as escadas de joelhos...
- O que é que eu ganho com você subindo escadas de joelhos? Não faz sentido nenhum fazer isso.
- Sei lá, foi o que me veio à cabeça.
- Caramba.
- Ta bom, faço outra coisa... Mas me arruma um bom marido.
- Opa, era só um marido, agora já é um bom marido.
- Sim, quero um bom marido, atencioso, trabalhador, engraçado, que me ame do jeito que eu sou...
- É acho que você deveria procurar o Santo Expedito.

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- São Longuinho, São Longuinho, se você me ajudar a encontrar as minhas chaves eu dou três pulinhos.
- Porra só três pulinhos?
Olha em volta.
- Pelo amor de Deus, você é muito mão de vaca. Economiza até nos pulinhos.
- Amor.
- Que amor o que, não tem ninguém em casa.
Silencio.
- E aí, não vai ir procurar suas chaves?
Silencio.
- Se você acha que eu vou procurar elas por três pulinhos está muito enganado.
- Cinco?
- Poxa é só pulinho. Eu faço um trabalhão só por pulinho, que até agora eu não sei o por que, qual foi o momento que alguém estipulou isso. Eu não tenho a mínima idéia de onde eu possa trocar isso. Eu vou comprar cigarro o atendente não aceita em pulinho. Alias ninguém aceita. Vai você fazer compras e tenta pagar em pulinhos, eles quebram suas pernas.
- Eu preciso sair.
- Então vai procurar a suas chaves.
- Me ajuda aí. Eu já procurei.
- Já procurou sim, nem deve ter procurado direito. Vocês tem a mania de fazer isso, só procura onde os olhos alcançam, aí já vem apelar pra mim. Não tenho um minuto de sossego. É celular, chave, roupas.
- Desculpa.
- Não desculpo, não desculpo. To cansado disso. Toda hora me chamam. E em troca eu ganho o que? Três pulinhos.
- Ta bom, deixa que eu procuro.
- Isso mesmo. Procura. Porque eu não vou levantar a bunda daqui. Não por três pulinhos. Alias se você achar, eu dou três pulinhos. Eu to cheio deles mesmo.

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São Jorge, Santo Expedito, Santo Antonio, São Longuinho e São Pedro, estão numa mesa de bar, chega a conta.

- E aí, a conta de hoje é de quem?
- Eu paguei a ultima.
- Ih lá vem o Jorge com história.
- É verdade, eu paguei.
- Aham e também foi pra lua.
Todos dão risada menos São Jorge.
- Deixa que o Longuinho paga com pulinhos.
- Ah não ninguém aceita isso.
- É a vez do Expedito pagar.
- Minha vez?
- Ih isso aí é impossível de se conseguir do Expedito.
- Esse daí tinha que ser o Santo dos Pão Duro.
Todos na mesa dão risada.
- Nego devia rezar de mão fechada pra ele.
- Por que eu tenho que pagar?
- Por que é assim, cada um paga uma semana.
- Mas é a primeira vez que a gente vem aqui.
- Então, vai ser assim. Cada um paga uma semana. Começa por você.
- Porque o Antônio não paga?
- Por que eu to duro. Você sabe como é essa época do carnaval, ninguém ta nem aí pra casamento.
- É, carnaval é foda. Ninguém ta nem aí pra nada.
- Não pra vocês, pra mim o que chega de oração pedindo pra não chover. É difícil segurar o rojão, por isso quarta de cinzas sempre chove to com serviço acumulado.
- Pra você não é ruim também, né Jorge?!
- Por quê?
- Porque o tanto de nego que tem se atracando com dragão é brincadeira, tudo seus devotos.
Todos na mesa riem. Dessa vez, menos São Jorge.
- Muito engraçado.
- Pra mim também não é tranquilo não. O que tem de gente me azucrinando pra achar as coisas antes de ir viajar, fantasia, chaves, pior é a camisinha, bem na hora do vamos ver.
Todos riem.
- Cade Paulo?
- Foi pular carnaval.
- Aquele lá não perde um carnaval também né!
- É do bloco das nuvens, participa com os anjos que se vestem de gay.
- Depois não sabe o porquê da fama.
- E aí, como vai ser? Quem vai pagar.
- Vamos rachar.
- Eu to sem minha carteira.
- Ih o velho golpe da carteira.
- Ficou na outra calça?
- Esse é velho hein!
- É sério, não ta comigo mesmo.
- Se não for dividir igual pra todo mundo eu também não vou pagar.
- Palavras de um pão duro!
- Amém.
Todos na mesa repetem o ‘amém’. Depois riem.
- Vamos colocar na conta do patrão.
- Isso vamos colocar na conta dele.
- Olha só o olhinho do Expedito, brilhou!
- Nada a ver.
- Beleza, vamos colocar na conta do patrão.
Todos levantam da mesa. Vão se direcionando para a porta. o garçom corre atrás deles.
- Espera aí, e a conta?
- Deus lhe pague.
Falam e vão embora.

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