domingo, 10 de junho de 2012

Revelação ao contrario


- Pai, eu tenho uma coisa pra dizer pra você.
- Nossa, que sério.
Ele hesita.
- Pode fala filho, você está com algum problema. É dinheiro? Pode pedir, não precisa ficar com vergonha.
- Não, não é dinheiro.
- Então, o que foi?
- Não sei bem como falar.
- Fala logo, estou ficando preocupado.
- Ta bom, vou direto ao assunto: eu sou hetero.
- Oi?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Não acredito.
- Sou heterossexual, gosto de mulher.
- Não acredito, não acredito...
- Acredite pai, eu gosto de mulher. Peitos, bunda.
- Como pode dizer uma coisa dessas?
- É a verdade pai. Eu não consigo mais esconder.
- Você está doente.
- Não pai, não estou.
- Está sim. Deve ser alguma alucinação.
- Não pai, não estou, eu apenas não aguentava mais ficar preso no armário.
- Vou levar você num psicólogo.
- Eu não quero ir num psicólogo, quero ir numa psicóloga. Uma bem gostosa. Que aí eu me abro pra ele. E ela se abre...
- Olha essa boca. Veja bem o que vai falar antes de abrir a boca.
- O que? É a verdade.
- É a verdade nada. Você está sendo influenciado demais. O que eu falei sobre ficar vendo futebol, filmes de ação...
Silencio.
- Isso ia te heterorizar.
- Pai eu nasci assim.
- Não nasceu. Eu sei como você nasceu, eu tava lá, eu que te tive. Você saiu dessa barriga. – aponta a barriga. – você nem mamou nos meus peitos, quer prova maior que não gosta de mulher?
- Mas pai isso não tem nada a ver.
Pela porta entra a mãe, vinda da rua, com algumas sacolas.
- O que está acontecendo?
- Sua filha...
- Filho!
- Sua filha tem uma novidade.
- Mãe, eu sou hetero.
- Olha aí.
- Aí meu Deus. – coloca as coisas na mesa e cai mole na cadeira.
- Eu gosto de mulher.
- O que eu te disse sobre deixar ele ficar andando com aquelas mulheres. Falei que seriam uma má influencia. Mas não, ninguém me da ouvidos.
- Pai, elas não tem nada a ver com isso.
- Ah não? Então porque você começou com essa ideia da noite pro dia?
- Não foi da noite pro dia. Eu sempre fui hetero.
- Não repete isso de novo. Não repete isso de novo que eu te bato até você virar homo.
- Parem com isso. – interrompe a mãe, aos prantos.
- Pai, eu sou assim.
- Eu não quero saber. Enquanto estiver morando na minha casa, comendo da minha comida e eu pagar as contas não vou aturar filho hetero.
- Então eu vou ser obrigado a ir embora.
- Isso vai embora, vai embora. Mas pense bem, que se você acha que vai sair por aí pegar a mulherada e depois voltar pra casa, o senhor está muito enganado.
- Não, pode ficar tranquilo que eu não vou voltar. Já tenho umas mina que eu to pegando que vou me ajudar lá fora.
Sai e bate a porta. O pai fica no sofá revoltado e a mãe na mesa aos prantos.

2 comentários:

  1. Muito bom esse diálogo!!! Adorei a tirada do "sair do armário". Acredito que tem muito mais humor nessa sua caxola. Todos precisamos de um pouco mais disso na vida!!! ;) Tá no favoritos!

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