sábado, 7 de julho de 2012

São Pedro e o Curitibano


Um rapaz chega na entrada do céu, é abordado por um homem de aparentemente um quarenta anos.
- Oi, eu queria falar com o responsável.
- Ele mesmo. – responde o homem.
- São Pedro?
- Sim.
- Sério?
- É, por que?
- Sei lá, você não tem cara de São Pedro.
- Como assim não tenho cara de São Pedro? Que cara tem São Pedro?
- A mesma dos outros santos, velho, barba branca, bata.
- Ah, todos me imaginam assim, alias eu não sei por que?
- É, acho que passa mais credibilidade do que jeans e sapatenis.
- O que é que tem, jeans não tem erro, e sapatenis é uma das melhores invenções do ser humano... é um sapato misturado com um tênis.
- Ainda bem que o senhor não conheceu o crocs.
- Crocs?
- Esquece.
Silencio.
- Então, é o seguinte, o senhor é São Pedro mesmo.
- Isso.
- Então é com o senhor mesmo que eu quero falar, eu sou de Curitiba.
- Conheço Curitiba, varias coisas legais lá, museu do olho, jardim botânico, Oilman.
- É, essa mesmo.
- O que é que está acontecendo com Curitiba.
- O clima.
- O clima?
- O que o senhor tem contra os Curitibanos?
- Eu, nada, que isso, acabei de falar que sou um grande admirador do Oilman.
- Pois é, mas não é o que parece.
- Não to te entendendo.
- Vou te explicar, por que o senhor faz...
- Ãhm? – para e fica olhando para ele.
- ter as quatro estações num só dia lá?
- Eu não faço isso.
- Ah faz!
- Não faço!
- Faz!
- Não faço!
- Você quer saber mais do que eu que moro lá, e pego gripe semana sim, semana não.
Silencio.
- Sabe qual é a comida típica de Curitiba?
- Não, isso ninguém...
- Sopa e Resfenol.
- Você está exagerando.
- Ah estou exagerando?
- Sim.
- Ta bom... O senhor sabe o que é acordar, ver o sol, achar que está calor, sair sem camiseta e ter o mamilo congelado.
- Não. – São Pedro ri.
- Não ri não, quem o senhor pensa que é? O Serginho Malandro?!
São Pedro para.
- Você acha que é fácil, sair cedo com cinco blusas, levar um guarda-chuva e a tarde voltar carregando tudo por que fez calor. E no outro dia não levar nada pra não precisar ficar carregando e por um acaso naquele dia fazer frio?
- Não...
- Parece que o senhor perdeu alguma coisa lá e está brincando de ta quente, ta frio, ta quente, ta frio.
Silencio.
- Mas em todos os lugares é assim.
- Não é não, não é por que eu já viajei pra conferir. Tem lugares que é só calor, muito calor, mas só calor. Outros que faz frio, outros o clima normal, e tirando esses tem Curitiba.
Silencio.
- Os incomodados que se mudem.
- Oi?
- Isso mesmo que você ouviu! Se você não gosta do clima de Curitiba por que não se muda.
- Ah tá!
Roda a baiana.
- Você acha que eu vou deixar o lugar onde eu nasci e cresci. Uma cidade limpa, segura, onde as pessoas são educadas, não falam com você, mas são educadas, só por que você quer? Não. A culpa não é minha, é sua.
- Minha culpa não.
- Sim.
- Não é.
- É.
- Não é.
- Quem é o responsável pelo clima?
- Eu!
- Então, pronto. É culpa sua.
Silencio.
- Quando foi a ultima vez que você teve em Curitiba?
- Ah, não faz muito tempo.
Silencio, fica encarando São Pedro.
- Ei eu não cuido só de Curitiba e do Brasil, cuido do mundo todo. Você viu o que aconteceu no Japão? Sabe o pepino que foi aquilo? Então não venha me cobrar assim não.
- Venho sim, ou você quer que eu vá falar direto com o seu patrão? – olha pra cima.
- Não, não precisa disso. Acho que a gente pode resolver isso só nós, sem colocar o chefe no meio.
Silencio.
- E aí, o que você quer afinal de contas?
- Quero que o senhor de um pouco mais atenção pra Curitiba.
- Eu já fui mais presente, mas, poh, o Curitibano também não ajuda.
- É, eu sei, somos difíceis, mas aos poucos você se acostuma.
- Ta bom.
Saca o celular do bolso.
- O que você está fazendo?
- Ligando para o meu estagiário. Vou falar pra ele que vou supervisionar pessoalmente Curitiba agora.

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