domingo, 26 de janeiro de 2014

CONTROLE REMOTO

Casamentos tem a duração de um pilha num controle remoto de televisão.

Casamento é como controle remoto de televisão, não adianta você apertar os botões mais forte, tem que trocar as pilhas.

Os relacionamentos eram muito melhores antes de terem inventado a televisão com controle remoto. 

O controle remoto é a representação de quem manda na casa.
É o “anel” do senhor dos anéis, o precioso.

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O casal está deitado na cama. A mulher trocando de canal freneticamente. O marido só olhando. Após dez anos assistindo a mulher não assistindo nada, ele resolve falar.
- Eu quero terminar com você.
Ela para de zapear e olha pra ele.
- Oi?
- Eu não quero mais.
Ela troca de canal.
- Não quer mais o quê?
Troca de novo.
- Ficar com você!
- para de brincadeira, amanhã temos que acordar cedo.
Fala e volta a trocar de canal.
- Não é brincadeira. Eu não quero mais. Amanhã vou arrumar minhas coisas e ir embora.
Ela para novamente.
- você está falando sério mesmo?
- Sim.
- Você arrumou outra pessoa?
- Não. Não. nunca. Nunca te trai.
- Lucio, por favor.
- Juro, não tenho outra pessoa.
- Então por que isso agora?
Troca de canal mais três vezes só nesse meio tempo entre a pergunta e a espera da resposta.
- Porque eu não aguento mais isso.
Aponta para a televisão.
- Isso o quê?
Troca de canal.
- Isso.
- Não estou entendendo.
- Isso de você não conseguir assistir um canal só.
- Mas eu consigo. Troco nos intervalos.
- Intervalos de trinta em trinta segundo.
Ela troca de canal.
- viu?
- É porque naquele canal não estava passando nada.
- Não está passando nada ha dez anos.
- Como assim?
- Há dez anos você faz isso. Eu não aguento mais. Você aperta tanto este botão que eu tenho que trocar as pilhas uma vez por semana. Eu não quero mais isso. Eu cansei. Quero poder assistir um canal só. Não ligo pra intervalo. Eu assisto os comerciais, alias nem sei mais como funcionam.
- Nossa, pra quê tudo isso, era só você ter pedido o controle remoto.
- Eu já pedi.
- Quando?
- pedi por cinco anos, “amor, empresta o controle rapidinho”, “amor, deixa nesse canal ta passando um fil...”, e não conseguia nem terminar a frase. Mas hoje foi o limite, pra mim deu. Eu vou embora.
- Mas então fica com o controle.
- Eu não quero esse controle. Já está com a sua marca impressa. E outra eu não sei mais como usa um controle. Preciso sair, conhecer novos controles, televisores, me apegar a um canal.
- Você vai acabar com dez anos de casado por causa de um controle remoto.
- Não é o controle remoto, é o que eu perdi por não te-lo.

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- Você fica com o controle da sala eu fico com o controle do quarto.
- Não senhor, você fica com o da sala.
- Mas a TV da sala é muito maior bobinha. E tem muito mais opções de canais.
- Então, fica com ele.
- Não, mas é que eu gosto de algo menor, mais intimista.
- mas você vai passar mais tempo na sala. Dormir assistindo, dormir quando brigarmos, dormir.
- Não tem problema, eu vou respeitar que ele é seu.
- Mas eu não quero, eu quero o do quarto.
- Então não vai dar certo, porque eu também quero.
- E agora?
- Vamos ter que fazer uma guarda compartilhada.
- como assim?
- eu fico com ele segundas, quartas e sextas, você fica terça, quinta e sábados.
- Mas e domingo.
- Domingo a gente deixa num canal só.
- Fechado.
Silencio.
- Agora podemos casar.

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O homem está na sala, a mulher na cozinha.
- Amor, onde ta o controle que tava aqui.
- Ta ai.
- Não ta.
- Nos cantinhos do sofá.
- Não tá.
- Atrás da almofada.
- Não.
- Do lado da TV.
- Não.
- Vê se você não sentou em cima.
- Já vi.
- Veja de novo.
Silencio.
- Não.
Ela vai até a porta da sala.
- Nada.
- Não.
- Vamos ligar pra policia.
- Calma amor.
- Calma não. É a terceira vez que ele some só hoje.
- Temos que ter paciência. Ele é novo aqui.
- Sim, o ultimo também era, até sumir pra sempre.
- Vamos dar uma chance.
- Não, sem chance.
Cade meu celular.
- Não sei.

- Olha ai, esse controle já ta levando meu celular para o mau caminho.

Um comentário:

  1. "- Não está passando nada HÁ dez anos.
    - Como assim?
    - HÁ dez anos você faz isso."

    Para expressar tempo decorrido não se usa preposição, mas o verbo haver.

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