sábado, 3 de maio de 2014

PILULAS: TERAPIA

- você sofre de mania de grandeza.
- você não, o senhor.


- Tenho medo de enfrentar meus medos.
- quais são medos?
- tenho medo de falar.


- o senhor tem algum tipo de fobia.
- aquela de medo lugares apertados.
- transportecoletivofobia?


- eu pago pro senhor me ouvir. Quanto você cobraria o pacote pra escutar minha mulher.


- o senhor sofre de cleptomania. Vou te receitar um remédio.
Silencio.
- pode devolver minha caneta pra eu escrever a receita?


- você é apaixonado pela sua mãe. Tem Édipo.
- mas eu sou órfão.
- então é pior do que eu imaginava.


- você tem síndrome de Edipo.
- mas eu sou homossexual.
- você tem síndrome de Edipo mas pelo seu pai.


- antes de começar temos que voltar lá atrás.
- poxa eu não vou voltar pra sala de espera de novo.


- você precisa fazer uma viagem ao seu passado.
- o senhor aceita em milhas?


- vamos ter que pensar qual a raiz do problema.
- droga, sabia que um dia eu ainda iria usar raiz quadrada.


- calma, a vida é mais fácil do que parece.
- mais fácil pro senhor que ganha maior grana pra ficar sem fazer nada.


- você já fez regressão?
- não, só digestão.


- você tem um problema sério com a sua .
- porra o senhor andou falando com a minha mãe, essa velha se intromete em tudo.


- e ai o que o médico disse que ele tem?
- sofre da síndrome de Édipo pela mãe dos outros.


- acho que você devia fazer analise.
- quem você acha que é pra achar isso?
- analista. Pega meu cartão.


- eu fumo maconha porque o meu analista disse que é bom pra eu relaxar.
- quem é o seu analista o Bob Marley?


- eu não consigo dormir a noite, por isso vim fazer analise, o que o senhor receita?
- arrumar um emprego.


- pelo visto a analise tem feito bem para o seu sono né.
- o senhor acha?
- sim, é só você deitar no divã que já dorme.


- o primeiro passo para se curar é aceitar que está doente.
- ufa, ainda bem que eu não tenho nada.


- as vezes estou no quarto e ouço vozes.
- vozes?
- sim, de pessoas chamando por mim, batendo palma, gritando meu nome.
- quando isso acontece?
- quando estou dormindo. Sempre quando eu tou dormindo, de repente começa um, Maicon, Maicon, acorda que você está atrasado.


- você tem que aprender a controlar seu ciúmes, ele não pode te dominar.
- quem mandou você dizer isso, meu namorado?


- você sofre de mania de perseguição.
- não sofro.
- oi?
- não sofro de mania de perseguição.
Silencio.
- pode falar alto, não tem ninguém atrás da porta é um cabideiro.


- acho que devíamos fazer terapia de casal.
- mas somos amantes.
- então deveríamos fazer terapia de amantes.


- eu e meu marido começamos a fazer terapia de casal.
- sério, que legal, como foi?
- foi o de sempre, a gente discutindo na frente dos outros, mas com a diferença que estávamos pagando pra isso.


- depois que eu comecei a fazer terapia tenho me sentido tão mais leve.
- falei que seu mal era consciência pesada.


- o que você fala pra mim não sai dessa sala.
- isso era o que a minha ex-mulher me dizia.


- você tem um serio problema com a mentira.
- mentira?!


- você sofre de transtorno alimentar.
- esse papo está me dando uma fome.


- amor, acabei de sair do meu analista e tenho duas noticias, uma boa e uma ruim.
- quais são?
- a boa é que eu não tenho anorexia.
- nossa, que bom amor, e qual é a ruim?
- a ruim é que eu to gravida, o vomito não era por causa do transtorno.


- meus pais abusavam de mim quando era criança.
- fale me mais sobre isso.
- eles me colocavam pra arrumar o quarto, varrer a casa, lavar a louça, etc.


- você é um mentiroso compulsivo.
- eu se você não falaria assim com o Batman.


- você sofre de depressão.
- não sofro não, não sofro... – sai da sala chorando.


- doutor, eu estou feliz, essa semana consegui controlar meu ciúmes.
- sério? Meus parabéns, como foi?
- eu estava desconfiando que o Edgar estava me traindo, porque ele chegou três minutos mais tarde do que o de costume, então eu pensei, poxa são só três minutos, ele não fez nada. Então eu larguei a faca, tirei o saco da cabeça dele, o desamarrei e dei um banho nele.


- você contou até dez como te ensinei?
- contei.
- e ai?
- ai só depois que eu contei que eu atirei.


- quando você estiver nervosa respire fundo.
- e parta pra cima dele?


- se conselho fosse bom eu não dava.
- por isso o senhor é analista e cobra.
- exatamente.


- acho que você não precisa mais fazer analise. Já se recuperou bem, está forte, consegue lidar com os problemas.
- o senhor está terminando comigo doutor, não acredito. – começa a chorar.


- por que ao invés de terminarmos não fazermos analise.
- deixa que eu faço uma analise: é não da mais certo mesmo. Ponto.


- qual é a diferença entre o psicanalista e o psiquiatra?
- um numero de “hum é mesmo” que um e o outro fala.


- bem vamos ter que ir lá no seu passado.
- tudo bem, só não repara a bagunça.


- seu médico te passou alguma receita boa?
- sim, uma de pudim de pão.


- meu marido é psicanalista.
- nossa, sério? Ele deve te ouvir muito.
- sim e por ser mulher cobra mais barato por hora.


- nossa, seu marido é terapeuta e cobra pra te ouvir?
- sim, e eu cobro pra transar com ele. Negocios são negócios.


- por que você está com essa fita isolante na boca?
Tira a fita isolante.

- foi meu terapeuta que receitou, é um tarja preta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário