- mãe, por um acaso um fui adotado?
- filho, você acha que se eu pudesse
escolher, eu teria escolhido você?
- qual foi a primeira coisa que você
sentiu quando descobriu que estava gravida de mim mãe?
- enjoo.
- feliz dia das mães, mãe.
- feliz pra quem, só se for pra você.
- você é a melhor mãe do mundo.
- o que eu te disse sobre ficar
mentindo?
- deixa, um dia você vai acordar e eu
não vou estar aqui.
- a senhora está pensando em arrumar
um emprego?
- se eu for até ai encontrar, eu posso
te dar uma surra?
- pode, mas se a senhora não
encontrar, eu posso te dar uma surra?
- da onde esse chocolate?
- ganhei.
- O que eu te disse sobre não aceitar
doces de estranhos.
- mas mãe, nenhum conhecido oferece.
- mãe posso ir?
- pede pro seu pai.
- mas eu não tenho pai, fui criado só
pela senhora.
- então eu sou sua mãe e seu pai.
- então, posso ir?
- não.
- mãe, eu fui um filho planejado?
- filho, a mãe não consegue planejar
nem como vai ser o dia de amanhã, você acha mesmo que ia planejar ter tido
você?
- mãe, eu quero um irmãozinho.
- pede pro seu pai.
- não fala assim comigo, você acha que
está falando com os seus amiguinhos da rua?
- não.
- não me responda porque eu sou sua
mãe.
- mas a senhora fez uma pergunta.
- era uma pergunta retorica.
- mãe posso ir dormir na casa do
Julinho?
- hoje lá é dia de dormir na casa dos
outros?
- não é o outros, é o Julinho.
- qual é o Julinho, aquele gordinho?
- não, o Julinho é o outro.
- viu. Não.
- filho, você está treinando para virar
mendigo?
- não, por quê?
- porque esse quarto está um lixo.
- eu vou contar até três.
- posso fazer uma pergunta?
- oi?
- a senhora só aprendeu a contar até
três?
- por que eu nunca te vejo fazendo
lição de casa?
- uma porque eu não estudo, duas porque
nós moramos na rua.
- não responda sua mãe assim.
- posso ir na festa do Anderson.
- não.
- mas todo mundo vai.
- você não é todo mundo.
Silencio.
Algum tempo depois.
- vai fazer alguma coisa, todo mundo
aqui faz algo, só você que não.
- mas a senhora disse que eu não sou
todo mundo.
- filho você é um diamante.
- então por que a senhora me bate
tanto?
- estou te lapidando.
- mas mãe, todo mundo tirou nota ruim.
- se todo mundo se jogar da ponte você
também vai se jogar?
- se tiver calor.
- se você não parar eu vou te devolver
pro orfanato.
- orfanato, como assim, eu sou
adotado?
- deixa eu assistir minha novela.
- não quero ver você andando com esses
drogados.
- não são drogados, são meus amigos.
- por isso mesmo.
- não quero você andando com esses
bandidos.
- mas mãe, eles tem apenas oito anos.
- nossa...
Silencio.
- esses bandidos estão começando cada
vez mais cedo.
- não quero você andando com esses
drogados.
- eu não ando com eles.
- bom mesmo.
- eles só vem aqui, pegam as drogas e
vão embora.
- você está com cheiro de cigarro, já
falei uma vez, vou repetir, se eu te pegar fumando vou fazer você engolir o
cigarro.
- mas ai vai ser pior do que se eu
tivesse fumando.
- não, o ministério da saúde adverte
sobre não fumar, agora sobre comer não dizem nada.
- se seu pai tivesse vivo ele não
aprovaria essa sua atitude.
- mas meu pai ta vivo. Eu tava na casa
dele semana passada.
- ah é, verdade.
- leva um casaco.
- mãe, eu tou indo pra piscina.
- leva um casaco impermeável.
- mãe eu tenho duas noticias, uma boa
e uma ruim.
- qual a boa?
- a boa é que eu vou ser pai.
- meu Deus, e a ruim?
- a ruim é que você vai ser avó.
- quando você vai me dar um netinho?
- quando eu terminar o primário.
- nossa, que menino devagar.
- então ta filho, quando estiver vindo
trás pão.
- mas mãe eu estou no estados unidos e
só volto mês que vem?
- e dai, eles vão parar de fazer pão
mês que vem?
- se você apanhar na rua apanha quando
chegar em casa.
- e se eu bater?
- apanha por estar brigando na rua.
- qual foi o momento em que eu mais te
fiz feliz mãe?
- o momento em que você anuncio que
tinha entrado na faculdade e estava indo morar sozinho.
- mas eu nunca fiz isso.
- ah não?
- não.
- então não tem nenhum. Sabia que era
muito bom pra ser verdade.
- mãe, hoje a senhora não precisa
lavar a louça, varrer a casa, não precisa fazer nada. É o seu dia.
- sério, nossa filho.
- sério, deixa pra fazer isso amanhã.
- mãe, eu sou o maior presente que
Deus te deu?
- não, meu chevette é.
Tu é baita escrevendo sobre mães
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